Murray se despediu ao mesmo tempo em que intimou o casal a visitá-lo na semana seguinte.
Quando começaram a caminhar, Lewis ponderou que talvez o amigo quisesse permanecer com eles por mais algum tempo... Anne deixou claro que não pretendia prolongar aquele encontro.
Lewis estranhou sua rispidez, principalmente porque entendia que ela havia se dado muito bem com Murray... Na sequência, ela emendou que precisavam conversar mais reservadamente. Sua fisionomia não era daquelas que se mostram dispostas a gracejos...
(...)
Encontraram uma pedra em meio ao gramado e se
acomodaram nela...
Anne deixou claro que enquanto ele estava no banho, mexeu em seus papéis
sobre a mesa e que ficou sabendo, através da carta de seus editores, que ele
mesmo havia proposto o retorno imediato... Era com irritação que dizia que
nunca houve nenhuma exigência da parte deles, como ele dissera no México.
Lewis mostrou-se profundamente irritado ao saber que
ela havia lido sua correspondência... Anne disse que o mais grave era a sua
mentira... Para ele, a atitude dela os colocava em “pé de igualdade”.
Mas então, o que estava acontecendo com a relação? Era isso o que Anne
pretendia saber! Será que ele não entendia que o retorno precipitado abalaria a
situação? Tornou-se muito mais difícil permanecerem a sós... Ele mesmo podia
constatar.
Ele tentou justificar dizendo que a viagem ao México estava muito
cansativa... Tudo o que se viam eram índios e ruínas! Foi por causa disso que
planejou a “mudança de ares”... O que havia de tão trágico nisso?
É claro que a resposta que ouviu não era satisfatória... Todavia, Anne
quis saber por que ele não lhe dissera a respeito de seu enfastio... Lewis
explicou que tinha certeza de que, se falasse a respeito da “mesmice mexicana”,
ela o obrigaria a permanecer.
Obviamente ela repudiou o que ouviu e quis saber se em algum momento ela
o obrigara ou impedira de fazer qualquer coisa... E emendou que, sempre que ele
a satisfazia em todas as suas vontades, passava-lhe a impressão de que a
atitude também lhe dava prazer.
Anne não tinha como evitar
aquele “senão”... Ela era levada a crer que tudo o que vivenciaram escondia
algumas “queixas”. Lewis não negou que assim fosse e argumentou que ela possuía
esse gênio de quem “não larga o que planeja” e que aos outros resta apenas
resignação.
Ele citou como exemplo o
fato de querer passar um mês na casa de Murray, mas ela se mantinha
reticente... Anne não concordou e perguntou se algo semelhante teria ocorrido
anteriormente... Lewis respondeu que, se dependesse dela, teriam permanecido
por mais tempo no México...
Anne disse que também
neste ponto ele não tinha razão... Até porque viajam e faziam os planos
juntos... Ele devia saber que podia propor-lhe o que bem entendesse... Se tivesse
manifestado o seu desejo de retornar a Nova York tudo acabaria sem o desgaste
que estavam enfrentando.
(...)
Lewis insistia que havia apenas aplicado uma “mentirinha” e que graças a
isso ganharam tempo. De sua parte, Anne devolveu-lhe que sua atitude tinha sido
das mais graves.
Ela se surpreendeu ainda
mais (e nem pôde acreditar) quando ele comentou que “nunca se diz a verdade” a
todo o momento... E mais! Lewis disse que a “maior mentira” estava na tentativa
das pessoas pretenderem dizer apenas a verdade.
Fim da conversa no Central Park.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-ao.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto