Temos novo corte de cena... Há uma mesa organizada para a refeição de uma família em um restaurante... Pai, mãe e três filhos se ajeitam... Uma das crianças faz tratamento para a cura de um câncer e é deslocada em cadeira de rodas...
O recorte do parágrafo anterior ilustra as explicações que dona Marta Figueiredo dá a uma amiga chamada Maria Amélia... As duas também estão em um restaurante (é bem provável que seja no prédio da Stiner). Ela revela que aguarda a chegada de uma família do Projeto Alegria... Esclarece que são 14 famílias que permanecem instaladas por uma semana em hotéis cinco estrelas (sete no total)... Todos os serviços estão incluídos, e pela manhã um ônibus recolhe as crianças para passeios em shoppings, zoológicos e outros locais de lazer... Fez questão de destacar que o projeto não atendia apenas as crianças que estavam em estágios iniciais da doença, mas também as de condições mais precárias devido ao estágio avançado da doença...
Neste ponto, destaca à amiga que dá pena ver tanto sofrimento... Mas o projeto seguia com força total, garantindo refeições e banho quente aos assistidos... Maria Amélia não escondeu sua frustração por não conseguir convencer o marido, João Paulo, a participar daquelas ações... Ressaltou que ele não percebia o quanto é fundamental ser solidário ao menos para “reparar as dívidas desta vida”, “aliviar o espírito”...
No mesmo restaurante estão Arminda e um amigo... Ele explica para ela que a empresa de Marco Aurélio superfaturava os equipamentos repassados às instituições... Com documentos em mãos, esclarece que a empresa que fornece os computadores pode nem existir, pois “tem todo jeito de ser fantasma”... O rapaz denunciava que a Stiner ou o Ricardo (assistente de Marco Aurélio) deveria estar faturando... O vereador Solis também devia ficar com sua parte no negócio ilícito... Arminda não se sente à vontade ao ouvir o amigo, que seguiu dizendo que se trata de um esquema muito antigo em que “as oligarquias se entendem”, se enriquecem, despontam como benfeitores e vencem eleições... Para tipos como ele sobrava o papel de “fazer denúncias”.
O rapaz apontou na direção de dona Marta Figueiredo e disse que ela “usa do social” para lavar dinheiro da empresa do marido... E ainda descontava no imposto de renda... Ela seria o típico exemplo dos que faturam alto graças à permanência da miséria em nosso meio... O moço quer fazer crer que o projeto do qual participa é diferente e idôneo... Arminda está ofegante, angustiada com tudo aquilo, pede para se retirar... Ela diz que o lugar é constrangedor...
(...)
Na
sequência, Arminda e Lurdes desembarcam várias crianças de um carro da Stiner. Chegaram para fazer uns testes e
filmagens de campanha para a Sorriso de
Criança... As crianças seguiram animadamente enquanto Arminda se mostra
indignada e dispara para a outra que Marco Aurélio, chefe de Lurdes,
superfaturou em cima do projeto em que trabalhava... Agora entendia por que os
computadores que o pessoal recebeu na comunidade não valiam nada... Lurdes fez
algumas advertências... De quem Arminda ouviu aquelas denúncias? Justificou
dizendo que havia vários gastos de infraestrutura e outros custos que, no
final, deviam ser levados em conta... Arminda confirmou ter visto documentos
que comprovavam as fraudes, mas Lurdes alertou para que ela “não se metesse com
essas coisas” para não se desgastar com Ricardo... Arminda lamentou e disse
apenas que gostaria de receber os computadores novos que haviam prometido...
Uma
dupla de moços da equipe de filmagem estava ali para produzir campanha
publicitária com os garotos carentes e, a pedido de Lurdes, selecionava os
negros... Alguns seriam escolhidos mesmo não sendo negros, notaram que um dos
garotos tinha tipo indígena... A cena também causa impacto porque a equipe classifica
as crianças como se estivesse selecionando produtos...
Os
dois moços dão a entender que sua tarefa não era fácil... Então começaram a
classificar a “percentagem de negritude” de cada um... Um dos moços selecionou
um garoto e destacou que aquele, enfim, tinha pedigree. Lurdes ouviu esses comentários e esbravejou com a
equipe... Esclareceu que era um sério trabalho de resgate da importância
daqueles que tanto contribuem para a formação do povo e construção da riqueza
da nação e, mesmo assim, sofrem discriminação e com a falta de oportunidades na
sociedade... O tipo que dirigia os trabalhos da equipe e a filmagem mostrou
indignação, disse que trabalhava de acordo com a competência das pessoas e que “não
estava nem aí” para questões de cor, raça ou idade...
Desde que fosse pago, contrataria os negros que Lurdes
desejasse... Disparou que, se fosse o caso, pintaria todas as crianças de
negro. Depois dessa discussão a filmagem teve início... Um garoto se
apresentava, dizia o seu nome, idade e se identificava como negro... Teve de
repetir diversas vezes porque o diretor não aceitava a sua interpretação... Por
ali estava Arminda que verificava a fila de crianças a aguardarem sua vez de
participar... Estavam próximas a uma mesa farta... Em sua imaginação, Arminda
só conseguia vê-las como pequenos escravos amarrados em cadeia por uma corda.
Indicação (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto