Depois de Poseidon foi a vez de Hades se pronunciar. Ele vestia uma capa preta e montava seu imponente cavalo negro. Seu olhar assustador estava ressaltado por forte luz infravermelha nos olhos. Para Eros, sua presença no Tribunal representava voto para sua condenação.
(...)
O discurso do deus do Mundo Inferior esclarecia que o crime era grave
porque o réu havia enganado o Oráculo sagrado ao passar-se por monstro (enganou
também a própria mãe) só para manter-se junto a Psique... O acusador disse que
a condenação o faria repensar sobre seus atos.
Hades estava disposto a
convocar o Oráculo para dar o seu testemunho. Mas a reação de Eros foi a de
quem despreza as ameaças inimigas. Riu e foi advertido por Zeus de que deveria
se explicar satisfatoriamente.
Eros esclareceu que Hades também havia sido atingido
por uma de suas flechas (e é por isso que ele se apaixonou pela ninfa Perséfone)...
Ela nunca quis se casar com ele e, por esse motivo, o deus do Submundo a havia
raptado. Era “sob a ameaça de seu tridente” que ele a forçava viver junto ao
fogo infernal.
Hades quis saber de que forma aquele relato se relacionava ao julgamento
que se processava. Eros respondeu que Psique havia se casado com um monstro, e
era assim mesmo que ele se sentia por tê-la feito mal... Ele queria dizer que,
assim, se assemelhava ao acusador.
O deus do Amor estava demonstrando que os demais
queriam acusá-lo de crimes com os quais eles próprios podiam ser identificados...
E mais, deixou claro que, enquanto viveu em seu castelo, Psique foi livre e
podia ir embora quando bem entendesse, além disso, ela havia se casado com ele
sem maiores pressões...
Eros argumentou que o mesmo não podia ser dito de Perséfone, que era
prisioneira de Hades e tinha sido levada à força para os seus domínios.
O acusador sentiu-se ameaçado, e em tom de defesa disse que o rapto de
Perséfone só ocorreu porque ele tinha sido flechado (e amaldiçoado) pelo
acusado... Eros sorriu mais uma vez, pois considerava espantoso o modo como
relacionam facilmente o amor à maldição... Garantiu que todos precisam amar e
sofrer. Nesse sentido os dois também se pareciam porque Hades transmitia o
sofrimento às pessoas, enquanto Eros transmitia o amor.
Hades solicitou a Zeus que não levasse em consideração aquela defesa e
condenasse Eros “à escuridão por toda a eternidade”... A resposta de Zeus
apresentou a argumentação de que, no caso de condenação a Eros, Hades sofreria
o mesmo castigo, pois havia sido provado “que é tão monstruoso quanto o réu”.
(...)
Zeus esclareceu que desde que havia destronado Cronos (o pai dos
deuses), e dividido os ambientes para que cada um dos irmãos os controlasse,
observava com atenção os procedimentos do deus do Mundo Inferior... Disse isso
ao mesmo tempo em que atirava mais um raio sobre a Terra.
(...)
Os demais deuses comentaram
entre si as declarações de Zeus, que passou a palavra a Ares.
Portando o seu
gládio, ele iniciou a acusação dizendo que Eros deixou de realizar “seu
trabalho primordial” durante os dois anos em que esteve ausente. No seu
entendimento, era exatamente por não ter disseminado o amor entre os homens que
a Terra sofria com vários desacordos que resultaram em caos e guerras.
Eros defendeu-se dizendo que não era por sua
causa que a situação piorara... Pensava mesmo que o caos sempre foi constante e
que Terra, Céu e Inferno estavam em estado de permanente choque; “ar, água e
barro se juntam, assim como o ódio e o amor”. O jovem deus garantiu que,
durante os dois últimos anos, o que mais fizera foi disseminar o amor em seu
castelo, amando sua esposa e sendo amado por ela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/02/eros-e-psique-partir-de-texto-de-joao_14.html
Leia: Eros e Psique. Coleção Mitológica. Editora Paulus.
Um abraço,
Prof.Gilberto