Há que se registrar
que a adaptação de Pallottini (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar-serie.html) não dá conta da riqueza de detalhes que
podemos apreciar quando lemos a obra original... Faço esses registros para
destacar que vale a pena dedicar-se à leitura de O Guarani... Belíssimo texto inspirado em documentação, revelador
do momento histórico em que a história se passa, e revelador da mentalidade
ocidental do século XIX em relação aos povos dominados pelos europeus.
O “Guarani” do título da obra pretende significar “o indígena brasileiro”.
Alencar descreve o Paquequer e o lugar da Serra dos Órgãos onde os
acontecimentos estão ambientados (início do século XVII) de modo tão minucioso
que nos leva ao lugar repleto de “beleza selvática”; época em que a cidade do
Rio de Janeiro “engatinhava”, pois não tinha completado ainda mio século de
fundação... Então o livro é aberto assim, com a apresentação da mata virgem conhecida
pelos nativos (comumente denominados “Tupi” pelos cronistas) e por aventureiros
portugueses que buscavam, a partir do desbravamento, descobrir riquezas...
À margem direita do
Paquequer foi construída a “casa larga e espaçosa” (...) “sobre uma eminência,
e protegida de todos os lados por uma muralha de rocha cortada a pique”... A
engenhosidade humana havia interagido com os elementos naturais... Também por
isso o cenário se apresentava harmônico. A ponte de madeira “construída sobre
uma fenda larga e profunda que se abria na rocha” permitia a descida até a
beira do rio, numa curva sombreada “pelas grandes gameleiras e angelins que
cresciam ao longo das margens”...
A casa, de arquitetura simples, tinha cinco janelas
baixas e largas em sua parte da frente... Havia um belo jardim que “imitava a
rica natureza”. O espaço digno de admiração era composto por “flores agrestes
de nossas matas, pequenas árvores copadas, (...) um fio de água, fingindo um
rio e formando uma pequena cascata”... O ambiente era como que uma miniatura da
natureza que o cercava...
Era ao fundo da casa, separados dela, que haviam sido construídos “dois
grandes armazéns ou senzalas”, onde se instalavam aventureiros e “acostados”...
À beira do precipício havia uma muito simples cabana de sapé levantada a partir
de duas palmeiras que se levantavam de fendas das pedras.
O interior da casa também é ricamente descrito... Sua entrada principal
era guardada por pesada porta de jacarandá... Na sala principal notavam-se
paredes e teto caiados... Próximos às janelas estavam os retratos de um velho
fidalgo e de uma senhora também idosa. Acima da porta estava inscrito o “brasão
de armas”, descrito com cuidado e precisão pelo texto.
Nos Anais do Rio de Janeiro,
tomo 1º, pesquisados por Darcy Damasceno, é possível conhecer o brasão da “casa
dos Marizes” que é, portanto, histórico.
A sala apresentava móveis que preenchiam harmoniosamente os espaços (cadeiras
de couro, mesa de jacarandá de pés torneados, lâmpada de prata no teto...). Como
todo lar cristão, ali também se contemplava um oratório... Tudo muito simples e
envolto em atmosfera severa e triste.
De muita simplicidade também eram os demais cômodos... A exceção era o
quarto da filha do fidalgo. Ali se notavam capricho e delicadeza em que
brocados de seda se misturavam a belas penas de aves do lugar e tapete de peles
de animais selvagens.
A casa, já sabemos, era de d. Antônio de Mariz...
Ainda a partir das informações de Darcy Damasceno, sabemos que se trata de
personagem histórico.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar-dados.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto