segunda-feira, 27 de março de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 22 de abril de 1893 – o feriado de 21 de abril; passeio com os primos e os tios Conrado e Aurélia na Prata; das diferenças entre os modos de ser dos primos e primas; Deus “castiga a gente educada”; lições de Renato para uma boa pescaria

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_26.html antes de ler esta postagem:

Os registros de 22 de abril de 1893 dão conta de como Helena e Luisinha passaram o feriado do dia anterior*.

                  * o 21 de abril em homenagem ao herói da Inconfidência Mineira, o Tiradentes condenado à morte em 1792, havia sido instituído em 1890.

Conrado e Aurélia, os tios, as convidaram a passar o dia numa localidade conhecida como Prata. A menina destacou que a paisagem era das mais agradáveis, com um rio “encachoeirado” e vários sítios para passear.
Infelizmente para elas, o tio Conrado não permitia que seus filhos (e também as duas) andassem descalços rio abaixo, subissem nas árvores ou procurassem gabirobas e outras frutas em locais mais afastados.
“Não se pode fazer nada”! Assim Helena sintetizava as proibições impostas pelo tio.
O que levava as garotas a toparem passar o dia com aquela família era o fato de tia Aurélia ser quituteira das boas. Ela fazia doces tão bons quanto os de Siá Generosa.
Se não podiam se divertir como queriam, pelo menos aproveitavam os “bolos, pastéis, craquinéis e tudo do que a tia fazia para vender”.
(...)
Outra reclamação de Helena era a pescaria que o tio Conrado proporcionava. As crianças tinham de se comportar à beira do rio e não podiam falar. O menor movimento que faziam era motivo de advertência!
O tio levava a sério a pesca do lambari e organizava uma bela tralha com muitas varas e anzóis. Mas os peixes sequer “beliscavam a isca”!
Neste ponto de suas considerações, Helena afirma que gostaria que os tios, primos e primas fossem passar um dia de “passeio no campo” com seus pais no Rio Grande. Evidentemente seu Alexandre e dona Carolina eram mais tolerantes em relação ao divertimento dos filhos.
Ao comparar as duas famílias, Helena lamenta o fato de as primas terem “um pai tão metódico”, como elas mesmas diziam. O seu dia-a-dia era marcado por regras e horários para tudo. Elas tinham de ter muito cuidado com o modo de falar e como se comportavam.
(...)
Primos e primas observavam que os pais de Helena e Luisinha não lhes davam da educação que eles estavam habituados, mas sempre as convidavam para os passeios.
Ela confessa que ao final de “um dia de lazer” com os primos e familiares ficava mais cansada do que se tivesse trabalhado o tempo inteiro, de tanto que tinha de fingir-se educada perto deles.
Helena sentia pena das primas e primos... Era bem provável que eles também tivessem pena dela e de seus irmãos por causa de seu modo de ser.
(...)
Não devia ser nada fácil para a garota definir um juízo a respeito de quem estava certo naquela história. Todavia ela concluía que “Deus castiga gente educada”.
A esse respeito, Helena argumentava que nunca vira o tio Conrado levar para casa um lambari sequer depois de uma de suas pescarias. Também os primos não conseguiam capturar passarinhos em suas armadilhas.
Bem o contrário era o que acontecia quando ela e os irmãos iam passear pelo campo. Renato e Nhonhô pegavam tantos lambaris e bagres que até vendiam alguns... Também traziam muitos passarinhos para casa (pintassilgos, curiós e muitos outros).
Certa vez Renato explicou-lhe por que o tio Conrado não conseguia pescar os lambaris. O rapaz disse que provavelmente ele insistisse em colocar no anzol uma bolinha de algodão envolvida num “angu de farinha de mandioca”. Os peixes “não são bobos”, gostam de minhoca e não dão a mínima atenção para esse tipo de massa.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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