Fogg e seus companheiros de resgate esperaram por muitas horas pelo momento adequado para agir.
De vez em quando o guia parse retirava-se do sítio seguro sob a copa da árvore para observar os guardas... Era desanimador, pois os tipos mantinham-se firmes e com seus sabres desembainhados.
O interior do templo também devia estar bem protegido. Pelo visto aqueles que cuidavam de vigiar a prisioneira não participavam do entorpecimento que alucinava os demais fanáticos.
Calcularam que fosse meia-noite e entenderam que teriam de agir de outra forma. Talvez perfurando a parede. Mesmo essa possibilidade não era de toda segura, pois os sacerdotes certamente dificultariam ao máximo qualquer resgate até que os guardas viessem em seu socorro.
(...)
O parse conduziu os companheiros de viagem até a parede dos fundos do
templo. Caminharam protegidos pela escuridão e não encontraram nenhum guarda ou
qualquer obstáculo. No ponto em que se posicionaram podiam se sentir seguros
também graças às altas árvores. Todavia restava a tarefa de abrir uma passagem
pela parede.
Contavam apenas com os seus canivetes! Apesar disso
animaram-se para a tarefa porque as paredes do templo de Pillaji eram bem
frágeis. Aos poucos a mistura de tijolos e madeira foi cedendo aos golpes. Depois
de tirarem o primeiro tijolo, planejaram fazer uma abertura de uns sessenta
centímetros. O guia parse e Passepartout trabalhavam em sintonia e tudo
indicava que obteriam êxito.
De repente, gritos vindos do interior do templo foram ouvidos. Deu para
perceber que gritaram também do lado de fora. Passepartout e o parse pararam o
que estavam fazendo porque imaginaram que os hindus haviam descoberto tudo.
(...)
Ainda bem protegidos pela escuridão, os quatro se retiraram para a
segurança que as árvores proporcionavam. De onde estavam podiam observar a
movimentação dos guardas. Bem podia ser que se tratasse de um alerta e que em
pouco tempo os brutamontes retornassem às suas posições.
Mas puderam notar que alguns deles foram deslocados para a parede do
fundo do templo, no lugar mesmo em que haviam iniciado a perfuração.
(...)
Não haveria como salvar a
jovem viúva. Ao seu modo, cada um descarregou a indignação que trazia no peito.
O general Cromarty “mordeu os punhos”; Passepartout agitou-se a deu passos
desordenados; o parse preocupava-se em acalmá-lo.
Apenas Phileas Fogg não
esboçava fisionomia ou reação que revelassem qualquer sentimento. O general
perguntou se a única coisa que tinham a fazer era partir. O guia parse
concordou que era isso mesmo o que lhes restava.
Fogg rompeu o próprio
silencio ao sentenciar que ele precisaria estar em Allahabad antes do meio-dia.
Cromarty quis saber o que ele queria dizer com aquilo e emendou que em poucas
horas o dia amanheceria.
O excêntrico Fogg respondeu que no “momento supremo” poderia surgir
outra oportunidade de resgatar a prisioneira. O general ficou estarrecido a
pensar que tipo de ação Fogg estava planejando. Se lançaria contra os fanáticos
armados no instante do suplício? Mas aquilo seria loucura! Seria aquele inglês
tão louco assim?
(...)
De qualquer modo o general
decidiu permanecer até o fim junto aos companheiros. Em seus pensamentos
pairava a constatação de que o plano de Fogg tinha tudo para dar errado.
O cuidadoso parse também
estava preocupado e conduziu os três europeus para a segurança da clareira
afastada. A atmosfera tornou-se mais calma e ao longe os fanáticos adormecidos
podiam ser contemplados.
Passepartout acomodou-se nos galhos de uma
árvore. Permaneceu em silêncio, mas nitidamente pensava a respeito da confusão
em que haviam se metido. Deixou escapar um “Que loucura!” e depois um “Por que
não, apesar de tudo?”
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_25.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto