quinta-feira, 8 de novembro de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir – celebração do fim da guerra em Paris; Anne conversa com Henri sobre a aliança L’Espoir-SRL, Robert e Paule

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-uma.html antes de ler esta postagem:

Anne sentiu-se libertada ao retirar-se da reunião na casa de Claudie... Seguiu pedalando pelas ruas escuras, um tanto enlameadas e cobertas de neve. Pensava sobre as conversas que tinha com os pacientes e no tipo de interpretação que dela fazem... Como passaram a vê-la durante as sessões? Mãe, avó, irmã, filha, ídolo? Refletia sobre as palavras de Nadine que considerava que ela “nunca se incorporava às situações”... Talvez por isso não tenha consentido permanecer por mais algum tempo com Marie-Ange... Em seu percurso sem traçado definido, Anne pensava em tempos passados quando se aventurava sem receios nos “bosques de Païolive ou na floresta de Grésigne”... Porém via-se com a oportunidade de atravessar o oceano, mas sentia-se amedrontada... Responder com um sim a Romieux talvez significasse recuperar a “liberdade perdida”. Decidida, deu meia volta e retornou para casa.
Mas não escreveu imediatamente... Nos dias seguintes teve a oportunidade de pedir a opinião de Henri... A conversa ocorreu num momento festivo. A guerra havia terminado oficialmente e os amigos se encontraram para beber, conversar, ouvir música...
Na ocasião, Scriassine estranhou a “festa esquisita” porque em sua opinião naquele momento iniciava-se uma tragédia, a “terceira guerra”... Anne brincou ao afirmar que na noite de Natal ele mesmo havia previsto coisas terríveis que não se confirmaram... Chamando Henri para a conversa, destacou que os franceses não haviam se desgostado da literatura... Prova disso era que Vigilance vinha recebendo inúmeros originais. Mas Scriassine rebateu dizendo que o sucesso de Vigilance poderia ser menor e que preferia isso a notar L’Espoir “ameaçado de liquidação”. Henri discordou e quis saber de onde saia aquela conclusão... Mas o outro disse apenas que eram boatos sobre as necessidades de L’Espoir ser obrigado a procurar ajuda particular. Foi Anne quem sugeriu que fossem assistir às festividades na Concorde e nos Champs-Elysées.
Fogos de artifício espocavam e coloriam a noite parisiense... As ruas estavam repletas e ao sair do metrô, o grupo acabou se dividindo em meio à multidão. Foi nesse instante que Anne acabou “arrancada” ao braço de Robert e se viu acompanhada por Henri... O movimento das massas conduzia-os às Tulherias. Henri aconselhou-a a seguir a corrente e mais tarde todos se reencontrariam na casa dela... As pessoas cantavam e riam... Por toda parte bandeiras vermelhas eram desfraldadas... Anne pensou sobre o “presente que triunfava”... O passado não ressuscitaria... Estavam literalmente sendo carregados...
Foi com muito esforço que Henri conseguiu abrir caminho até um cabaré onde puderam beber... O lugar estava repleto de americanos uniformizados. Eles também festejavam... Anne observou que apesar do evento contagiante por toda a cidade, o amigo não parecia alegre. Sobre isso, Henri demonstrou que estava intrigado com os boatos aos quais Scriassine havia se referido... Disse que talvez fosse obra de Samazalle... Falaram um pouco sobre esse tipo e Anne não escondeu que também não nutria simpatia por ele... Henri ponderou que Robert parecia valorizar muito o outro. Anne respondeu que o marido estava “mergulhado nos assuntos de política” e, na verdade, Samazelle lhe era útil... Henri aproveitou o conceito para disparar que entendia Robert como um sujeito que dispensava amizade e aprovação àqueles que de alguma forma colaboravam com ele, sendo úteis à concretização de seus projetos... Anne não concordou com o que ouviu, então Henri quis exemplificar com a sua recente experiência de ter colocado o L’Espoir à disposição do SRL... Disse não saber se Robert ainda seria seu amigo se a parceria não se confirmasse. Anne falou que certamente o marido ficaria decepcionado...
Nesse ponto ela refletiu sobre a postura agressiva do marido quando desejava atingir seus objetivos a qualquer preço... Teria magoado Henri? Anne concordava que Robert exigia e pressionava demais as pessoas de que gosta. Na sequência falou que, para Robert, também não havia sido fácil “servir-se” do amigo... Disse que a estima contou muito... Finalmente, Anne concluiu que não deveria haver nenhum ressentimento ou reservas porque imaginava que a parceria era resultado de livre consentimento por parte de Henri (nós sabemos o quanto ele foi massacrado por suas reflexões até “bater o martelo”). O moço disse que gostaria que Robert, vez ou outra, se colocasse na condição daqueles a quem solicita algo... Anne quis saber se a parceria política o incomodava e ele respondeu que àquela altura isso já não representava nenhum problema porque “estava mergulhado” na questão.
Depois Anne passou a falar de Paule... Perguntou os motivos de ela não retornar às atividades musicais... Henri disse não saber, mas cogitou que talvez ela percebesse que isso poderia significar o fim da relação que mantinham há tempos... A esse respeito, ele confirmou que não a amava mais... Anne analisou a "condição psicológica" da outra e garantiu que a amiga era lúcida, apesar de iludir-se imaginando que Henri ainda a amava de paixão. Henri comentou que não gostaria de proceder como um “salafrário” em relação à ela, mas ao mesmo tempo “não tinha vocação para mártir”... Anne concordou que Paule deveria colaborar porque, mantendo-se na condição de iludida, Henri seria muito prejudicado... Então disse a ele que não se pode viver com a “consciência suja”, mas também não se pode viver “contra a vontade”... Anne admitiu também que, para Paule, seria difícil viver desacompanhada daquele ao qual devotara a sua existência...
De repente, Henri perguntou a Anne se ela estava contente com a própria vida... Passaram a falar sobre esse e outros assuntos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html...

Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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