quarta-feira, 8 de maio de 2013

“O ladrão de sementes” – considerações sobre o texto de Louis Carlos Forline em “Revista de História da Biblioteca Nacional” nº 8, abril de 2013 - Henry Alexander Wickham e sua saga na Amazônia, seu modesto fim; decadência econômica da região; Wickham, “peão” do império britânico; considerações de Alfred Cosby – Parte II

A edição 91 (abril de 2013) da Revista de História da Biblioteca Nacional traz o texto O ladrão de sementes, de Louis Carlos Forlaine, professor de Antropologia da Universidade de Nevada e pesquisador visitante no Museu Emílio Goeldi, do Pará.
Sobre O ladrão de sementes, algumas considerações merecem destaque.

Na certeza de que não poderia perder a oportunidade, Wickham convenceu a família (Violet Carter, sua esposa, a mãe, a irmã, o irmão...) a se instalar com ele num sítio em Santarém, no Pará... As moléstias específicas da floresta Amazônica vitimaram a mãe e a irmã de Wickham, além da sogra de seu irmão... Tragédias à parte, ele prosseguiu animado em sua expedição... Índios e caboclos ajudavam-no a coletar as sementes às margens do rio Tapajós... Faziam isso “em troca de migalhas”.
As sementes eram protegidas de modo a garantir sua integridade na travessia rumo à Inglaterra, e também para que fossem notadas o mínimo possível pelas autoridades brasileiras (que fiscalizavam e procuravam coibir esse tipo de ocorrência em várias partes da Amazônia).
Sabe-se que a preciosa carga foi enviada à Inglaterra no barco Amazonas, que fazia o trajeto Liverpool-Amazonas. A embarcação foi liberada graças à intervenção do cônsul inglês... Conta-se ainda que Wickham enganou as autoridades de Belém ao dizer que as sementes que levava eram material botânico destinado a um herbário... O fato é que o contrabando foi acondicionado no lugar que deveria ser ocupado por uma carga original (anteriormente roubada).
Em 1919 as colônias inglesas da Ásia tomaram conta do mercado da borracha. O empreendimento de Wickham rendeu os resultados que se esperava e o “capitalismo mais eficiente do império britânico” provocou o colapso amazônico... Nas cidades outrora suntuosas, a crise tornou-se evidente... Não havia como concorrer com os ingleses, sobretudo porque os comerciantes amazônicos abusavam dos preços e do trabalho semiescravo... Seringueiros endividados caíam na miséria também devido à inflação... O extrativismo da região tornava-se inviável para os capitalistas.
Sem dúvida, o cultivo das seringueiras enfileiradas nas colônias inglesas da Ásia tornou a produtividade maior e mais barata... Não podemos dizer que o nosso personagem tenha recebido a consideração que esperava. A rainha Vitória concedeu-lhe título de nobreza, e ele até foi chamado de herói do império... Em 1920, o rei George V o condecorou sir. Porém, isso à parte, Wickham levou uma vida bem modesta agraciada por pequena pensão e “alguns brindes”... Sua amargura completou-se com a decisão de separação tomada pela esposa... Ele também não tinha o reconhecimento dos botânicos do Kew Gardens, para quem não passava de um “amador aventureiro”.
Wickham ainda incursionou pela Nova Guiné e Austrália sem obter sucesso financeiro. Morreu em 1928 e passou para a História como “personagem secundário”, um “peão” sem expressão nos investimentos do império inglês além-mar... Seus procedimentos são objeto de reflexão ainda hoje... Alfred Cosby, historiador norte-americano, destaca que a situação nos remete ao “imperialismo ecológico, que atualmente assume a forma de produtos farmacêuticos, grande parte deles derivada de plantas”.
A Amazônia segue no centro dessas análises... Daí advém outras questões que se referem à soberania nacional; direitos dos povos indígenas; proteção à floresta.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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