quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – conversa franca no Central Park; revelações intrigantes; a verdade deve ser dita a todo momento?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_11.html antes de ler esta postagem:

Murray se despediu ao mesmo tempo em que intimou o casal a visitá-lo na semana seguinte.
Quando começaram a caminhar, Lewis ponderou que talvez o amigo quisesse permanecer com eles por mais algum tempo... Anne deixou claro que não pretendia prolongar aquele encontro.
Lewis estranhou sua rispidez, principalmente porque entendia que ela havia se dado muito bem com Murray... Na sequência, ela emendou que precisavam conversar mais reservadamente. Sua fisionomia não era daquelas que se mostram dispostas a gracejos...
(...)
Encontraram uma pedra em meio ao gramado e se acomodaram nela...
Anne deixou claro que enquanto ele estava no banho, mexeu em seus papéis sobre a mesa e que ficou sabendo, através da carta de seus editores, que ele mesmo havia proposto o retorno imediato... Era com irritação que dizia que nunca houve nenhuma exigência da parte deles, como ele dissera no México.
Lewis mostrou-se profundamente irritado ao saber que ela havia lido sua correspondência... Anne disse que o mais grave era a sua mentira... Para ele, a atitude dela os colocava em “pé de igualdade”.
Mas então, o que estava acontecendo com a relação? Era isso o que Anne pretendia saber! Será que ele não entendia que o retorno precipitado abalaria a situação? Tornou-se muito mais difícil permanecerem a sós... Ele mesmo podia constatar.
Ele tentou justificar dizendo que a viagem ao México estava muito cansativa... Tudo o que se viam eram índios e ruínas! Foi por causa disso que planejou a “mudança de ares”... O que havia de tão trágico nisso?
É claro que a resposta que ouviu não era satisfatória... Todavia, Anne quis saber por que ele não lhe dissera a respeito de seu enfastio... Lewis explicou que tinha certeza de que, se falasse a respeito da “mesmice mexicana”, ela o obrigaria a permanecer.
Obviamente ela repudiou o que ouviu e quis saber se em algum momento ela o obrigara ou impedira de fazer qualquer coisa... E emendou que, sempre que ele a satisfazia em todas as suas vontades, passava-lhe a impressão de que a atitude também lhe dava prazer.
Anne não tinha como evitar aquele “senão”... Ela era levada a crer que tudo o que vivenciaram escondia algumas “queixas”. Lewis não negou que assim fosse e argumentou que ela possuía esse gênio de quem “não larga o que planeja” e que aos outros resta apenas resignação.
Ele citou como exemplo o fato de querer passar um mês na casa de Murray, mas ela se mantinha reticente... Anne não concordou e perguntou se algo semelhante teria ocorrido anteriormente... Lewis respondeu que, se dependesse dela, teriam permanecido por mais tempo no México...
Anne disse que também neste ponto ele não tinha razão... Até porque viajam e faziam os planos juntos... Ele devia saber que podia propor-lhe o que bem entendesse... Se tivesse manifestado o seu desejo de retornar a Nova York tudo acabaria sem o desgaste que estavam enfrentando.
(...)
Lewis insistia que havia apenas aplicado uma “mentirinha” e que graças a isso ganharam tempo. De sua parte, Anne devolveu-lhe que sua atitude tinha sido das mais graves.
Ela se surpreendeu ainda mais (e nem pôde acreditar) quando ele comentou que “nunca se diz a verdade” a todo o momento... E mais! Lewis disse que a “maior mentira” estava na tentativa das pessoas pretenderem dizer apenas a verdade.
Fim da conversa no Central Park.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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