quarta-feira, 29 de maio de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – considerações sobre as descrições do início do livro; a mata, o Paquequer e a casa de d. Antônio de Mariz

Há que se registrar que a adaptação de Pallottini (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar-serie.html) não dá conta da riqueza de detalhes que podemos apreciar quando lemos a obra original... Faço esses registros para destacar que vale a pena dedicar-se à leitura de O Guarani... Belíssimo texto inspirado em documentação, revelador do momento histórico em que a história se passa, e revelador da mentalidade ocidental do século XIX em relação aos povos dominados pelos europeus.
O “Guarani” do título da obra pretende significar “o indígena brasileiro”.
Alencar descreve o Paquequer e o lugar da Serra dos Órgãos onde os acontecimentos estão ambientados (início do século XVII) de modo tão minucioso que nos leva ao lugar repleto de “beleza selvática”; época em que a cidade do Rio de Janeiro “engatinhava”, pois não tinha completado ainda mio século de fundação... Então o livro é aberto assim, com a apresentação da mata virgem conhecida pelos nativos (comumente denominados “Tupi” pelos cronistas) e por aventureiros portugueses que buscavam, a partir do desbravamento, descobrir riquezas...
À margem direita do Paquequer foi construída a “casa larga e espaçosa” (...) “sobre uma eminência, e protegida de todos os lados por uma muralha de rocha cortada a pique”... A engenhosidade humana havia interagido com os elementos naturais... Também por isso o cenário se apresentava harmônico. A ponte de madeira “construída sobre uma fenda larga e profunda que se abria na rocha” permitia a descida até a beira do rio, numa curva sombreada “pelas grandes gameleiras e angelins que cresciam ao longo das margens”...
A casa, de arquitetura simples, tinha cinco janelas baixas e largas em sua parte da frente... Havia um belo jardim que “imitava a rica natureza”. O espaço digno de admiração era composto por “flores agrestes de nossas matas, pequenas árvores copadas, (...) um fio de água, fingindo um rio e formando uma pequena cascata”... O ambiente era como que uma miniatura da natureza que o cercava...
Era ao fundo da casa, separados dela, que haviam sido construídos “dois grandes armazéns ou senzalas”, onde se instalavam aventureiros e “acostados”... À beira do precipício havia uma muito simples cabana de sapé levantada a partir de duas palmeiras que se levantavam de fendas das pedras.
O interior da casa também é ricamente descrito... Sua entrada principal era guardada por pesada porta de jacarandá... Na sala principal notavam-se paredes e teto caiados... Próximos às janelas estavam os retratos de um velho fidalgo e de uma senhora também idosa. Acima da porta estava inscrito o “brasão de armas”, descrito com cuidado e precisão pelo texto.
Nos Anais do Rio de Janeiro, tomo 1º, pesquisados por Darcy Damasceno, é possível conhecer o brasão da “casa dos Marizes” que é, portanto, histórico.
A sala apresentava móveis que preenchiam harmoniosamente os espaços (cadeiras de couro, mesa de jacarandá de pés torneados, lâmpada de prata no teto...). Como todo lar cristão, ali também se contemplava um oratório... Tudo muito simples e envolto em atmosfera severa e triste.
De muita simplicidade também eram os demais cômodos... A exceção era o quarto da filha do fidalgo. Ali se notavam capricho e delicadeza em que brocados de seda se misturavam a belas penas de aves do lugar e tapete de peles de animais selvagens.
A casa, já sabemos, era de d. Antônio de Mariz... Ainda a partir das informações de Darcy Damasceno, sabemos que se trata de personagem histórico.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-guarani-de-jose-de-alencar-dados.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

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