Helena escreveu a respeito dos festejos de aniversário de Joaquim de Angola, um velho africano que vivia na chácara de dona Teodora há muitos anos.
O texto revela-nos uma série de detalhes a respeito das comemorações que reuniam os negros do lugar. Joaquim de Angola era muito respeitado por todos eles.
Vale a pena conferir as informações que dizem respeito ao tempo da escravidão, ao 13 de maio e ao destino de muitos antigos escravos que trabalhavam para o seu Batista e a dona Teodora.
(...)
Os registros do diário datam de 9 de dezembro de 1894.
A festa de aniversário de Joaquim de Angola ocorreu no dia anterior.
O evento tornara-se tradicional. Os filhos e filhas, genros, noras e
netos de dona Teodora compareceram. Além do aniversário, houve o casamento de Júlia
(uma das filhas do velho Joaquim) com certo Roldão.
(...)
Helena explica que antigamente Joaquim de Angola trabalhava
para um senhor que possuía propriedades no Serro. Como o homem era muito cruel
com seus escravos, o negro Joaquim resolveu fugir para um quilombo que se localizava
nas proximidades da Lomba.
Enquanto esteve escondido, Joaquim de Angola recebeu a ajuda de outros
negros que lhe levavam comida durante as noites.
Certa vez um grupo de soldados entrou no matagal para perseguir negros
fugitivos... Joaquim de Angola não tinha como escapar, então correu o mais que
pôde e ao chegar à propriedade de seu Batista atirou-se aos pés de dona
Teodora.
Ele suplicou para que ela o comprasse... Dona Teodora convenceu o
marido. E foi assim que Joaquim de Angola passou a trabalhar na Lomba.
(...)
Como já foi destacado, aquilo ocorreu há muitos anos. E foi num 8 de
dezembro, quando se celebra o dia de Nossa Senhora da Conceição.
Joaquim de Angola casou-se
e teve muitas filhas. Então tornou-se costume comemorar o seu aniversário no
mesmo dia da festividade religiosa. Isso era muito significativo porque, de
fato, ao ser comprado pelo seu Batista, foi como que se “nascesse novamente”.
Os familiares e a gente
mais próxima de Joaquim de Angola não esqueciam a data que naquele ano caiu num
sábado.
O casamento de Júlia
tornou a festa ainda maior.
(...)
Os negros da chácara convidaram muitos conhecidos. Eles se reuniram na
antiga senzala. Tudo ficou muito enfeitado... Principalmente o lugar onde as
negras costumavam fiar e fazer rendas. Usaram bambus, folhas de bananeiras e de
outras árvores...
Capricharam na comida e
decoraram um leitão. Fizeram empadas, galinhas e todo tipo de doce. Dona
Teodora forneceu vinho. A cachaça ficou por conta deles.
Dona Teodora pediu para
organizarem uma mesa para a sua família na grande sala. A festa dos negros
prosseguiu na senzala e nas áreas exteriores.
(...)
Helena alimentou-se rapidamente para poder
acompanhar a festança que acontecia na senzala. De acordo com suas palavras,
ela nunca vira festa mais divertida do que aquela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/03/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_8.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto