Lewis precisava responder à carta enviada por seus editores... Haviam acabado de chegar à cidade do México e Anne desejou breve passeio a pé...
Andaram pelas ruas... Umas mais concorridas... Outras bem suspeitas.
Durante o jantar, Lewis permaneceu em silêncio... Só podia estar pensando sobre a carta que teria de enviar... Acomodou uma folha em branco na escrivaninha do quarto, e durante um bom tempo permaneceu imóvel diante dela... Anne adormeceu sem incomodá-lo.
(...)
Na manhã seguinte, ele anunciou que a carta havia sido
escrita... Anne comentou que ele parecia ter se aborrecido com a tarefa...
Lewis sorriu e disse que ela não devia analisá-lo como fazia com os seus pacientes...
(...)
A semana foi de passeios diversos... De pirâmides a bares dançantes
(alguns de reputação ruim), onde o melhor que se tinha a fazer era bebericar
tequila...
Apesar da mesmice, havia a expectativa de permanecerem
por mais um mês no México.
Aconteceu que num daqueles dias em que tudo o que se tinha para fazer
era passear, descansar e planejar novas saídas, Lewis anunciou que devia
retornar a Nova York imediatamente... Disse que os editores o haviam chamado
para quinze dias, e que não podia adiar, pois se tratava de compromisso contratual...
Estava obrigado à formalidade também porque ela rendia dividendos por ocasião de
lançamentos de livros.
Anne demonstrou surpresa e disse que esperava que pudessem prosseguir em
viagem... E perguntou se ele não alertara os editores que só estaria livre a
partir de julho.
Lewis explicou sobre a inconveniência do mês de julho para o mercado
editorial... Disse que não podia criar obstáculos aos projetos dos editores...
Principalmente porque já fazia quatro anos que vivia a cargo de seus gastos...
Além do mais, ele mesmo precisava de dinheiro e estava satisfeito de poder continuar
a escrever sem ser cerceado.
Ele achou graça de ter percebido que sua “gaulesinha” ficou com uma
fisionomia (“lastimável”) de quem está decepcionado por não ter a própria
vontade satisfeita... De repente, Anne percebeu o quanto era egoísta com quem
sempre se dispunha a fazer-lhe as vontades... Disse que ele era culpado por
mimá-la, mas também que estranhava terem de modificar os planos.
Depois Lewis confirmou que
já na primeira carta os editores o intimavam... Não lhe dissera para não “perder
a viagem” pelo México... Essas informações a sensibilizaram u pouco mais...
Então Anne disse que ele poderia ter-lhe dito, pois ela suportaria a
condição... Ela era forte suficiente para entender e colaborar...
Para tranquilizá-lo a
respeito de qualquer dúvida que ainda pudesse sustentar, Anne garantiu que em
Nova York seria ela que faria todas as vontades do amado... Lewis demonstrou
contentamento, mas ela notou que já fazia algum tempo que ele não manifestava
verbalmente o seu amor... Estaria farto da convivência? Por que ansiava tanto
pelo retorno a Nova York?
(...)
Fazia calor na “Big
Apple”...
Logo pela manhã, Anne despertou solitária de seu sono... Tomou banho,
escreveu cartas, leu...
Lewis havia saído bem cedo
e retornou às sete e meia da noite... Estava bem animado ao dizer que havia se
encontrado com Felton... É a própria Anne quem o descreve (a partir de
informações anteriores de Lewis) como um tipo ligado à vida noturna, quando se engajava
em bandas como tamborista... Durante o dia se tornava taxista e não desprezava
as drogas... Sua companheira também era usuária e amargava a ganha pão nas
calçadas (“fazia o trottoir”)...
Sobre esse casal é preciso
dizer que haviam deixado Chicago, onde eram chegados de Lewis, por problemas de
saúde...
Depois de ter deixado os editores, Lewis percorreu alguns pontos da
cidade na expectativa de encontrar o endereço de Felton... Não obteve sucesso,
mas conseguiu seu telefone.
Era com entusiasmo desmedido que anunciava que
Felton os aguardava naquela noite... Lewis tinha certeza de que Anne também
ficaria animada ao conhecer a grande cidade a partir do foco de Felton.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_10.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto
