Depois que deixaram o país de Psique, Afrodite seguiu com ela até o seu palácio... Ali tudo era belo e reluzente. Nas cercanias podiam ser contemplados jardins e rios com quedas d’água. Tudo era fantástico, desde as flores de cores variadas até os exóticos animais que apresentavam constituições híbridas (formados da mistura de duas ou três espécies)... Cavalos alados, minotauros amistosos e querubins também podiam ser avistados.
(...)
Mas o primeiro desafio a que Psique foi submetida teve lugar em um local
menos atraente: o celeiro... Ali, Afrodite mostrou-lhe “uma tonelada de grãos
de trigo misturados a grãos de aveia”... A princesa deveria separar os grãos
até o anoitecer, pois no dia seguinte os pombos sagrados deviam ser
alimentados.
É claro que Psique
perguntou como poderia resolver a tarefa em tão pouco tempo. Mãos humanas não
teriam condições de realizar a separação dos minúsculos e incontáveis grãos...
A deusa debochou e disse que suas belas mãos não suportariam o trabalho...
Psique pediu mais tempo, porém ouviu a deusa repetir o que ela mesma havia
garantido anteriormente, ou seja, que “faria qualquer tarefa” para conquistar o
direito de se casar com Eros.
Afrodite se despediu dizendo que tinha de participar
do banquete dos deuses, e esbravejou que esperava encontrar tudo organizado
quando retornasse.
(...)
Apesar de não saber por onde começar a separação dos grãos, Psique
lembrou-se do velho misterioso que lhe fez companhia logo depois de ter saído
do palácio de Eros. Lembrou-se que ele havia afirmado que sua trajetória seria
marcada por batalhas, mas ela contaria com os três dons (sensibilidade,
política e força) por ele concedidos.
A princesa não via como algum daqueles dotes poderia ajudá-la
na resolução do desafio... O tempo passou e Psique concluiu que suas mãos não
eram de modo algum adequadas para a tarefa... Desesperada, pôs-se a chorar...
Bem perto dela estavam cinco formigas que se movimentavam como que
capitaneadas por outra “mais falante”...
(...)
O autor lança mão de humor e brinca com eventos relacionados aos grupos
esquerdistas quando se refere às formiguinhas e os diálogos que mantêm. Elas se
chamam Papata, Pepeta, Pipita, Popota e Raimundinho... Seguem orientação
marxista e a todo instante o chefe as adverte sobre a necessidade de
trabalharem com afinco...
(...)
As operárias protestavam por terem de carregar muitos grãos e receberem
como paga apenas um salário mínimo... Uma delas se dizia animada com o trabalho
hercúleo que realizavam e perguntou o motivo de tantos grãos acumulados num
único local, emendou que eles bem poderiam ser usados na alimentação de “muitas
bocas numa reforma social”... Pipita era a menos
empolgada do grupo por saber que todo aquele alimento seria destinado aos
pombos sagrados (o cúmulo do liberalismo!)... Popota suspirou ao dizer que
gostaria de ser um daqueles pombos, que tinham “tudo no biquinho” e viviam às
custas do Estado... Raimundinho ouviu as colegas e protestou ao concluir que
naquele palácio não havia distribuição da riqueza... Este era um tipo com
problemas fonoaudiológicos e se pronunciou ao seu modo característico (“unch
com tantoch e outroch com tão pouco”)...
Na sequência o capitão exigiu ordem e iniciou um
discurso doutrinário entremeado por perguntas que as outras respondiam sem
pestanejar... Lembrou que naquele regimento possuíam princípios, leis e
liderança. Ao tratar dos objetivos relacionados à liderança sobre os demais “insetos
pobres contra a injustiça social”, quis saber dos demais se conheciam “o
principal dever da Constituição; o dever do Estado segundo o ideal Comunista; o
dever do cidadão e da sociedade unificada...” Papata, Pepeta, Pipita e Popota
respondiam satisfatoriamente... Raimundinho não entendia por que devia
responder às questões mais difíceis, como “quem nasceu primeiro: o ovo ou a
galinha?”, então dizia apenas “não facho ideia”...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/02/eros-e-psique-partir-de-texto-de-joao_6.html
Leia: Eros e Psique. Coleção Mitológica. Editora Paulus.
Um abraço,
Prof.Gilberto