segunda-feira, 7 de outubro de 2019

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – ainda sobre a conquista do direito do divórcio entre as sociedades revolucionárias; considerações de Thomas Jefferson; busca da felicidade como premissa para o divórcio (também) das colônias em relação à metrópole; ideias de Francis Hutcheson sobre “simpatia” enquanto “sentimento de solidariedade que levaria as pessoas a praticarem o bem comum; sobre “Teoria dos sentimentos morais”, de Adam Smith

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/10/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_6.html antes de ler esta postagem:

Thomas Jefferson redigiu notas entre 1771 e 1772. Algumas delas faziam referências ao divórcio. Lynn Hunt se detém mais especificamente sobre um determinado caso e esclarece que suas reflexões relacionavam o divórcio à questão dos direitos naturais. Para ele, a possibilidade de se divorciar devolvia “às mulheres o seu direito natural de igualdade”.
O raciocínio era simples... Os casamentos que resultavam de consentimento mútuo podiam perfeitamente ser desfeitos no caso de uma das partes “quebrar o acordo”. E mais: levando-se em consideração a legitimidade do divórcio, assegurava-se a “liberdade de afeição” como direito natural. Tanto a solidez da união como o apelo ao divórcio faziam sentido na medida em que as duas situações se relacionavam à “busca da felicidade” que, como sabemos, tem destaque na “Declaração de Independência”...
Jefferson argumentava que “a finalidade do casamento é a reprodução e a busca da felicidade”... Esse direito de buscarmos a felicidade inclui necessariamente o direito ao divórcio... Certamente não foi por acaso que em 1776 ele fez referências a “um divórcio entre as colônias americanas e a Grã-Bretanha”.
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A ideia de que as pessoas possuem direitos e de que todos devem ter sua autonomia respeitada certamente provocou expectativas em torno de uma nova sociedade... A partir daí surgia a questão elementar sobre o tipo de indivíduo que dela participaria. Uma coisa era a moralidade imposta pelas autoridades religiosas e pela Escritura, outra bem diferente seria aquela “derivada da razão humana”...
Esperava-se que os indivíduos que exercitassem sua autonomia se orientassem a partir do “bem comum”... Não faltaria quem insistisse no princípio de que a ordem estabelecida pela “obediência cega” tem sempre a vantagem de ser menos imprevisível.
De acordo com Lynn Hunt, filósofos escoceses refletiram sobre a comunidade dos civis (os seculares) e trataram da temática exposta no parágrafo anterior, objeto central de sua obra... A “resposta filosófica” que apresentavam repercutia a “empatia ensinada pelo romance”.
A autora explica que o termo “empatia” data do século passado e que os filósofos faziam referência a “Simpatia”, que talvez não seja o mais adequado para expressar o sentimento de igualdade, já que comumente é entendida como “piedade” e “condescendência”.
Durante o século XVIII, “Simpatia” era termo de significados mais amplos. Para o teólogo e professor Francis Hutcheson, tratava-se de uma “faculdade moral” abaixo apenas da consciência. A simpatia seria o que torna a vida em sociedade possível, pois ela pode ser entendida também como o “sentimento da solidariedade”. Esse sentimento possibilitaria às pessoas o exercício de subtraírem-se de seus anteriores. Isso as levaria a reconhecerem que apenas a “autossatisfação” não poderia levá-las à felicidade ou realização plena.
Ao partilharmos com os nossos semelhantes os nossos prazeres, conquistas e satisfações, sentimos que eles se tornam ainda mais intensos para nós... O próprio Hutcheson dizia que a simpatia contagia (é uma espécie de “infecção”) e proporciona essa boa sensação.
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Adam Smith, reconhecido por sua publicação de 1776, “A riqueza das nações”, foi aluno de Hutcheson e, inspirado por ele, escreveu, a propósito da simpatia, “Teoria dos sentimentos morais” (obra de 1759).
Smith escreveu sobre como a simpatia atua em nossa consciência e modo de ser... Para isso fez referências ao processo da tortura, que nos leva a sentir compaixão pelos que padecem... Essa experiência só é possível porque nos identificamos com o sofrimento alheio, e isso ocorre “por meio de nossa imaginação”. E é como se entrássemos no corpo do supliciado e, assim “nos tornamos em alguma medida ele próprio”.
Daí a nos tornarmos indivíduos morais, depende de compreendermos que também podemos nos tornar (e aceitar que podemos ser) o alvo da “identificação imaginativa” dos outros. Isso nos leva a desenvolver o “espectador imparcial” em nosso interior (uma espécie de “bússola moral”). A autonomia possibilita o desenvolvimento desse “espectador imparcial” interior, todavia isso só se processa se nos identificamos com os demais. Por isso, de acordo com Adam Smith, “autonomia” e “simpatia” caminham juntas.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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