sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – revelações bombásticas do programa de Buster Gente Fina sobre o mercerismo; Al Jarry, velho beberrão, ator hollywoodiano de antigas produções insignificantes, fazia o papel do líder espiritual; a pequena aranha sofre com as mutilações

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/12/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_8.html antes de ler esta postagem:

Estamos no ponto em que a televisão transmite o programa bombástico do Buster Gente Fina... No Condapto 3967-C, Roy está atento à apresentação...
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Foi J.R. Isidore quem transferiu toda a tralha de Pris Stratton ao seu apartamento. Notamos o quanto ele se sentiu feliz ao constatar que era útil aos três foragidos de Marte.
Também o fato de ter capturado a pequena aranha parecia ser um sinal de que a sua sorte estivesse mudando... Mas Pris quis avaliar através de uma experiência prática se o bicho tinha mesmo necessidade das oito perninhas.
J.R. implorou sem conseguir impedir que uma delas fosse cortada pela afiada tesoura manipulada por Pris.
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Buster Gente Fina dizia que os telespectadores deviam prestar muita atenção ao “plano de fundo” exibido em um vídeo... O cenário cinzento era conhecido dos praticantes do mercerismo... Certo Earl Parameter explicava que todo o cenário onde Mercer se movia em sua escalada era artificial e confeccionado a pinceladas... Não se tratava de nenhuma cena extraterrestre ou de outra qualquer dimensão.
Enquanto o Gente Fina prosseguia com a descoberta feita por sua equipe, Pris cortava a segunda perninha da aranha... Irmgard se aproximou sugerindo que ela fosse assistir ao programa, pois o que estava sendo revelado era o que eles sempre acreditaram.
Da televisão surgiam comprovações irrefutáveis... A ampliação das imagens permitia concluir que muitos elementos do cenário eram pintados... Também “ervas daninhas e o solo árido e desalentador” eram falsificados... Tudo artificial! Até mesmo as pedras eram feitas de um plástico especial... Mercer não sofria ferimentos verdadeiros...
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Earl explicou ao Buster e ao público que sua equipe havia “rastreado” o senhor Wade Cortot, um técnico que trabalhava nos estúdios de Hollywood no passado. Cortot era especialista em efeitos especiais, e garantia que podia reconhecer o ambiente onde o cenário estava montado e, inclusive, dar o nome do cineasta que estava por trás daquela fraude.
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Para o especialista não havia a menor dúvida... E era sobre isso que o programa tratava no instante em que Pris acabava de cortar a terceira perninha da aranha... O pobre inseto se arrastava sem ter como escapar das lâminas manipuladas pela andy.
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Os olhos de Roy focavam as imagens da transmissão televisiva... Ele queria que todos prestassem atenção às revelações... Tudo indicava que eles já sabiam a respeito do que se anunciava como revelações bombásticas...
Earl estava dizendo que parte de sua equipe foi enviada a East Harmony, Indiana... Buscaram Al Jarry, um tipo que havia atuado em filmes de tempos anteriores à guerra... Jarry nunca tivera chance de aparecer em papéis de destaque... Mas como o time liderado por Earl havia feito minuciosa pesquisa a partir das informações coletadas com Cortot, logo chegaram a ele.
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Foi um dos membros da equipe que passou os detalhes da operação. Ele disse que o velho Jarry vivia numa modesta e velha casa na Lark Avenue... Aliás, naquele limite da cidade, ele era o único habitante.
Jarry recebeu o pessoal de Earl numa sala de estar repleta de bagulhos... Sua entrevista foi esclarecedora. Ele havia feito inúmeros curtas-metragens monótonos...
Esse serviço era encomenda de cliente desconhecido por ele. Mas a realidade é que o Mercer que as pessoas conheciam, e com quem se fundiam, era personagem interpretado pelo velho Al Jarry.
As pedras atiradas contra o líder espiritual eram mesmo plástico emborrachado... O sangue que escorria da entidade idolatrada nada mais era do que ketchup! O lugar de seu suplício era um “ambiente cenográfico de Hollywood, barato e ordinário, que desapareceu no bagulho há muitos anos”.
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De fato, as informações eram terríveis para os devotos do mercerismo...
Roy Baty vibrava com as revelações... Enfim, todos saberiam que o mercerismo era uma farsa!
J.R. Isidore estava abalado...
As notícias o aterrorizavam; a pobre aranha pela qual devotava empatia estava amputada e desfigurada...
Jarry, que personificava Mercer, nada mais era do que um velho beberrão de uísque... Seu sofrimento, em vez da escalada inglória colina acima, era ter de permanecer afastado do álcool por muito tempo.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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