sábado, 18 de março de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 5 de dezembro de 1894; sobre as iniciativas dos garotos em sua “iniciação ao trabalho”; Renato e seus “pequenos negócios”; a vendinha, mantimentos, vinagres e bebidas; fermentação, estouros e susto dos tios

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_67.html antes de ler esta postagem:

Helena escreveu a respeito de seu irmão Renato e sobre suas iniciativas de ganhar algum dinheiro.
Ela notava as dificuldades que todo rapaz tinha para começar uma vida emancipada...
Não eram poucos os que achavam que o comércio podia ser a saída. Renato também pensava assim. Mas Helena percebia que tudo o que ele inventava era copiado por outros.
Para ela, além da inveja dos concorrentes, havia os problemas específicos de quem dava os primeiros passos como negociante.
(...)
São os registros de 5 de dezembro de 1894 do diário que revelam os projetos de Renato.
O recorte permite conhecer um pouco mais das crianças e adolescentes da região de Diamantina no final do século XIX. É claro que o convívio com os adultos sinalizava os caminhos que deviam seguir. Evidentemente isso também valia para a “iniciação ao trabalho”.
Helena conta que desde cedo o irmão via a possibilidade de conseguir alguns cobres procurando ouro nas enxurradas... Ele também “lavrava” a terra junto ao sobrado onde viviam.
É lógico que esse tipo de “lavra” não era das promissoras e pode ser que a ideia de encontrar ouro nas enxurradas e nas proximidades de casa tenha sido apenas pela diversão de imitar o pai.
Helena via que o irmão tinha jeito para negócios... Ele era bom pescador de lambaris e algumas vezes conseguiu uns dois mil-réis vendendo-os a conhecidos.
O menino também caçava passarinhos para vender.
(...)
Mas sempre acontecia de alguém copiá-lo e tomar-lhe os fregueses.
Foi isso o que aconteceu quando começou a fazer cigarros de palha. Helena sugere que os cigarrinhos que ele fazia eram melhores do que os de certo João Quati.
Ela e Luisinha o ajudavam na confecção dos cigarros de palha.
Renato conseguia grandes quantidades de palha de milho e na época das férias escolares as duas se distraíam a alisá-las com caramujo. Depois de enrolados, as garotas juntavam os maços e amarravam de modo caprichado.
(...)
Dona Carolina percebeu que o menino tinha certo tino para os negócios e resolveu contribuir também. Certa vez alugou um cômodo e organizou uma “vendinha de principiante”.
O estabelecimento tinha de tudo um pouco: “feijão, arroz, farinha, rapadura, queijo”... Renato se empolgou e quis que a mãe fornecesse também umas garrafas para “dar volume” às prateleiras. Assim, dona Carolina fez “vinagre de jabuticaba e champanha de ananás”.
Os tios passaram a tomar gosto nas reuniões de fim de dia que faziam na vendinha de Renato... De acordo com Helena, eles gostavam de “jogar truque” (ou truco; um jogo com cartas de baralho).
(...)
Os dias de verão estavam sendo de muito calor...
Aconteceu que as garrafas da vendinha de Renato começaram a fermentar. Certa noite, os tios estavam se divertindo com o carteado quando foram surpreendidos pelos estouros. As rolhas não suportaram a pressão e “saltaram” dando a impressão que tiros estavam sendo disparados por todos os lados.
Foi um susto só. A bebida de ananás e o vinagre se espalharam pelo local. Os tios fregueses ficaram com a cabeça e as roupas bem sujas. Renato ficou desesperado e pôs-se a recolher o açúcar e a rapadura para que não se estragassem também.
Como se pode depreender, o comércio não deu certo. O rapaz desistiu da vendinha.
(...)
Era época de férias... A família seguiria para a Boa Vista.
Helena concluiu mais uma vez que os homens da família só sabiam “ganhar dinheiro na mineração”.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas