sábado, 18 de março de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 8 de outubro de 1894; a respeito dos vícios dos familiares e de diversos diamantinos; bebida, carteado e rapé; aversão ao álcool e aos jogos de azar; simpatia pelas charmosas e valiosas caixas de rapé

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_18.html antes de ler esta postagem:

Os registros de 8 de outubro de 1894 do diário foram reservados para as considerações da garota a respeito de certos vícios que ela percebia entre seus familiares e entre os habitantes de Diamantina.
No início do texto, Helena destaca que não entendia como que as pessoas se tornavam viciadas por bebidas alcoólicas... Por que insistiam em beber se depois de alguns tragos ficavam tontas?
Pelo visto os adultos não faziam questão de evitar que os menores de suas famílias tivessem contato com o álcool. É a própria Helena que afirma que depois de tomar um cálice de vinho não sentia vontade de beber outro. Sentia repugnância do cheiro da cachaça, e era a muito custo que ingeria a colher de aguardente com ruibarbo que a mãe lhe servia quando custava a dormir nas noites mais frias.
Ela se perguntava como as pessoas podiam ficar satisfeitas ao beberem a amarga cerveja durante as festas.
(...)
Uma das diversões da família quando se reunia era o jogo de cartas. Muitas vezes jogavam a dinheiro. Helena explica que participava das brincadeiras, mas deixa claro que ficava triste tanto quando ganhava quanto quando perdia...
O jogo a enjoava porque quando vencia as rodadas tinha de receber o dinheiro dos demais apostadores. Também se entristecia por ter de pagar-lhes quando era derrotada.
(...)
O rapé era vício que todos da família cultivavam.
Sempre que Helena resfriava, dona Carolina colocava uma pitada em seu nariz... A garota gostava de espirrar graças ao estímulo do rapé. Aquilo “desentupia o nariz”!
Seu Alexandre vivia a dizer que não aprovava aquele vício, sentenciava que era “muito feio” e que seu pai jamais admitira o vício do cigarro. As tias inglesas abominavam o rapé! Apesar disso, ele também “tomava sua pitada de vez em quando”.
Helena não escondia que quando crescesse faria uso regular do rapé. Ela achava bonito quando um adulto abria sua caixa de rapé para oferecer uma pitada a um conhecido tão logo se encontravam.
Familiares como a tia Dindinha e o tio Geraldo tinham caixas de ouro... A de tio Geraldo era de prata. As dos demais eram escuras e pareciam ser feitas de chifre.
(...)
Chamava a atenção a solicitude de Dindinha ao oferecer uma pitado do rapé que trazia em sua caixa de ouro... Sempre que encontrava alguém não perdia a oportunidade de exibi-la.
Helena conta que no dia anterior (domingo, 7 de outubro), durante a celebração da bênção do Santíssimo, sua tia tomou uma pitada... Mas aconteceu que, em vez de guardar a caixinha no bolso, deixou-a no chão (provavelmente num momento em que se ajoelhara).
O Santíssimo foi levantado para a adoração dos fiéis, e Dindinha manteve-se contrita. Talvez por isso não tenha notado uma mulher (que estava próxima a ela) atirando um lenço sobre a caixa de ouro e tomando-a para si.
Depois da cerimônia, todos se dirigiram para a casa do tio Geraldo. Logo que chegaram, certo senhor conhecido como “Juca Boi” apareceu com a valiosa peça para entregar à Dindinha. Ele viu o que a mulher fez e exigiu que ela lhe entregasse a caixa de rapé.
(...)
Dona Carolina e as demais tias ficavam admiradas com a “inclinação de Helena” para o vício do rapé. A menina tinha certeza de que no futuro tomaria rapé como as tias.
Certa vez, quando todos se encontravam na chácara, Helena acompanhou a avó até a pedreira. Então aconteceu que seu Procópio (não há detalhes a respeito deste homem) aproximou-se e ofereceu rapé à dona Teodora (ela também “gostava de uma pitada do pó”).
Helena pediu um pouco e pôs-se a espirrar como nunca. Foi nessa ocasião que ela entendeu que algumas pessoas usavam fumo picado, que é muito mais forte do que o rapé que ela conhecia.
(...)
Helena não acreditava que o rapé pudesse fazer mal a alguém. Por isso dizia ao pai que quando crescesse o usaria como as tias.
A garota só não admitia o vício de algumas das negras que viviam na chácara da avó. Elas mascavam fumo e “cuspiam para os lados”!
Generosa, que trabalhava na cozinha era uma das que mantinham este hábito repugnante.
Simplesmente não dava para entender por que a avó consentia em tamanho disparate.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_19.html
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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