Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/decamerao-de-giovanni-boccaccio-sexta.html
antes de ler esta postagem:
A
narrativa de Emília mereceu ouvidos atentos de todos... A mudança de
procedimentos que o inquisidor de sua novela adotou em relação ao bom e
penitente homem suscitou comentários e risos... Depois de Emília foi a vez de
Filóstrato contar a sua história... Ele teceu críticas ao comportamento dos
sacerdotes que conviviam em meio a vícios, e elogiou o desfecho da narrativa de
Emília, pois aquele final de história demonstrou que o que sofria (mesmo em
condição de fragilidade) a perseguição do inquisidor avarento, “feriu a
hipócrita caridade fradesca, que dá aos pobres o que deveria ser atirado aos
porcos ou jogado fora”.
Em relação à sua novela, Filóstrato
começou dizendo que falaria de certo Cane della Scala, um tipo muito rico, “senhor
esplendoroso”... E avarento.
Adiantamos que sua
narrativa concentrou-se em uma novela que Cane della Scala teve de ouvir... Então
temos “uma novela dentro de outra”... Ao final Scala acabou por enxergar a si
mesmo na “novela contada pelo personagem Bergamino da história de Filóstrato”; reconheceu
a si mesmo nas referências negativas ao “abade de Cligni”, tão rico, mesquinho e
avarento como ele...
Filóstrato seguiu contando:
A
bem sucedida existência de Cane della Scala (sua fortuna) era conhecida de longa data. Houve ocasião em que decidiu
promover luxuosa e duradoura festa para os membros das famílias mais ricas e
tradicionais (“desde a época do Imperador Frederico II”) de sua região na Itália,
a cidade de Verona... Aconteceu, porém, que, depois de vários encaminhamentos
efetivados, ele resolveu restringir o evento... Dessa forma anulou o convite
que fizera a uma boa parte dos que haviam chegado ao local... O episódio causou
estranheza, mas evidentemente a excrescência de Scala não provocou maiores
distúrbios.
Os
que foram admitidos receberam a hospedagem, os dispensados retiraram-se... Mas
um tipo de nome Bergamino não foi formalmente admitido nem despedido e, por
isso, ficou nas proximidades do luxuoso evento. Talvez aguardasse um desfecho
que estivesse reservado para si.
Sobre este Bergamino, diziam que se tratava de homem de
retórica, que sabia entreter com narrativas... Certamente o senhor Cane, apesar
de conhecê-lo, não lhe dava importância.
Sucedeu
que os dias se passaram e Bergamino, distante de sua residência, enfrentou várias dificuldades naquele
lugar. Entristeceu-se porque fizera dívidas para
participar do evento social. Além de alguns criados e cavalos, dispunha de três
ricas vestimentas propícias para a ocasião. Teve de se desfazer de dois dos
trajes que serviram de pagamento ao estalajadeiro que o abrigou... A terceira
vestimenta também foi dada como pagamento de sua alimentação. Evidentemente
este infortúnio o deixou melancólico.
Apesar de seus tormentos, Bergamino acabou
encontrando-se com o senhor Cane, e numa ocasião em que este se refestelava com
um belo jantar... Foi com desprezo, e querendo ferir os sentimentos do pobre
homem, que o avarento questionou-lhe sobre seu estado melancólico. Bergamino
notou a falta de humanidade do outro e viu naquela ocasião a possibilidade de
fazer a sua narrativa na esperança de sensibilizar o outro.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/decamerao-de-giovanni-boccaccio-setima_19.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto