O golpe de 1964 pode ser entendido como resultado de uma articulação entre oficiais conservadores e setores da sociedade que estavam inconformados com o avanço político dos partidos progressistas ligados aos movimentos populares... Em seu livro, Grinberg trata do papel dos civis durante a ditadura; sua articulação no pré-golpe e o apoio à derrubada de João Goulart; da ação da Arena na defesa do regime; e o papel do Congresso Nacional durante o período.
O governo Goulart foi marcado pela radicalização política dos movimentos sociais e também dos partidos políticos... O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) era o que mais crescia a cada eleição... Tanto é que na Câmara era o segundo maior em número de parlamentares.
As Reformas de Base propostas por Jango marcaram o seu curto mandato. A Reforma Agrária era a que gerava mais polêmica. Milhares de pessoas compareceram ao comício que ocorreu na Central do Brasil no dia 13 de março de 1964... Em oposição a Goulart e ao apoio popular às reformas, a Igreja Católica organizou as Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Esses eventos, que concentravam grandes contingentes, foram iniciativas contrárias ao que os religiosos consideravam “projeto revolucionário de caráter comunista”.
As lideranças militares conservadoras contaram com o apoio dos civis da UDN (União Democrática Nacional) e do PSD (Partido Social Democrático). Essa aliança permitiu a formação da frente político-militar que depôs Goulart... Após a deposição do presidente seguiram-se as cassações de políticos e sindicalistas...

A autora destaca que 1964: A conquista do Estado, de René Dreifuss, ressalta que o golpe contou com a participação de diversos setores sociais: militares, políticos, estudantes, mulheres e empresários brasileiros e estrangeiros... Dreifuss leva em consideração as estratégias políticas que foram desenvolvidas para tornar o governo Goulart instável. A criação do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e do IBAD (Instituto Brasileiro Ação Democrática) foi parte daquelas iniciativas... De modo sutil, a propaganda política contrária ao governo era veiculada em revistas, rádio, televisão, filmes... Vários pesquisadores da atualidade analisam o conservadorismo dessas iniciativas “para além do combate ao governo Goulart”.
O fato de não ter ocorrido uma reação popular (e também de militares que apoiavam o governo) ao golpe contra o governo Jango é tema que carece de mais esclarecimentos.
Muito se fala da ideia de lideranças conservadoras como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros terem se mobilizado em torno do apelo às Forças Armadas para que defendessem a democracia que “sofria ameaças comunistas”... Afirma-se que pretendiam uma intervenção necessária à derrubada de João Goulart para que, depois disso, a ordem institucional fosse retomada pelos conservadores... Sobre isso, Grinberg lembra que as intervenções militares na política nacional eram “tradicionais” em nossa História. Ela exemplifica com os ocorridos ao tempo da Proclamação da República; da Revolução de 1930; do Golpe do Estado Novo (1937); da deposição de Vargas em 1945... Cita ainda que o período 1945-1964, conhecido como “República Populista”, foi marcado por diversos apelos da UDN (de Carlos Lacerda e Ademar de Barros) aos quartéis quando suas lideranças não aceitavam os resultados eleitorais satisfatórios à coligação PTB-PSD... Durante o último governo Vargas (1951-1954) e após a eleição de Juscelino Kubistschek (1955), os udenistas clamaram por intervenções do exército em momentos específicos... Em 1964 os apelos foram atendidos com rigor pelos militares, que contavam vários udenistas em suas fileiras.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/o-ai-2-extincao-dos-partidos-e-formacao.html
Um abraço,
Prof.Gilberto