terça-feira, 11 de julho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – ainda os registros de 31 de agosto de 1895; o padecimento da avó e a tristeza dos parentes mostravam que “a vida é de sofrimento”; os registros de 3 de setembro de 1895; a morte de dona Teodora; uma triste redação, saudade, agradecimento e pedido de perdão; as lembranças só guardavam as ações da avó em defesa de sua querida neta

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_11.html antes de ler esta postagem:

Na sequência dos registros de 31 de agosto de 1895, Helena escreveu que sua mãe sempre dizia que “a vida é de sofrimento”.
A condição de sua avó a levava a concordar com a afirmação de dona Carolina.
O que fazer?
Aqueles foram dias em que era impossível pensar nos momentos e coisas felizes da vida... Só se pensava em sofrimento e dor.
(...)
Helena resignou-se... Entendeu que aquele dia era importante demais para a definição da saúde de sua avó... E é por isso que permanecia de joelhos e em oração na maior parte do tempo.
Quando as tias e primas se cansavam daquele suplício, ela procurava caminhar pela horta ou pela casa sem encontrar sossego. Entrar no quarto da avó trazia-lhe muito sofrimento.
A menina achava que era muito castigo para todos da família... Eles “nunca fizeram mal a ninguém”!
Talvez um dia Deus se lembrasse de aliviar o sofrimento de dona Teodora, de suas filhas e netas.

(...)

Nos registros de 3 de setembro de 1895, uma terça-feira, Helena conta que sua avó faleceu...
Como não podia deixar de ser, sua redação é uma das mais tristes de todo o diário. As palavras traçadas por ela revelam o quanto tornou-se abatida... Sua redação é, do começo ao fim, uma homenagem à querida avó.
Emocionamo-nos com a sinceridade da menina... De modo bem simples, como se pudesse dirigir-se à falecida, pergunta por que Deus a levou, deixando-a “sozinha no mundo com tantas saudades”.
Sim, sua condição era de angustiante solidão porque entendia que ninguém jamais a compreenderia como dona Teodora, a única pessoa que não se cansava de dizer que não havia ninguém mais “inteligente, bonita e boazinha” quanto ela, Helena.
(...)
Um dos principais dramas que Helena carregou durante toda a sua infância foi o de se sentir inferior às primas. Só mesmo a avó parecia entender a sua frágil condição, e por isso nunca se esquecia de presenteá-la com os vestidos mais bonitos.
Só mesmo aquela boa mulher se dispunha a discutir com dona Carolina (filha de dona Teodora e mãe de Helena) para defender a garota e apontar qualidades onde todos só enxergavam defeitos...
(...)
Helena começou a pensar que nenhum neto sentiu tanto a morte da avó quanto ela... Chegou a dizer isso aos primos, que lhe responderam que todos sabiam que ela era a “única querida” de dona Teodora.
Sem dúvida esse tipo de diálogo era dos mais tristes... Em suas reflexões registradas no diário, Helena questiona os motivos de ser tão amada pela avó... Justamente ela, “a mais ardilosa”, barulhenta e “a que dava mais trabalho” aos adultos.
(...)
De certo modo, a redação era também confissão e pedido de perdão a quem tanto zelo lhe dedicara em vida.
Ela não poderia jamais se esquecer das inúmeras ocasiões em que a preocupada avó a tirou das folias que as crianças aprontavam até o começo da noite. Sempre preocupada com a espiritualidade de Helena, insistia para que ela se recolhesse à casa para cumprir de joelhos “a hora do terço”.
Sua sinceridade de menina “de família simples do interior” a levou a registrar que aquelas horas acumuladas de oração eram também de sacrifício, e que não foram poucas as vezes em que as suportou “por obrigação”.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas