Ziauddin a incentivou e garantiu que faria de tudo para proteger a sua liberdade, cada vez mais ameaçada na medida em que os radicais tomaram espaço também na região.
E tudo se agravou depois dos ataques ao World Trade Center em setembro de 2001... Bin Laden fugiu para o Paquistão, onde contava com muitos seguidores e apoiadores... Um deles, Maulana Fazlullah, atuou no Swat (inicialmente a partir da “Mulá FM”) e propagou princípios éticos “islâmicos-fundamentalistas”... Isso incluía a instalação de tribunais independentes do governo e a aversão à educação de meninas...
*desde novembro do ano passado, Fazlullah é o novo chefe talibã no Paquistão.
Os talibãs conseguiram atrair vários jovens para a sua causa... Em 2007 promoveram o assassinato de Benazir Bhutto...
Garantindo que instituições como a Khushal vão contra os princípios islâmicos, Fazlullah resolveu que todas as escolas para meninas deveriam fechar.
(...)
Em
2008, sob o pseudônimo Gul Makai (“nome de uma heroína do folclore pachtum”),
Malala redigiu o Diário de uma Estudante
Paquistanesa, um blog que foi criado a partir da ideia de um correspondente
da BBC (inspirado na experiência vivida por Anne Frank ao tempo da Segunda
Guerra, Abdul Hai Hakar falou sobre esse intento com Ziauddin)... Malala contava
apenas 11 anos, mas se ofereceu para escrever sobre sua vida escolar e as dificuldades
que as crianças paquistanesas enfrentavam para estudar.
São
palavras da própria Malala:
Quando ouvi meu pai falando
a respeito, perguntei: “Por que não eu?”. Eu queria que as pessoas soubessem o
que estava acontecendo. A Educação é direito nosso, eu dizia. Assim como é
nosso direito cantar. O Islã nos deu esse direito ao dizer que toda menina e
todo menino devem ir à escola. No Corão está escrito que devemos buscar o conhecimento,
estudar com afinco e aprender sobre os mistérios do nosso mundo.
O
blog foi produzido por alguns meses, mas alcançou grande repercussão fora do
país.
(...)
Pelo
menos por aquela época, a relação entre talibãs e o governo paquistanês podia
ser entendida como muito ambígua, pois ao mesmo tempo em que se garantia que o
exército colaborava com as ações norte-americanas, fechava-se acordo de paz com
suas lideranças...
Os fundamentalistas avançaram, tomaram o Swat e isso
provocou a reação do governo, que fez guerra e declarou a expulsão dos
talibãs... Tudo isso se deu no decorrer de 2009. Dois anos depois ocorreu a
execução de Bin Laden...
Embora o exército
garantisse que a paz retornara, o talibã permanecia com sua atuação de intimidação.
Ziauddin e a filha recebiam ameaças, e o atentado de 9 de outubro de 2012 foi a
conclusão de um plano que se anunciava abertamente.
A comoção foi geral,
governo e exército se esforçaram para salvar Malala. Após esforços tremendos, a
estudante foi transferida para tratamento Birminghan, onde vive e estuda atualmente.
Sua atuação tem prosseguimento, sobretudo com o Fundo Malala (visite www.malalafund.org).
(...)
Não
há como negar que a jovem tornou-se liderança mundial. A revista Time a relacionou entre as cem
personalidades mais influentes do mundo... Celebridades de todo o planeta (não
só políticas) mantém contato com ela.
Havia grande expectativa de
que ela recebesse o Nobel da Paz no final do ano passado, o que acabou não se
confirmando (o prêmio foi para a OPAC – Organização de Proibição para as Armas
Químicas).
Toda
essa movimentação em torno de Malala gera críticas que garantem que o Ocidente a
usa como peça de propaganda contra o mundo islâmico. Muitos dizem que ela
preferiu trocar suas raízes pelo conforto britânico. Certamente o lançamento do
documentário baseado em seu livro (previsto para este ano) sob a direção de
Davis Guggenheim (Uma Verdade
Inconveniente) será mais um episódio em que as críticas à família Yousafzai
virão à tona, e mais uma vez Malala estará no centro das atenções e “bombardeios”.
(...)
Eu sou Malala está encontrando sérias restrições no Paquistão. O desejo de Malala de participar de um evento de lançamento do livro esbarra em ameaças diversas... Líderes de províncias se recusam a promovê-lo e o próprio
governo não dá garantia de segurança plena.
Há essa realidade que a intolerância
insiste em tornar permanente...
No
último mês noticiou-se a morte de Aitezaz Hassan, de 17 anos, que tentou
impedir a ação de um terrorista contra a escola de Khyber Pakhtunkhwa...
Muito triste.
Na última frase do livro a jovem
garante que o seu mundo mudou, mas ela não.
Os radicais mostram que dificilmente mudarão.
Um abraço,
Prof.Gilberto