quinta-feira, 13 de julho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 3 de setembro de 1895; recordando as “intermináveis horas do terço” e a pouca disposição dos tempos de criança; uma comemoração do dia da Proclamação da República; invejando as primas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_30.html antes de ler esta postagem:

As “horas do terço” sempre se estendiam...
Em seus registros de 3 de setembro de 1895, que fizeram referência à morte de dona Teodora, Helena confessa que nessas ocasiões até “passava raiva” porque, depois da contemplação dos “mistérios”, as tias (principalmente tia Chiquinha, citada como “hipócrita” por Helena) lembravam “todos os parentes mortos” para cujas almas deviam rezar “um padre-nosso ou ave-maria”.
A menina pensava mesmo que sua reza talvez levasse as almas dos parentes mortos para o inferno, pois era sempre contrariada que ela se colocava naqueles tediosos momentos...
Apesar disso, sabia que dona Teodora conhecia a sinceridade de seu sentimento em relação a ela.
(...)
Conforme escrevia, Helena se sentia como quem desabafa arrependimentos a um ente querido a quem muito se magoou.
A avó estava morta e aquela perda provocara dor terrível... É claro que Helena jamais se esqueceria o quanto ela ficava alegre ao ouvi-la falar de suas boas notas na escola.
Só aos poucos a menina começava a entender que jamais seria bem querida do modo como dona Teodora se devotava a ela.

(...)

Os registros evidenciam que certa vez Helena a comparara à Nossa Senhora.
Aconteceu que, por ocasião de um aniversário da Proclamação da República, oficiais do batalhão de Diamantina prepararam um desfile comemorativo. As crianças da escola foram chamadas a participar.
Algumas garotas teriam maior destaque porque representariam os vinte estados da federação... O problema é que o número não se completava. Faltavam duas.
As tias de Helena foram contatadas pelos oficiais na chácara... Eles solicitavam a colaboração delas, já que precisavam de uma menina para representar o estado do Piauí e outra para o Rio Grande do Norte.
Enquanto escrevia, Helena passava pela memória a elegância das garotas (primas que não são citadas na redação)... Elas foram vestidas de branco, portavam um barrete vermelho na cabeça e, no peito, uma faixa com letras douradas formando o nome do estado que representavam.
Não foi sem uma ponta de inveja que Helena acompanhou os preparativos de suas parentas... Nas casa de dona Teodora, todos as rodearam e as encheram de mimos. Do alto da mesa onde foram colocadas para que os vestidos fossem ajustados, elas ouviam os elogios ao mesmo tempo em que podiam curtir o ciúme de Helena.
(...)
Podemos imaginar  a criança amargurada por não poder experimentar a alegria que as primas estavam vivenciando, sendo o centro das atenções e usando aquelas belas roupas.
Para a pequena Helena, sua condição era deprimente e insustentável... É provável que tenha concluído que todos a desprezavam e que, além disso, entre todas as de sua idade, ela fosse a que “menos importava”, a “menos atraente”...
Em reação ao seu infortúnio, saiu correndo para que não percebessem que estava se sentindo mal, com um “nó na garganta” e muita vergonha. Seguiu para o gramado na parte de trás da igreja e atirou-se sobre ele. Chorou copiosamente até notar que a ponta de uma bengala tocava-lhe o ombro.
(...)
Aquilo era muito estranho! Helena tinha certeza de que estava muito bem escondida...
Quem a teria perseguido até ali?
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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