A narrativa de Emília mereceu ouvidos atentos de todos... A mudança de procedimentos que o inquisidor de sua novela adotou em relação ao bom e penitente homem suscitou comentários e risos... Depois de Emília foi a vez de Filóstrato contar a sua história... Ele teceu críticas ao comportamento dos sacerdotes que conviviam em meio a vícios, e elogiou o desfecho da narrativa de Emília, pois aquele final de história demonstrou que o que sofria (mesmo em condição de fragilidade) a perseguição do inquisidor avarento, “feriu a hipócrita caridade fradesca, que dá aos pobres o que deveria ser atirado aos porcos ou jogado fora”.
Em relação à sua novela, Filóstrato começou dizendo que falaria de certo Cane della Scala, um tipo muito rico, “senhor esplendoroso”... E avarento.
Adiantamos que sua narrativa concentrou-se em uma novela que Cane della Scala teve de ouvir... Então temos “uma novela dentro de outra”... Ao final Scala acabou por enxergar a si mesmo na “novela contada pelo personagem Bergamino da história de Filóstrato”; reconheceu a si mesmo nas referências negativas ao “abade de Cligni”, tão rico, mesquinho e avarento como ele...
Filóstrato seguiu contando:

Os que foram admitidos receberam a hospedagem, os dispensados retiraram-se... Mas um tipo de nome Bergamino não foi formalmente admitido nem despedido e, por isso, ficou nas proximidades do luxuoso evento. Talvez aguardasse um desfecho que estivesse reservado para si.
Sobre este Bergamino, diziam que se tratava de homem de retórica, que sabia entreter com narrativas... Certamente o senhor Cane, apesar de conhecê-lo, não lhe dava importância.
Sucedeu que os dias se passaram e Bergamino, distante de sua residência, enfrentou várias dificuldades naquele lugar. Entristeceu-se porque fizera dívidas para participar do evento social. Além de alguns criados e cavalos, dispunha de três ricas vestimentas propícias para a ocasião. Teve de se desfazer de dois dos trajes que serviram de pagamento ao estalajadeiro que o abrigou... A terceira vestimenta também foi dada como pagamento de sua alimentação. Evidentemente este infortúnio o deixou melancólico.
Apesar de seus tormentos, Bergamino acabou encontrando-se com o senhor Cane, e numa ocasião em que este se refestelava com um belo jantar... Foi com desprezo, e querendo ferir os sentimentos do pobre homem, que o avarento questionou-lhe sobre seu estado melancólico. Bergamino notou a falta de humanidade do outro e viu naquela ocasião a possibilidade de fazer a sua narrativa na esperança de sensibilizar o outro.
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Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto