sábado, 7 de julho de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. Preston e suas exigências para fornecer papel a L’Espoir

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_27.html antes de ler esta postagem:

Depois da retirada de Sézenac, foi a vez de Preston entrar no escritório de Henri para tratar sobre o fornecimento de papel para L’Espoir, e também para a revista semanal que ele pretendia lançar com Luc... Preston foi logo dizendo que considerava a linha editorial de Henri muito boa. Sendo assim, de muito bom grado colaboraria. Falou que já vinha tratando com Luc sobre essas coisas. E que o que mais prezava era a independência de L’Espoir.
Preston quis saber se a linha editorial seria mantida. Aqui é importante destacar que ele era um agente do departamento de Estado norte-americano. Disse que se preocupou ao ler a entrevista que Henri concedera a Lendemain... Principalmente porque viu que ele havia criticado a política externa dos Estados Unidos em relação ao regime de Salazar em Portugal... Henri Perron rebateu afirmando que Salazar e Franco deviam ser liquidados... Preston concordou, mas disse que aquilo era tarefa para uma oportunidade futura mais adequada.  Completou dizendo que aquele tipo de declaração apenas colocava a opinião pública francesa contra os americanos.
Preston queria que Henri entendesse que L’Espoir era bem visto nos meios políticos americanos, mas a sua entrevista fomentava a ideia de “imperialismo norte-americano”... Embora Henri dissesse que não pretendia iniciar nenhuma campanha contra os Estados Unidos, Preston garantia que aquilo seria usado contra o seu país. Henri disse que aquilo não era problema seu... Que seu papel e jornalista era de compromisso apenas com a verdade. Mas Preston queria que ele entendesse que “às vezes a verdade pode ser prejudicial”, assim, não pode ser escancarada... Henri respondeu que se isso lhe fosse exigido, abandonaria o jornalismo.
Henri ainda disse ao outro que amigos comunistas fizeram-lhe esse tipo de pressão, mas decididamente respeitava os seus leitores... Assim não se submetia. Preston afirmou que interpretava aquilo como “um modo de agir”, e que considerava Henri uma “vítima do intelectualismo francês”... O americano se dizia “pragmatista” e, dessa forma, queria que Henri garantisse publicações que levassem os franceses a permanecerem afeiçoados aos norte-americanos... Emendou ainda que “a França não seria bem indicada a julgar a política norte-americana para o Mediterrâneo”... E finalizou dizendo que se L’Espoir tomasse partido contra os Estados Unidos, não permaneceria simpático ao jornal.
Henri considerou abusivas as palavras de Preston. Sentiu-se pressionado, vítima de censura... Então respondeu que seu jornal não estava “à venda por alguns quilos de papel”. Dessa forma o encontro foi finalizado.
Luc demonstrou chateação ao ouvir de Henri que o fornecimento de papel não se confirmaria. Mas compreendeu e endossou o encaminhamento definido pelo amigo. Depois conversaram sobre as pressões vindas do SRL de Dubreuilh... Luc foi taxativo ao reprovar o alinhamento. Falou que o SRL dificultava a unidade da Resistência... Henri disse que em breve teriam de se posicionar, pois “situar-se fora da luta de classes” era fazer o jogo da burguesia. Luc encerrou dizendo que confiava em Henri, e que ele tinha a melhor condição de definir os rumos de L’Espoir.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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