D. Antônio de Mariz era o típico fidalgo fiel à coroa lusitana. Por muitos anos havia prestado “serviço de armas” ao seu país e é por isso que havia recebido uma vasta área na região serrana onde se localiza Petrópolis... Não aceitava de bom grado as mudanças políticas que ocorriam devido à União Ibérica e o consequente domínio espanhol sobre os negócios portugueses. Como já contava mais de 50 anos, decidiu que era tempo de se aposentar e garantir o sossego e bem estar de sua família.
Em meio à bela paisagem, privilegiada pelo rio Paquequer (que contribui para a formação do grande rio Paraíba) e pela floresta, Mariz conseguiu que construíssem sua “esplêndida casa” fortificada e muito bem defendida. A construção era marcada por sua posição em elevada altitude, sendo que ao fundo divisava com profundo abismo repleto de pedras, árvores e os mais diversos animais, principalmente cobras. Mas era na confortável casa que o fidalgo esperava passar o resto de sua vida com a mulher Lauriana, os filhos Diogo e Cecília e a sobrinha Isabel. Os seus servidores eram praticamente seus agregados.Sobre Isabel, diziam que também ela era filha de Antônio de Mariz. Entre os homens e mulheres que estavam a serviço da grande casa, d. Antônio depositava grande confiança em Álvaro de Sá, que era um jovem da “pequena fidalguia portuguesa” e encarregado de chefiar os demais homens de armas para guarda e defesa da casa e da família.

Entre os homens que faziam parte da comitiva estava Loredano. O ex-frade conseguiu ingressar no grupo de servidores de Antônio, mas os seus objetivos eram bem particulares... Ele prosseguia com os seus planos de atingir as minas de Robério Dias, mas sabia que sozinho não lograria sucesso.
Em meio aos agregados de d. Antônio, Loredano esperava ganhar a confiança de alguns dos homens de armas e até roubar algum dinheiro para financiar sua empreitada rumo à Bahia... Não fazia muito tempo que ele havia se integrado ao cotidiano daquela família. Foi percorrendo as matas, após o assassinato que cometera, que encontrou o casarão e pediu que o contratassem também como homem de armas.
Loredano sabia que o jovem Álvaro era apaixonado pela menina Cecília. O mal intencionado ex-frade também ficou encantado por ela, e é por isso que ele via o chefe como desafeto. Loredano vivia a desdenhar das ordens que Álvaro transmitia...
Enquanto a comitiva percorria a mata, numa clareira um índio tocaiava uma onça pintada... Este era Peri, goitacá da nação guarani. O jovem índio tinha uma presença marcante, era alto e forte, esbelto, de pele “cor-de-cobre” e cabelos curtos. Vestia uma túnica branca de algodão (chamada pelos índios de “aimará”) com cintura envolvida numa faixa de penas vermelhas. Ele ainda levava plumas coloridas presas à cabeça por uma cinta de couro. Em sua investida contra o animal, Peri segurava arco e flechas na mão esquerda, enquanto que na direita carregava uma lança de madeira.
O pessoal liderado por Álvaro avistou a onça e quis matá-la com suas armas de fogo, mas foram advertidos pelo goitacá para que não atentassem contra a sua caçada. Logo saberemos que Peri também era chegado a d. Antônio, que o tinha em consideração... Por esse motivo, Álvaro conhecia o jovem índio e sabia que ele era “bravo e forte”... Para guerreiros como Peri, o enfrentamento com a onça era evento sagrado, sendo assim não podia ser incomodado por ninguém.
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Leia: O guarani. Série Reencontro – Literatura. Editora Scipione.
Um abraço,
Prof.Gilberto