sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – jazz e conversa franca no Café Society; Lewis fala sobre seus momentos de irritação e sobre a incoerência da submissão numa relação; teriam chegado ao limite da “convivência possível”?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_12.html antes de ler esta postagem:

Eles se retiraram silenciosamente do parque.
De modo algum Anne podia considerar que a situação estivesse esclarecida... De certo modo, podia dizer que se apavorara ainda mais ao tomar conhecimento da “hostilidade de Lewis”...
(...)
Ela perguntou para onde iriam... Ele respondeu que não tinha nenhuma ideia... Timidamente, ela sugeriu que podiam ir a um bar tranquilo e conversar... Haveria o que conversar? Foi mais ou menos isso o que Lewis parecia perguntar quando disse que “não se conversa por encomenda”.
Anne citou o Café Society, onde poderiam ouvir jazz... Colérico, Lewis quis saber se ela ainda não tinha ouvido jazz o suficiente em sua vida. Ela concluiu que, se era assim, poderiam dormir... Também essa alternativa foi repudiada por ele, pois manifestou que não tinha sono.
Estavam neste ponto... Anne querendo remediar... Lewis “querendo estragar a noite” e, assim, deixá-la mais irritada...
Já que ele não tinha “vontade de coisa alguma”. Anne decidiu que deviam ir de táxi ao Society.
(...)
No caminho ela refletia sobre as palavras de Lewis no ano anterior, quando afirmara que “não se entendia com ninguém”... É claro, via-se que ele tinha boa relação com Teddy, Felton e Murray porque pouco se viam... A “vida em comum” é que era um desastre para ele... Mas o que dizer a respeito do amor que ele lhe devotara com sinceridade? Não há como desqualificá-lo... Porém era certo que ele mesmo não pudesse suportar um sentimento que o colocasse em posição de sujeição.
Também essa constatação não aliviava a consciência de Anne... Principalmente porque, se ele era assim mesmo, não devia permitir que ela se entregasse totalmente à relação... Além do mais, se ele entendia que ela representava-lhe um estorvo, devia falar-lhe a respeito...
Ela retornaria a Paris. Pensava sinceramente nessa possibilidade...
(...)
Os músicos tocavam Duke Ellington... Numa das mesas, Lewis e Anne bebiam uísque.
Ele quis saber se ela estava triste naquele momento... Anne respondeu que, em vez de tristeza, era a raiva que a dominava... Ele ponderou que, para quem sente raiva, ela se portava muito calmamente... Anne o advertiu para não confiar em aparências.
E explicou que estava pensando em como o namoro parecia ser um fardo para ele... Também esclareceu que de sua parte não havia nenhum problema, pois poderia tomar um avião no dia seguinte e retornar para Paris...
O raciocínio de Anne era simples... O fato de permanecerem a sós por muito tempo parecia insuportável, algo que o aborrecia... Uma solução possível era se despedirem.
(...)
Lewis balançou a cabeça e sentenciou que a sugestão dela era grave, dramática... Depois disse que não era verdade que se sentisse aborrecido em sua companhia.
As palavras do amado pareciam ter efeito calmante... Então Anne perguntou se havia algo que o incomodava... Ele respondeu que havia momentos em que se sentia irritado com ela.
Na sequência fez referência à opinião que Anne havia manifestado a respeito do amor, como “algo que não representa tudo”... Partindo dessa constatação, seria certo exigir que o amor fosse “tudo para ele”?
E continuou dizendo que não seria correto sacrificar seus desejos apenas pelo simples fato de eles a aborrecerem... Era só ela que contava na relação? Ele teria de se subordinar sempre?
(...)
Anne não concordou... Sem polemizar, apenas pensou a respeito da incoerência nas palavras de Lewis...
Disse que ele estava enganado, pois ela nada exigia em troca de sua devoção.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_14.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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