Por que iniciei este texto?
Porque gostaria de escrever um pouco mais sobre o louco mundo imaginado por PKD...
Infelizmente a vontade é maior do que a competência... Paciência.
(...)
Demorou, mas chegamos ao
fim de Androides sonham com ovelhas
elétricas?.
P.K. Dick tinha razão... Aqueles que conhecem o filme Blade Runner apreciam o seu livro. E o
contrário também é verdadeiro.
O filme (de 1982) dirigido por Ridley Scott é considerado uma das obras
primas do cinema de ficção... O pessoal dos efeitos especiais (liderados por Douglas
Trumbull) caprichou tanto que nos sentimos transportados para a realidade
futurista...
A trilha sonora elaborada por Vangelis se encaixa com
perfeição nos cenários e situações vivenciadas pelo solitário Rick Deckard...
Por curiosidade, veja a abertura do filme de Scott... Um espetáculo!
Quem já assistiu, e revê o começo, tem dificuldade de interromper.
A leitura do texto de Dick proporciona “complementariedade”
diferenciada... Pode conferir. E o contrário também é verdadeiro.
(...)
Poderíamos escrever sobre os pontos em que o filme se diferencia do
apresentado no livro... Não são poucos...
Também é verdade que não
são muitos os filmes feitos com a intenção de reproduzir fielmente um texto
literário... Poucos resultam em satisfatórios.
Não vou discutir... Cada um
pode fazer sua análise...
(...)
Em Androides sonham com ovelhas elétricas? os
sobreviventes não têm esperança de que o mundo anteriormente conhecido se
recupere... Apesar de possuírem vários recursos possibilitados pela
engenhosidade de técnicos e cientistas, não têm como escapar da realidade do
“recomeço”...
Infelizmente o recomeço não é o da “volta à natureza” (aqui faço
referência à ficção de René Barjavel, Devastação
– ou a Volta à Natureza, 1973) simplesmente porque a Terra se tornara
inviável.
(...)
Os que sobreviveram à “Guerra
Terminus” sabiam que ela havia sido causada pelos desentendimentos políticos
das superpotências “armadas até os dentes”... Definitivamente, a destruição e o
caos resultantes não foram obras de Deus...
E tem mais: após a devastação não apareceu nenhuma
legião de anjos para dar início ao “Juízo Final”...
Tudo bem... Poderíamos pensar que o “Juízo” viria depois... Mas o certo
é que, em vez disso, a Grande Poeira cheia de venenos tornou-se fenômeno
permanente e itinerante... Assim, os viventes estão condenados ao “novo mundo”
onde não há como garantir proteção eficiente.
(...)
Ao que tudo indica, nenhuma das religiões tradicionais
sobreviveu nesse “novo mundo”... Há trechos em que vemos Deckard ou outro
personagem qualquer invocando Jesus Cristo, mas isso talvez pudesse ser
atribuído aos hábitos de antes da grande guerra.
A guerra trouxe o caos... Ela não gerou vencedores... Pelo contrário! A
natureza foi alterada para pior... As potências beligerantes tiveram de se unir
no esforço de salvar a espécie humana e o que restou dos valores de outrora.
A condição de “espécie dominante” neste mundo levou-nos à destruição do
mundo e de tudo o que há de maravilhoso nele... Algo bem triste de se imaginar,
porém cada vez menos improvável.
Na triste realidade engendrada por PKD vemos que as pessoas se apegam às
espécies animais... Elas se consideram culpadas por terem destruído aquilo que,
de alguma maneira, identificava o antigo “modo de ser” e que (aprenderam isso)
tinha sido criado por Deus.
De repente as espécies animais se tornaram muito difíceis de serem
obtidas. Ser proprietário de um animal, além de demonstrar sintonia com a
identificação passada, passou a ser motivo de prestígio social... E isso era
tão importante que a falta de animais naturais foi suprida pelas imitações
elétricas.
(...)
A ONU e os governos
incentivavam a emigração dos considerados “normais” para as colônias
espaciais... Incentivavam também a prática da fusão com Mercer que, no mínimo,
tornava as pessoas menos perturbadas com a realidade e mais afeitas à empatia.
Nem mesmo para os
humanoides a atmosfera e paisagens das colônias espaciais eram sequer
razoáveis... Para uma constatação mais detalhada basta relermos o trecho em que
Pris conversa com Isidore (em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_13.html)...
Por isso eles se rebelam e
fogem para a destruída Terra... Isso é um transtorno para os viventes... Os
caçadores de recompensa têm a função de identificá-los e eliminá-los. Essa é a
função a função de Rick Deckard.
(...)
As empresas que faturam
com a fabricação dos andys buscam aperfeiçoá-los a cada nova série e, ao mesmo
tempo em que querem evitar os incômodos que resultam em decadência para os
negócios, procuram torná-los menos identificáveis pelos caçadores de
recompensa.
E aquela fusão com Mercer? Também ela não pode ficar de fora desses últimos rabiscos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/12/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_28.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto