O doutor Cláudio retornou à sua pacata cidade... Como não podia deixar de ser, tudo prosseguiu como o costumeiro. O único senão era a incômoda presença do detetive Sinclair, que continuava investigando o desaparecimento do Hippie, sobrinho da Mabel, a esposa do felizardo Vivas.
Lembrando tipos clássicos como Sherlock Holmes e o Columbo da antiga série para a televisão, Sinclair adotava um método que só podia resultar em muita irritação aos principais suspeitos. No caso, Cláudio era quem ele considerava o mais implicado. E por isso o encurralou sem dar a entender que estivesse completamente convencido. Obviamente isso ainda mais irritava ao renomado advogado.
(...)
O detetive chileno o procurou... Primeiro sustentou que o
mistério estava sendo solucionado... Depois insistiu com o advogado que
precisava fazer um passeio com ele. Disse que gostaria que o levasse pela
estrada que passa pelo deserto. Cláudio desconversou e garantiu que não havia
nenhum atrativo na localidade, mas Sinclair foi taxativo e mais uma vez
insistiu que era para o deserto que precisava ir com o doutor, afinal faltava
pouco para concluir o caso do Hippie.
A persistência do investigador era mesmo de
incomodar... Ainda mais ao Cláudio que sabia de sua culpa, e tudo indicava que
o Sinclair havia descoberto toda a trama.
(...)
O
doutor pediu para Sinclair aguardá-lo... Deu a desculpa de que precisava se
arrumar e apartou-se do tira. Depois fechou a porta do escritório e tirou uma
arma da gaveta, guardando-a no bolso do paletó.
É claro que Cláudio concluiu que deveria assassinar
Sinclair. Entendeu que o caso renderia um processo. Poderia se defender, mas
sua condição de notória personalidade seria abalada... E o que dizer da relação
com Vivas e Mabel? E como reagiria Susana?
Sim.
Chegara a uma situação em que não podia vacilar. Não havia retorno...
Certamente pensava em tudo isso enquanto dirigia. Assim que o outro pedisse
para parar o carro, resolveria de uma vez por todas o seu drama pessoal.
(...)
Demorou,
mas Sinclair pediu e o doutor saiu da estrada para parar o veículo... O
investigador esperou que se afastassem consideravelmente da cidade, mas o sítio
escolhido foi aleatório... Queria conversar com o suspeito.
Ele disse que sabia que o rapaz estava morto... E sabia
que Cláudio o transportara para o deserto. Ao primeiro movimento da mão do
doutor na direção do bolso, Sinclair já entendeu suas intenções e pediu que lhe
entregasse a arma.
Explicou que Cláudio era muito conhecido e respeitado na
cidade... Obviamente, durante a investigação, várias testemunhas relataram
sobre os episódios do restaurante... Sabia-se que o Hippie o aguardara na saída
e que houve tiros... Também o pessoal do hospital local dera informações sobre
sua visita. Era evidente que o moço tinha sido ferido, todavia não deu entrada
em nenhum hospital de cidades vizinhas. Para Sinclair estava claro que foi Cláudio
quem deu um fim ao Hippie. Muito provavelmente o abandonara em algum ponto
daquele imenso deserto. Mais do que isso não podia afirmar...
Ouvir todas aquelas evidências foi demais para Cláudio...
Aos prantos tentou se justificar dizendo que o rapaz o agredira no restaurante
e também na saída. Disse também que o Hippie atentou contra a própria vida, mas
foi interrompido por Sinclair que estranhou o choro. Na sequência, o detetive
passou a proferir um emocionado discurso sobre as aberrações que estavam
ocorrendo cada vez mais frequentemente na sociedade. Emocionado, emendou que o
futuro era algo desesperador... Que tipo de realidade viveriam, sem Deus e
respeito aos semelhantes?
Por
fim, esclareceu que estava de partida para o Chile... Nenhum processo seria
aberto... O Hippie se tornaria um número entre outros tantos cidadãos que
estavam desaparecendo sem qualquer certidão oficial.
(...)
Chegamos ao final...
Sinclair retornou ao seu país, onde certamente a sociedade
vinha vivenciando atrocidades semelhantes às do país vizinho. Afinal, em 1973
ocorreu o golpe militar no Chile...
Vemos
Cláudio em sua casa... Susana está acabando de se arrumar e pede ao marido que
faça o mesmo, pois a noite era de estreia do balé de Paula. O doutor estava
pensativo em sua cama... Talvez refletisse sobre o desfecho do caso investigado
e também sobre as últimas palavras do detetive Sinclair.
Não mencionamos aqui... Cláudio era careca... Trata-se
do tipo que aparece na “colagem” dessas postagens. Assim que se levantou, se
vestiu elegantemente e resolveu colocar uma peruca. Trata-se de um Cláudio “transformado”,
envergonhado ou apenas “disfarçado”?
(...)
Antes
de o espetáculo começar, a professora dos bailarinos fez um breve discurso
sobre a divisão que passou a macular a sociedade... Por motivações políticas, “irmãos
vinham perseguindo e eliminando uns aos outros”... A apresentação que
assistiriam tinha uma mensagem de união e tolerância.
Alguém na plateia comentou ao ouvido do Claudio “emperucado”
que um golpe de Estado estava sendo tramado.
(...)
Essa foi a última postagem sobre “Vermelho Sol”, filme
dirigido por Benjamim Naishtat.
Assista ao filme, reflita sobre o enredo, tire suas
conclusões e confronte-as com as que aqui foram expostas.
Indicação (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto