terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Felton e seus amigos, figuras deploráveis; Lewis admitia o seu encanto por tipos como aqueles sem jamais ter se tornado um deles; desgaste da relação? Lewis planeja alguns dias de convívio com Jack Murray e sua família

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html antes de ler esta postagem:

Felton era um tipo pálido e alto... Habitava uma mansarda que, durante o verão, se tornava absurdamente quente...
Sua companheira logo apareceu acompanhada de dois moços bem jovens... Eles estavam munidos de várias latas de cerveja.
(...)
Para Anne, a expectativa que se criou sobre a Nova York a partir do olhar de Felton, o “diferenciado”, resultou em frustração... E para piorar, a conversa entre os amigos de Lewis era sobre tipos que ela não tinha a menor ideia de quem fossem... Tipos que estavam encarcerados ou que em breve obteriam a liberdade.
Os assuntos que os animavam eram deprimentes... Além do mais, a impressão que Ane tinha era a de que todos eles pareciam bem inteirados a respeito do tráfico de drogas e sobre os policiais que aceitavam suborno...
Se ela não se sentia à vontade, Lewis, por outro lado, se mostrava muito animado... Mas está claro que a sua identificação com aquele submundo desagradava Anne.
(...)
O pior, para ela, é que as festas, jantares e almoços dos quais sempre saía desanimada, pareciam não ter fim... Desde que chegaram à Nova York, os poucos momentos que podia desfrutar junto a Lewis eram no cinema ou numa plateia de alguma luta de boxe.
(...)
Chegou o momento de Lewis perguntar para Anne a respeito de sua avaliação a respeito de Felton... Ela foi sincera ao responder que nada tinha a dizer àquele tipo, ao mesmo tempo em que entendia o fato de também ele não ter nenhum assunto para debater com ela.
Depois Anne lamentou o fato de as pessoas que Lewis mais admirava serem viciados e envolvidos na criminalidade...
Ele também se manifestou com sinceridade ao admitir que os considerava mais interessantes e divertidos... Admirava sobretudo os tipos como Felton... E garantiu que ele mesmo nunca se envolvera com entorpecentes.
Aquele juízo não trazia tranquilidade a Anne... Apesar do modo divertido de se colocar, era certo que Lewis dizia a verdade... De alguma maneira, aquilo significava que ele havia preferido levar uma existência “sem riscos”...
Em seus pensamentos, a hesitação do amado só podia ser resultado de suas reflexões a respeito do caso amoroso que mantinham... Isso significava, no mínimo, que ele estava mudado.
(...)
Numa tarde, Lewis apareceu com animação diferenciada... Ele havia passado o dia gravando entrevista para uma emissora de rádio... De fato, sua agenda parecia não possuir lacunas...
Ele chegou anunciando que jantariam com Jack Murray, um amigo escritor que “morria de vontade de conhecê-la”...
Anne protestou porque já estava desanimada por não poderem permanecer sozinhos sequer por uma noite...
Lewis prometeu que não demorariam com Murray... Disse isso e foi ajeitando um terno novo que havia comprado... Garantiu também que certamente ela iria aprovar a noite... Tudo seria bem agradável, até porque jantariam no Central Park em mesa ao ar livre... E foi antecipando também que havia acertado um projeto com Murray... É claro que Anne estava envolvida...
(...)
O fato é que Murray convidara Lewis para que passasse algum tempo com a namorada em sua casa de vilarejo nas proximidades de Boston. E como seriam aqueles dias? Mais uma vez Anne manifestava a sua preocupação porque não estava a fim de conviver com estranhos... Seu interesse era unicamente ficar a sós com Lewis, nem que para isso tivessem de sofrer com o calor de Chicago.
Lewis não via nenhuma necessidade de permanecerem sós “sob o pretexto de amor”... Podiam, sim, ficar uns dias com Murray, que morava com a mulher e dois filhos.
Os argumentos de Lewis fizeram Anne pensar mais uma vez sobre a possibilidade de ele estar aborrecido com ela, ou então podia ser que o convívio já lhe causasse enfastio.
Antes que ela pudesse dizer-lhe qualquer coisa a respeito, viu-se sozinha no quarto a se arrumar com uma sandália dourada, uma blusa de rendas e uma saia mexicana... Lewis já tomava banho sem pensar sobre a condição dos dois.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas