Pâmela tornou-se personagem conhecida dos ingleses de todas as classes sociais... Sua história era tema das conversas do cotidiano. Lynn Hunt cita o caso de uma vila em que todos viviam a expectativa de dias melhores para a pobre moça, tanto é que chegaram a tocar os sinos da igreja quando se espalharam boatos de que o sr. B. resolvera se casar com ela. E a repercussão de seu drama, tal como se procedem com as novelas, tornava-se mais comum conforme saíam novas impressões, além de muitos outros textos inspirados em sua história (paródias, críticas, poemas e imitações), que eram produzidos e ainda mais fomentavam o debate popular.
Não demorou e o livro de Richardson foi adaptado para o teatro e foi tema também de gravuras e pinturas. Em 1744, a tradução francesa de “Pâmela”, juntamente com o “Júlia” de Rousseau e outros tantos textos iluministas entraram para a lista de livros proibidos pelo Index Papal. Isso à parte, é bem verdade que nem todos consideravam “Pâmela” um romance que elevasse “a alma da religião ou a moralidade” (como pensava Aaron Hill).
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Em dezembro de 1747 o autor inglês começou a publicar “Clarissa”...
O público alimentou expectativas e adquiriu os diversos volumes lançados
durante todo o ano seguinte. Foram sete volumes ao todo, sendo que cada um
contava entre trezentas e quatrocentas páginas. Os lançamentos eram acompanhados
fielmente e no processo Richardson recebeu inúmeras cartas que solicitavam um
final feliz para a moça.
De modo simplificado, podemos dizer que a protagonista
Clarissa foge de sua família, que havia lhe arranjado um pretendente simplesmente
abominado por ela. Para lograr êxito em sua fuga, a jovem contou com o auxílio
de Lovelace, um devasso. Por isso mesmo sua jornada tornou-se um tormento, pois
de todas as maneiras teve de resistir às ousadas investidas do outro. Depois de
drogá-la, ele conseguiu violentá-la... O tipo se arrependeu e se revelou
interessado em desposá-la... Mas os dramas de consciência de Clarissa tornaram-se
muitos e pesados, pois vinha carregando um coração dilacerado pelo estupro e também
por pensar que já não trazia nenhuma virtude consigo.
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A
respeito da repercussão da morte da Clarissa, vale registrar reações como a de
Lady Dorothy Bradshaigh e do poeta Thomas Edwards. A primeira relatou ao
próprio autor que trazia o ânimo “estranhamente arrebatado”, o “sono agitado” e
que acordava à noite chorando de paixão... E isso se repetia ao café da manhã e
a todo momento. Já o poeta Edwards escreveu no início de 1749 que “nunca senti
tanta tristeza na minha vida como por essa querida menina”.
Isso é apenas uma mostra do quanto também este romance
extasiou as mentes dos leitores... O livro dá a entender que “Clarissa” teve
mais sucesso entre os mais cultos, mas é certo que na década seguinte foi
lançado em vários países e, juntamente com “Pâmela” e “Tom Jones” (de Henry
Fielding) formava a coleção de romances ingleses mais encontrada nas
bibliotecas particulares dos anos 1740 a 1760.
Os
muitos volumes talvez tenham desanimado a muitos leitores comuns, e é verdade
que um boletim francês sobre literatura chegou a publicar que o livro podia
proporcionar “o mais intenso prazer e o mais aborrecido tédio”. Tempos depois,
no mesmo boletim, alguém tornou público que “Clarissa” fazia de Richardson um
gênio da literatura e seu romance talvez fosse “a obra mais surpreendente que já
surgiu das mãos de um homem”.
Sabe-se que Rousseau avaliava o seu “Júlia” como melhor do
que o “Clarissa”, todavia entendia que este fosse melhor do que os demais. Na
França, as comparações entre os dois livros foram inevitáveis. Conta-se que
Jeanne-Marie Roland (esposa de um ministro ligado à facção dos girondinos ao
tempo do início da Revolução) relia constantemente o “Júlia”, mas admitia que o
livro de Richardson atingira a perfeição e garantia que “não há ninguém no
mundo que apresente um romance capaz de suportar uma comparação com Clarissa: é
a obra-prima do gênero, o modelo e o desespero de todo imitador”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/09/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_23.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto