segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – alternativos em sua individualidade, Anne e Lewis estão mergulhados numa relação convencional; é possível “salvar o amor” e preservar a liberdade?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_14.html antes de ler esta postagem:

Não há como não considerar:
Lewis havia mudado muito depois que conheceu Anne. Ele mesmo confessa que já não se realizava com as satisfações passageiras proporcionadas por outras mulheres...
E o que dizer da amarga longa espera e do sofrimento de Anne até que pudessem se reencontrar?
No entanto vemos Lewis questionando a respeito de sua submissão aos caprichos de Anne... Tudo indica que seus sentimentos se desgastaram porque entendia que para ela o “amor não é tudo”.
Anne não se conformou com a mentira que ele forjou para colocar um fim nos passeios pelo México... Ela entendia que ele já não suportava permanecerem a sós.
E os tipos preferidos por Lewis eram no mínimo questionáveis... Suportá-los era entediante.
(...)
Percebemos que Anne e Lewis eram do tipo que não se prende a moralismos ou convenções quando decide se aventurar em relações românticas e de busca de prazer... Antes de se conhecerem, o escritor se divertia com mulheres diversas... Também Anne envolvia-se com outros parceiros e parceiras...
Não parece interessante que eles estivessem passando por aquela situação de insegurança, um em relação ao outro?

(...)

No Society, Anne quis saber se ele já não a amava como outrora... Ele respondeu que o amor não era mais tão importante como pensava no início. Ela disse que o entendia e perguntou se fazia alguma diferença estarem ou não juntos.
Vimos que Lewis disse que era mais ou menos isso mesmo...
Mas de repente sua fisionomia se alterou... Ele respirou fundo e emendou que durante o tempo em que a esperou não pensara em mais nada... Num monossílabo, Anne deu a entender que desejava que ele prosseguisse... Lewis disse que ainda a queria, e que se casaria com ela no mesmo instante (!).
(...)
Anne abaixou a cabeça e recordou-se da vez em que ficaram a contemplar o céu no ano anterior... À passagem de uma estrela cadente haviam feito votos secretos... Agora ela pensava em sua promessa de nunca o decepcionar, e se sentia como se tivesse falhado com ele.
(...)
Deixaram o Café e não mais falaram a respeito de seus dramas...
Retornaram ao hotel... Cansado, Lewis adormeceu pesadamente... Anne passou a noite em claro, pois não conseguia parar de pensar sobre o que o destino lhes reservava... Faria de tudo para salvar o seu amor... Lewis teria a mesma intenção?
São raciocínios de uma psicanalista... É bom lembrarmos...
Os pensamentos a agitavam... Considerando o que conhecia do amado entendeu que havia alguma chance... É claro que ele valorizava a sua independência, mas também não era um tipo que vivia descartando elementos que contribuíssem com o estabelecimento de sua “zona de conforto”... Como explicar que ele não conseguisse se desprender do velho roupão branco? Ele devia prever que não seria nada fácil se desprender das experiências vividas com ela.
A partir dessas constatações, Anne concluiu que seria importante mostrar-lhe que ele mais se beneficiava do que se anulava na história.
(...)
Tomavam o café da manhã quando Anne deu início à conversa... Explicou que havia passado a noite em claro... Ele comentou que teria feito melhor se dormisse...
Para ela, em vez de desmotivador, Lewis parecia amistoso... Então continuou a dizer que havia pensado em tudo o que ele tinha lhe dito, e admitiu sua razão ao irritar-se porque ela exigia mais do que estava disposta a ceder no relacionamento... Prometeu que isso não mais ocorreria, pois não exigiria nada... Pelo menos aqui vemos que Anne admite que o pressionasse...
De alguma maneira contradiz o que afirmara na noite anterior, quando disse que ele estava enganado (ao insistir sobre como tinha de se subordinar aos caprichos dela).
Aquelas palavras deviam expressar que, em síntese, o relacionamento (que sequer proporcionava o que ele sonhava) não o impediria de ser livre até mesmo para se apaixonar por outra pessoa... Anne não protestaria porque que não poderia privá-lo de nada.
É claro que a situação não é tão simples assim... O próprio Lewis quis observar... Quando se ama perde-se a liberdade... Alguém sempre pensa que tem direitos sobre o outro...
Lewis garantiu que era indiferente... Mas não quis prosseguir... Disse que só “se embrulhavam” ao falar sobre essas coisas.
Anne respondeu que “se embrulhavam” também quando não falavam sobre elas.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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