Cada um faz a própria “viagem”... Permitam-me a proposta que segue:
Você pode percorrer a exposição como se ela representasse a “trajetória de um sonho”.
A primeira peça é o autorretrato adormecido (Mask II)... Ali está o “artista num profundo sono”... De certo modo isso reforça a proposta.
(...)
As
peças seguintes poderiam ser entendidas como “cenas do sonho” (ou de uma série
de fragmentos de sonhos).
Escrever
sobre cada uma delas é tentador...
Há
sempre os riscos de cometermos equívocos gritantes... Você entende, eles fazem
parte.
(...)
Tudo
é possível num sonho...
Vemos
um tipo acomodado numa boia de piscina (À
deriva)...
Um colega a definiu como um “crucifixo moderno”... E
não é que pode ser isso mesmo?
Essa interpretação (somada
ao título) nos leva a tantas outras reflexões...
O garoto (a peça de pouco
mais de 60 centímetros é chamada de Juventude)
observa o machucado grave (um corte produzido por facada?)... Sua roupa tem
marca do sangue... Isso nos leva a imaginar um trauma recente, mas a sua
fisionomia não é a de quem se mostra preocupado com o ferimento, a perda de
sangue e suas consequências.
(...)
Há dois casais – o
jovem (Jovem casal) e o “veterano” (Casal sob um guarda-sol)... Será por
acaso que o “veterano” (acomodado sob o guarda-sol) tenha sido instalado exatamente
no último ambiente da exposição?
O
“casal jovem”, representado em escala menor, poderia significar o “passado” do
“casal veterano”, representado em escala bem maior?
(...)
O que dizer da velha
camponesa (bem pode ser a representação de uma camponesa de tempos antigos) que
carrega gravetos, ou do homem no barco (Homem
num barco)?
Os dois estão nus...
Não
é algo bem típico de sonhos?
(...)
Vemos
a camponesa e podemos pensar na condição da mulher e sua labuta pela
sobrevivência dela e a de seus agregados... Seria muita pretensão afirmar que a
imagem nos remete à figura da mãe? Aqueles gravetos trarão calor,
possibilitarão luminosidade ao lar, e servirão para preparar a alimentação dos
filhos...
A
frágil e imensa embarcação não é conduzida pelo homem. Ele não tem controle
sobre ela e não demonstra condições de controlá-la.
Talvez pudéssemos pensar o
barco como uma metáfora da própria vida...
(...)
Há
uma “mãe moderna” que carrega junto ao peito (que ampara e alimenta) o filho
recém-nascido. Sob o casaco ela o aquece... Suas mãos estão ocupadas com as
compras (o título da obra é Mulher com
compras)... Seu olhar se dirige ao que está à frente.
Podemos
dizer, a partir da proposta e da ilação anterior – sobre os casais -, que aqui
haveria uma inversão... É que o elemento “do passado” (Mulher com galhos) está representado em escala muito maior do que a
“mãe moderna”.
(...)
Os
entendidos dizem que a escultura do imenso frango “abatido e limpo” é
referência à “gripe aviária” que ressurge com certa constância nos
noticiários...
O que dizer desta Natureza
morta?
Em primeiro lugar, que é
perfeita em todos os seus detalhes... “Ultrarrealista”, como os entendidos
também dizem...
Algo tão antigo... No
mínimo poderíamos sustentar que as epidemias assustam. É sempre chocante (um pesadelo
mesmo) saber que alguém morreu vitimado pelo contágio de uma variação da
gripe...
As
pessoas custam a admitir que o frango (delicada ave há tanto tempo domesticada
pelos humanos) pode transmitir a doença...
O frango “abatido e limpo” de Mueck está
pendurado para a apreciação de todos... Talvez o seu tamanho gigantesco e
“ultra desproporcional” (perfeitinho até no corte da lâmina que atingiu o seu
pescoço) tenha a ver com a grandiosidade do “perigo invisível” que ele
representa.
P.S: O último dia para visitação é
22/fevereiro...
Um abraço,
Prof.Gilberto
Um abraço,