Na sequência dos registros de 31 de agosto de 1895, Helena escreveu que sua mãe sempre dizia que “a vida é de sofrimento”.
A condição de sua avó a levava a concordar com a afirmação de dona Carolina.
O que fazer?
Aqueles foram dias em que era impossível pensar nos momentos e coisas felizes da vida... Só se pensava em sofrimento e dor.
(...)
Helena
resignou-se... Entendeu que aquele dia era importante demais para a definição
da saúde de sua avó... E é por isso que permanecia de joelhos e em oração na
maior parte do tempo.
Quando as tias e
primas se cansavam daquele suplício, ela procurava caminhar pela horta ou pela
casa sem encontrar sossego. Entrar no quarto da avó trazia-lhe muito
sofrimento.
A
menina achava que era muito castigo para todos da família... Eles “nunca
fizeram mal a ninguém”!
Talvez um dia Deus se
lembrasse de aliviar o sofrimento de dona Teodora, de suas filhas e netas.
(...)
Como não podia deixar
de ser, sua redação é uma das mais tristes de todo o diário. As palavras
traçadas por ela revelam o quanto tornou-se abatida... Sua redação é, do começo
ao fim, uma homenagem à querida avó.
Emocionamo-nos com a
sinceridade da menina... De modo bem simples, como se pudesse dirigir-se à
falecida, pergunta por que Deus a levou, deixando-a “sozinha no mundo com
tantas saudades”.
Sim, sua condição era de angustiante solidão porque entendia que ninguém
jamais a compreenderia como dona Teodora, a única pessoa que não se cansava de
dizer que não havia ninguém mais “inteligente, bonita e boazinha” quanto ela,
Helena.
(...)
Um dos principais dramas que Helena carregou durante toda a sua infância
foi o de se sentir inferior às primas. Só mesmo a avó parecia entender a sua
frágil condição, e por isso nunca se esquecia de presenteá-la com os vestidos
mais bonitos.
Só mesmo aquela boa mulher se dispunha a
discutir com dona Carolina (filha de dona Teodora e mãe de Helena) para
defender a garota e apontar qualidades onde todos só enxergavam defeitos...
(...)
Helena começou a
pensar que nenhum neto sentiu tanto a morte da avó quanto ela... Chegou a dizer
isso aos primos, que lhe responderam que todos sabiam que ela era a “única
querida” de dona Teodora.
Sem dúvida esse tipo de diálogo era dos mais tristes... Em suas
reflexões registradas no diário, Helena questiona os motivos de ser tão amada
pela avó... Justamente ela, “a mais ardilosa”, barulhenta e “a que dava mais
trabalho” aos adultos.
(...)
De
certo modo, a redação era também confissão e pedido de perdão a quem tanto zelo
lhe dedicara em vida.
Ela não poderia
jamais se esquecer das inúmeras ocasiões em que a preocupada avó a tirou das
folias que as crianças aprontavam até o começo da noite. Sempre preocupada com
a espiritualidade de Helena, insistia para que ela se recolhesse à casa para
cumprir de joelhos “a hora do terço”.
Sua
sinceridade de menina “de família simples do interior” a levou a registrar que
aquelas horas acumuladas de oração eram também de sacrifício, e que não foram
poucas as vezes em que as suportou “por obrigação”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_13.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto