A edição 91 (abril de
2013) da Revista de História da
Biblioteca Nacional traz o texto O
ladrão de sementes, de Louis Carlos Forlaine, professor de Antropologia da
Universidade de Nevada e pesquisador visitante no Museu Emílio Goeldi, do Pará.
Sobre O ladrão de sementes, algumas
considerações merecem destaque.
Na
certeza de que não poderia perder a oportunidade, Wickham convenceu a família
(Violet Carter, sua esposa, a mãe, a irmã, o irmão...) a se instalar com ele
num sítio em Santarém, no Pará... As moléstias específicas da floresta
Amazônica vitimaram a mãe e a irmã de Wickham, além da sogra de seu irmão...
Tragédias à parte, ele prosseguiu animado em sua expedição... Índios e caboclos
ajudavam-no a coletar as sementes às margens do rio Tapajós... Faziam isso “em
troca de migalhas”.
As sementes eram protegidas
de modo a garantir sua integridade na travessia rumo à Inglaterra, e também
para que fossem notadas o mínimo possível pelas autoridades brasileiras (que
fiscalizavam e procuravam coibir esse tipo de ocorrência em várias partes da
Amazônia).
Sabe-se
que a preciosa carga foi enviada à Inglaterra no barco Amazonas, que fazia o
trajeto Liverpool-Amazonas. A embarcação foi liberada graças à intervenção do
cônsul inglês... Conta-se ainda que Wickham enganou as autoridades de Belém ao
dizer que as sementes que levava eram material botânico destinado a um
herbário... O fato é que o contrabando foi acondicionado no lugar que deveria
ser ocupado por uma carga original (anteriormente roubada).
Em
1919 as colônias inglesas da Ásia tomaram conta do mercado da borracha. O
empreendimento de Wickham rendeu os resultados que se esperava e o “capitalismo
mais eficiente do império britânico” provocou o colapso amazônico... Nas
cidades outrora suntuosas, a crise tornou-se evidente... Não havia como
concorrer com os ingleses, sobretudo porque os comerciantes amazônicos abusavam
dos preços e do trabalho semiescravo... Seringueiros endividados caíam na
miséria também devido à inflação... O extrativismo da região tornava-se
inviável para os capitalistas.
Sem dúvida, o cultivo das seringueiras enfileiradas
nas colônias inglesas da Ásia tornou a produtividade maior e mais barata... Não
podemos dizer que o nosso personagem tenha recebido a consideração que esperava.
A rainha Vitória concedeu-lhe título de nobreza, e ele até foi chamado de herói
do império... Em 1920, o rei George V o condecorou sir. Porém, isso à parte, Wickham levou uma vida bem modesta
agraciada por pequena pensão e “alguns brindes”... Sua amargura completou-se
com a decisão de separação tomada pela esposa... Ele também não tinha o
reconhecimento dos botânicos do Kew Gardens, para quem não passava de um
“amador aventureiro”.
Wickham
ainda incursionou pela Nova Guiné e Austrália sem obter sucesso financeiro.
Morreu em 1928 e passou para a História como “personagem secundário”, um “peão”
sem expressão nos investimentos do império inglês além-mar... Seus
procedimentos são objeto de reflexão ainda hoje... Alfred Cosby, historiador
norte-americano, destaca que a situação nos remete ao “imperialismo ecológico,
que atualmente assume a forma de produtos farmacêuticos, grande parte deles
derivada de plantas”.
A Amazônia segue no centro dessas análises...
Daí advém outras questões que se referem à soberania nacional; direitos dos
povos indígenas; proteção à floresta.
Um abraço,
Prof.Gilberto