quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

“1984”, de George Orwell - tortura científica, equipamentos modernos e coleta de dados; condução à “sala 101”, delírios desesperados; despertar aliviado pelas drogas e sensação da onipresença de O’Brien; avistando o poderoso membro do Partido Interno desde a cama à qual se encontrava atado; conversa à vista e uma alavanca para provocar agressões ao organismo

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/12/1984-de-george-orwell-substancias.html antes de ler esta postagem:

Antes de ser encaminhado à sala onde estavam O’Brien e o tipo de avental branco, Winston ainda passou por uma cela sem que pudesse concluir a respeito da iluminação local... Não sabia se o ambiente era claro ou escuro, pois tudo o que podia enxergar eram dois olhos que o fitavam bem de perto e que aumentavam assustadoramente de acordo com sua luminosidade. Percebia que a cela era dotada de um aparelho que provavelmente apontava certos dados referentes ao seu estado físico.
Pôde sentir que o desprenderam... Em sua paranoia via-se mergulhando nos grandes olhos que o intimidavam. Na sequência, percebeu-se preso a uma cadeira e cercado por vários aparelhos dotados de visores que apontavam diversas informações certamente sobre suas condições físicas. Um especialista verificava os mostradores e registrava dados específicos em planilhas, quando a porta se abriu e o jovem oficial entrou com suas pesadas botas... Este trazia dois guardas e foi anunciando que o detento devia ser levado à sala 101.
(...)
O especialista em seu avental branco continuou a atualizar suas planilhas e sequer virou-se para Winston... Na sequência o rapaz sentiu que estava sendo conduzido por um longo corredor de potente iluminação.
Seu estado mental era simplesmente deplorável. Certamente estava preso a uma maca e a agitação interior o levava a gritar e a gargalhar tresloucadamente. De tempos em tempo soltava confissões que não pronunciara durante as sessões de tortura.
A maca deslizava pelo corredor e enquanto não chegava à misteriosa e temida sala, Winston falava sobre sua vida... Imaginava que entre os tipos que riam a valer enquanto o seguiam estavam O’Brien, Júlia e até o Senhor Charrington.
(...)
Despertou do último trauma evidentemente sem saber quantos e quais tipos de suplício sofreu... As drogas que injetavam em seu organismo impediam qualquer percepção razoável acerca dos cenários, agentes ou de noção temporal...
O que haviam feito com ele no intervalo de tempo entre sua louca passagem pelos corredores e o despertar na sala em que estava O’Brien? Jamais saberia. A única certeza que tinha era a de que pelo menos no momento já não sentia dores terríveis, e até podia dizer que “estava tudo ótimo”. Ouviu a voz de O’Brien... Uma tímida convicção de que o tipo do Partido Interno estivera presente em todas as fases de seu interrogatório e tortura o invadira. É claro que não podia admitir conscientemente que o tivesse visto, mas entendia que era ele que a tudo orientava.
Desse modo, O’Brien teria ordenado os ataques físicos e a utilização dos expedientes de tortura. Também teria impedido que o matassem... O aumento da repressão ou sua diminuição eram decididos por ele, que resolvia ainda se deviam alimentá-lo, se podia dormir e em que momento deviam aplicar-lhe as injeções. No teatro das operações inquiridoras, o tipo podia ser confundido como “o protetor, o inquisidor, o amigo”.
De fato, em certa ocasião, enquanto dormia (ou estava em estado de total entorpecimento) Winston pareceu ouvi-lo murmurar palavras de conforto junto ao seu ouvido: "Não te preocupes, Winston; estás sob minha guarda. Há sete anos que te vigio. Agora chegou o grande momento. Eu te salvarei, eu te farei perfeito." Não podia ter certeza de que fosse O’Brien, além disso as muitas injeções provocavam diferentes alucinações.
De qualquer modo, entendia que a voz era a mesma de há sete anos que havia anunciado que tornariam a se encontrar “onde não há treva”.
(...)
Como sempre ocorria, não tinha a menor condição de se lembrar do último interrogatório. Todavia o seu despertar em “melhor condição” possibilitou que estimasse o que havia acontecido na sequência... Experimentou novo intervalo de “escuridão total” e depois “a cela, ou sala, onde estava, materializou-se lentamente em torno dele”.
Novamente percebeu-se impossibilitado de qualquer movimento... Estava deitado na cama e preso a ela em vários pontos, inclusive a cabeça. O’Brien se aproximou e Winston pôde perceber a gravidade e até “certa tristeza” em sua fisionomia:

                   “Visto de baixo, seu rosto parecia tosco e gasto, olhos empapuçados, rugas cansadas do nariz ao queixo. Era mais velho do que Winston supusera; devia ter entre quarenta e oito e cinquenta anos. Tinha na mão um mostrador com uma alavanca em cima e números em volta”.

Winston não tinha qualquer ideia a respeito do que estava por vir... Ele não podia saber, mas o tipo estava ali para uma conversa intimidatória e pontuada por agressões agudas ao seu organismo a partir da manipulação do pequeno aparelho que trazia.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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