Como sabemos, a estrada de ferro não estava terminada e era interrompida no povoado de Kholby. Vimos que os passageiros providenciavam outros meios para prosseguir a viagem até Allahabad.
Phileas Fog decidiu comprar o elefante Kiuni e contratou um parse para conduzi-lo.
O general Francis Cromarty aceitou a carona. Ele e o excêntrico Fog se posicionaram nos cestos acoplados na lateral do grande animal.
O parse sentou-se sobre o pescoço de Kiuni, enquanto que o lombo do paquiderme se tornou o posto de Passepartout.
(...)
O guia conhecia bem a região e sabia o que tinha de fazer para finalizar
o percurso no menor tempo. Ele se afastou das áreas onde os operários
trabalhavam para a conclusão da ferrovia. Aliás, a cadeia de montanhas Vindhias
tornava o traçado muito sinuoso. Sua intenção era percorrer atalhos que
encurtariam a distância em uns trinta quilômetros.
Os dois ingleses permaneceram em silêncio e
resignaram-se à sua condição de viagem... Também Passepartout permaneceu
calado.
O condutor não era de muita proza e parecia um equilibrista sobre a
montaria. Conforme o elefante seguiu a passadas regulares, o rapaz era atirado
para frente e para trás... Parecia que cairia para um dos lados, mas seguia com
maestria e bom humor... Eventualmente retirava um torrão de açúcar de sua bolsa
para agradar Kiuni, que levava a ponta da tromba para se apossar do regalo sem
perder a marcha.
(...)
Depois das duas primeiras horas, o condutor fez uma parada... Kiuni
avançou sobre uns arbustos e os viajantes puderam descansar.
O general sentia-se muito cansado. A experiência estava “quebrando seus
ossos”, então, para ele, repouso de uma hora foi providencial. Ao notar que
Phileas Fog mantinha-se com boa disposição comentou com Passepartout que ele só
podia ser de ferro.
Por volta de meio-dia retomaram a marcha... Aos poucos a floresta mais
densa ficou para trás. A paisagem alterou-se, viram muitas “touceiras de
tamarindos e palmeiras anãs”. Depois notaram planícies cobertas por arbustos
raquíticos.
Penetraram o alto
Bundelkund, região evitada por viajantes, pois a população local era praticante
de rituais hindus violentos. Verne destaca que “infelizmente o domínio inglês
não havia submetido a área”, que sofria a influência de rajás. Evidentemente esses
mantinham-se refugiadas graças às elevadas montanhas Vindhias.
O parse contratado para
conduzir Kiuni sabia como evitar as complicações... Não perdia tempo e evitava
contato com bandos de hindus nitidamente agressivos que faziam caretas e gestos
de ataque quando notavam a passagem do elefante.
(...)
Passepartout
distraía-se observando alguns poucos macacos que surgiam no percurso... Em
silêncio refletia sobre os últimos acontecimentos... Jamais imaginaria passar
por aquelas terras estranhas. Pensava também em seu patrão e no seu firme
propósito de realizar a volta ao mundo em oitenta dias a qualquer preço. Não é
que se dispusera a desembolsar duas mil libras pelo elefante? O que seria feito
do animal logo que chegassem a Allahabad? Certamente o patrão não continuaria
com ele, pois os custos pelo transporte seriam altíssimos... Podia vender o
elefante ou deixá-lo em liberdade. Será que Phileas Fogg lhe daria de presente?
Não se podia duvidar que isso viesse a ocorrer.
O pobre rapaz preocupou-se com essa última possibilidade.
(...)
Percorreram aproximadamente
quarenta quilômetros e assim deixaram para trás porção significativa de
montanhas da cadeia... Às oito da noite o parse parou o elefante junto a um
bangalô abandonado. As instalações estavam deterioradas, mas o local era seguro
para se repousar.
O rapaz fez uma fogueira e todos se acomodaram no
interior da pousada. Jantaram parte das provisões que foi comprada em Kholby.
Conversaram sobre o dia que tiveram e logo caíram em sono profundo.
O elefante foi acomodado junto a uma árvore, onde adormeceu em pé. O
parse permaneceu junto ao seu lado e a vigiá-lo.
Ao longe podia-se ouvir gritos de macacos e
rugidos de leopardos e panteras... A noite passou sem que nada de
extraordinário ocorresse aos fatigados viajantes. Phileas Fogg adormeceu como
se estivesse na tranquilidade de sua casa da Saville Row.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_23.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto