quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – conhecendo o sítio de Kukulkan; vertigens

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de_3.html antes de ler esta postagem:

A instalação de Anne e Lewis no Victoria (o albergue indígena), onde se respira atmosfera dos antigos maias, foi no mínimo interessante... Faltava luz no momento que chegaram, mas logo o problema foi reparado... O quarto sem mobiliário supérfluo possuía camas decentes e lençóis limpos e brancos...
Jantaram tortilhas, frango e favas roxas... O tempero era de “incendiar gargantas”... Porcos e galinhas pisoteavam o pátio sem serem incomodados... ... A saparia, que se fazia ouvir durante todas as noites, parecia acompanhar os solos de um solitário violonista acomodado num dos bancos.
(...)
O amanhecer foi esplendoroso... O calor e os raios do sol batendo sobre a folhagem despertou aves que se misturaram a outras já barulhentas... Assim começava o dia.
Anne e Lewis seguiram para os monumentais templos... Ele apressou o passo, ela caminhou vagarosamente enquanto pensava sobre o quanto tudo aquilo era estranho à sua formação europeia... Tudo tão desconhecido... À imponente pirâmide (Kukulkan) ela chamou de “Meca geométrica de pedras empapadas de sangue”... E o que dizer dos demais templos, altares, esculturas e estádio?
Ela estava mergulhada nesses pensamentos... Já Lewis... Quem o visse acreditaria que ele sim, estava devotado ao legado maia na região... Tendo atingido o alto da grande pirâmide, parecia uma criatura minúscula...
Não sem esforço, Anne o alcançou... Do alto avistaram a densa mata... Ela quis saber onde estariam as plantações de milho, e Lewis explicou que o costume indígena era o de queimar o matagal de determinada área e semear... Depois da colheita, as árvores voltavam a dominar a paisagem...
Ele obteve essas informações em um livro que encontrou no albergue... Estudou-as durante a noite para surpreendê-la... É claro que Anne achou graça, então ele continuou a falar sobre os camponeses do passado, que trabalhavam no cultivo durante algumas poucas semanas do ano... É por isso que podiam se dedicar à construção de templos.
Como se estivesse concluindo, ele completou dizendo que, de fato, a vida deles era bem sofrida (comer tortilhas e suar carregando pedras)... Milhões de vidas foram consumidas assim, e ainda havia os sacrifícios humanos... Pessoas humildes transformadas em burros de carga apenas para “satisfazer a vaidade de guerreiros e sacerdotes”!
(...)
Lewis demonstrava certo desprezo pelas construções maias e pela violência que marcara a sua edificação... Anne não se percebia tão sensibilizada assim. Talvez por causa do “distanciamento temporal” ou porque nunca tivera de suar para se alimentar...
Isso à parte, ela lamentava o fato de todos aqueles monumentos serem de pouca ou nenhuma utilidade, exceto a alguns arqueólogos e turistas que não se cansavam de fotografá-los.
Ela sugeriu descerem... Lewis a surpreendeu ao dizer que sofria vertigens... Tudo bem que tivesse subido sem ao menos notar a que altitude atingia, mas a descida era uma missão que o deixaria tonto...
Anne estranhou a “paúra”... Lewis se justificou contando-lhe sobre incidentes de seu passado (como o de uma fábrica onde arranjara trabalho no alto de uma chaminé, e provocou a maior confusão porque não conseguia descer)...
De mãos dadas, a passos curtos e lentos, e aproveitando a companhia de uma família de americanos, chegaram à base... Um guia explicava “o mistério da alma dos maias” a um grupo.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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