Ainda sobre a “coletiva” do interventor após receber os artistas cowboys norte-americanos...
O repórter perguntou-lhe se conhecia a opinião do povo a respeito das mudanças políticas (especificamente sobre a sua intervenção na província)... Antes de responder que tinha certeza de que o povo estava feliz e aprovando as mudanças, o interventor fez duas perguntas ao jornalista: Qual o seu nome? A qual veículo de informação pertencia?
Os olhares anteciparam o constrangimento... A atmosfera já não era de liberdade.
(...)
Apesar do aperto com Sinclair, pelo menos num primeiro
momento Cláudio conseguiu afastar-se do círculo das investigações. A esposa e a
filha estranharam a ideia da viagem, mas se puseram a caminho sem maiores traumas.Percorreram longa distância... No meio do caminho um policial fez sinal para que o motorista encostasse o veículo. Os documentos foram solicitados e logo o tira notou que Cláudio era advogado. De repente, como que numa inversão de papéis, ele perguntou se estava tudo bem e se o doutor não havia notado nada de estranho pelo caminho.
É como se o cidadão de bem pudesse contribuir com informações a respeito de tipos inconvenientes que “precisavam ser retirados da estrada”. As respostas são monossílabas, sim (faziam boa viagem) e não (nada de anormal pelo caminho; nada que os incomodasse).
Seguiram para a praia...
(...)
Vemos
Cláudio e a esposa Susana caminhando pela praia... O doutor segue em silêncio e
devemos supor que os seus pensamentos estão ocupados pelas preocupantes
revelações... Então o estranho do restaurante era um tal Hippie, sobrinho de
Mabel! Trágico.
O
amigo Vivas contratara o competente investigador chileno Sinclair, um tipo experiente,
astuto, que incomodava quando interrogava as potenciais testemunhas. Era
preciso manter-se à distância... Talvez os dias de descanso na praia o
livrassem de maiores incômodos.
Susana está indisposta... Não pode seguir na caminhada
enquanto não se aliviar num banheiro. O marido a repreende... Mas será possível
que não podem ter paz? Não podem caminhar sossegados? Sugere a ela que se vire,
que procure alguma moita. Sua agressividade só não é maior do que a necessidade
que ela tem de um banheiro, por isso a vemos se afastar em busca de um ambiente
mais isolado e camuflado por qualquer vegetação.
(...)
No momento mesmo em que Susana se afasta, as pessoas que
estavam na praia começam a se preparar para observar um eclipse... Há os
banhistas e outros tipos que para lá se dirigiram especialmente para contemplar
o fenômeno. Alguns deles parecem especialistas e dão orientações aos demais...
É preciso usar os óculos especiais!
Aos poucos a esfera lunar esconde o sol... A estrela se
torna avermelhada bem como toda a paisagem ao redor. Um espetáculo!
Certamente
Susana estava constrangida quando se retirou do sítio camuflado que encontrou
para usar como latrina... Desnorteada, e em meio à “vermelhidão” da atmosfera,
a vemos sair da vegetação rasa... Bem perto está um tipo.
Não sabemos o que ocorre na sequência... A cena é cortada
abruptamente.
(...)
Alguém aí poderia dizer que a edição é malfeita, já
que na sequência a mulher aparece ao lado do marido... Nenhum comentário ou
sinal de que ela tivesse sido vítima de qualquer violência.
Nada
é por acaso... O sol vermelho do eclipse pode perfeitamente ser uma referência
ao da bandeira do país, que vinha sendo ofuscado pelas perturbações sociais. O vermelho
lembra o sangue de argentinos vitimados por violências políticas... Ou por
violências como a que Susana pode ter sofrido há pouco.
Quem
era aquele tipo? O que significa a sua aparição? Teria feito algum mal à
mulher?
Nenhuma dessas questões tem resposta. São dúvidas podem
ser direcionadas às reflexões sobre o momento de incertezas que envolvia toda
nação.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/09/filme-vermelho-sol-sociedade-eclipsada.html
Indicação (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto