A surpresa que Lewis reservou para Anne (ele conseguiu que o porteiro do hotel intermediasse a negociação com a velha índia, e assim conseguiu comprar o seu “velho huipil maravilhoso”) rendeu bons momentos de pura harmonia ao casal...
E tudo favorecia: lareira e tapete do quarto, uísque e chuva à noite inteira...
(...)
O
“clima” só foi alterado quando a conversa sobre o futuro incerto dos amantes
veio à tona mais uma vez... Anne manifestou que gostaria muito que pudessem
“eternizar a união”... Lewis também disse que esperava o mesmo, e emendou que
tudo se resolveria se ela se divorciasse...
Mas é claro que não era bem
assim... Na avaliação de Anne, sua idade já não suportaria aquele tipo de
aventura, e além do mais não podia desprezar de um momento para outro a sua
condição de esposa de Robert e mãe de Nadine... E isso sem se levar em
consideração a sua vida profissional...
Lewis
disse que não se importava com nada daquilo... Então Anne perguntou-lhe sobre o
que achava de se mudar para a França... Uma máquina de escrever é tão fácil de
transportar (outros tempos)... Ele refutou no mesmo instante e deu como
justificativa o fato de não falar francês e de “não poder escrever em outro
país”.
(...)
Lewis
admitia que uma série de empecilhos inviabilizasse uma hipotética transferência
para o outro lado do oceano... Anne quis mostrar-lhe que o seu caso não era
muito diferente... De sua parte, queria deixar claro que, pelo amor que
devotavam um ao outro, valia a pena “esperar na felicidade” e assegurar que se
encontrariam todos os anos que tivessem pela frente.
Ele
levantou a questão sobre perderem “três quartas partes” de sua vida esperando
pelos momentos em que podiam desfrutar desse amor... Por que tinham de esperar
tanto? Anne disse que, também para ele, “o amor não é tudo”.
Essas
palavras pesaram-lhe no coração porque em seu íntimo ela sabia que não poderia
perdê-lo... Lewis concordou repetindo que “o amor não é tudo”, e Anne completou
que as demais coisas que os prendiam não deviam impedir que eles continuassem a
se amar...
Ela finalizou dizendo que
essa era uma constatação que não podia impor um “mal querer” da parte de Lewis.
As
lágrimas enchiam os olhos de Anne, que precisava da aceitação do amado... Foi
quase sem poder se sustentar sobre as pernas que ela se lançou para os seus
braços.
Lewis
notou o pranto e pediu que ela não chorasse... Disse que essas situações é que
o faziam sofrer... Mimou-a chamando-a de “minha gaulesinha”.
(...)
No dia seguinte Anne não escondia a sua felicidade
durante o passeio que fizeram à histórica e elevada Quetzaltenango (também na
Guatemala)... Falava abertamente sobre os planos futuros... Uma temporada nos
Estados Unidos, outra na Europa (onde ela o levaria para conhecer a França, a
Itália...)...
Depois de alguns dias deixaram
as altitudes e seguiram para a costa do país... Anne descreve a mudança da
paisagem conforme o ônibus percorria a estrada até chegar a Motzatenango, onde
havia uma feira em que os indígenas locais negociavam seus artigos...
Seguiram para a capital num
trenzinho a vapor, e os cento e vinte quilômetros foram percorridos em dez
horas... Do aeroporto local até a cidade do México foram outras cinco horas.
(...)
Lewis demonstrou toda
a sua satisfação ao aterrissar numa cidade grande, que era o ambiente que ele
mais apreciava... Haviam reservado vaga no hotel com antecedência, e é por isso
que ao chegarem havia uma carta de Robert... Dessa vez Anne compartilhou a
mensagem que recebera do marido... Ele dava notícias de Nadine (triste, mas
calma) e de Paule (em tratamento; quase curada)...
Havia
também uma correspondência para Lewis... Seus editores pediam alguns detalhes
de sua biografia, pois providenciavam um lançamento espetacular para o seu novo
livro...
Anne observou que seu
trabalho lhe renderia um bom dinheiro... Lewis deu a entender que não dava a
menor importância, mas acrescentou que tinha de responder imediatamente aquela
carta...
Ela lamentou que se assim fosse não poderiam dar
uma volta pela cidade... Lewis observou com humor que, para quem possuía cabeça
pequena, ela tinha olhos que nunca se cansavam de olhar...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto