Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/articulacoes-entre-militares-e-civis-ao.html
antes de ler esta postagem:
Grinberg é taxativa
em relação às aspirações das lideranças políticas ao recorrerem aos militares
durante a conspiração para derrubar Goulart: “não havia um projeto de instalar
uma ditadura duradoura”... Havia o receio de que o comunismo se instaurasse no
país e, para muitos, essa era a principal justificativa para o golpe. Em guarda contra o perigo vermelho, de
Rodrigo Motta, é citado pela historiadora... O livro destaca que “o
anticomunismo não foi mero pretexto”... De fato, aqueles tempos eram de tensão
internacional, o mundo estava dividido pela Guerra Fria e a sociedade
brasileira também vivenciava as pressões do momento... Não eram poucos os que
viam no comunismo e na revolução armada a saída para as questões próprias da má
distribuição de renda e pobreza extremada. As revoluções chinesa (1949) e
cubana (1959), nesse sentido, eram tidas como exemplares.
Houve
franca sintonia entre a Igreja Católica e os setores conservadores. Grande
parte dos religiosos, num primeiro momento, adotou a postura de combater os
movimentos sociais mais radicais... Conforme a ditadura se efetivou, e os
direitos humanos foram violados, a Igreja reagiu a essa situação nitidamente
contrária aos seus princípios.
Foi o Ato Institucional nº
2 (de 27/10/1965) que extinguiu os partidos políticos que atuavam desde 1945...
A criação da Arena (Aliança Renovadora Nacional) e do MDB (Movimento
Democrático Brasileiro) foi uma imposição que desagradou até mesmo alguns
conservadores que apoiavam os militares. O AI 2 permitia a formação de “dois
partidos”, um de apoio ao regime que se instalou e outro de oposição... Não há
muitos estudos que tratem da formação dos dois grupos políticos (Grinberg
revela que em 2004 defendeu tese sobre a Arena e que a documentação até então
era bem restrita, nada além de registros do próprio partido disponibilizados
pelo CPDOC/FGV, outros de anais do Senado, e material da imprensa)... É certo
que quando a Arena se formou contou com os egressos da UDN e do PSD; já o MDB
foi formado basicamente por antigos políticos do PTB (muitos deles ligados ao
sindicalismo e ao varguismo) e uma parcela de políticos oriundos do PSD...
Está
claro que o funcionamento do Congresso e dos grupos políticos no modelo imposto
pelo regime não era totalmente aceito pelos brasileiros. Muitos viam com
desconfiança a atuação política institucionalizada, julgavam-na irrelevante e
sem representatividade... Mas havia os que consideravam importantes as
atividades parlamentares e o debate entre MDB e Arena, e por isso a memória
daquele tempo também é a desses debates políticos.
Grinberg
recorre às colunas de Carlos Castello Branco no Jornal do Brasil para destacar que a atuação política do período
foi marcada pela intervenção nas instituições, cassações de direitos políticos,
extinção dos partidos, mudanças na legislação... Os governadores de estados
passaram a ser "eleitos indiretamente"... E isso também ocorreu com prefeitos de
municípios que o regime classificou como áreas de segurança nacional... Depois
do AI 5 (dezembro de 1968) o Congresso permaneceu em recesso até outubro de
1969... Toda essa situação gerou as mais diferentes análises e expectativas das
lideranças políticas (alguns simplesmente silenciaram, resignaram-se; outros foram
os que reprovaram; e houve aqueles que apoiaram a intervenção nas instituições). Em seus textos, o colunista destacou os dilemas dos que sofreram as
perseguições... Em relação às instituições políticas, qual seria o seu papel durante
o regime? Aceitar a situação como definitiva? Haveria possibilidade de reformar
o panorama a partir da atuação limitada? O fato é que, tanto internamente
quanto externamente, para muitos, o regime estava legitimado porque ocorriam
eleições e as várias instâncias legislativas (federal, estaduais e municipais) prosseguiam
atuando.
Enquanto os opositores se recusavam a admitir
essa legitimidade, sem dúvida, a Arena era agremiação política fundamental que
se colocava na defesa do regime militar e de seus encaminhamentos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/atuacao-da-arena-em-defesa-do-regime.html
Um abraço,
Prof.Gilberto