terça-feira, 3 de maio de 2011

A Greve de 1917 - considerações sobre os fragmentos extraídos de O Estado de São Paulo de 11 de julho de 1917

A leitura dos fragmentos apresentados ontem (http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/05/fragmentos-de-o-estado-de-sao-paulo-de.html) nos leva a refletir sobre a greve de 1917 em nosso país.


Os patrões se organizavam em associações para defender seus interesses e para barrar a organização sindical operária, sobretudo a participação das lideranças anarquistas. Com o apoio do governo e da força pública reprimiam toda forma de protesto. Vimos que motivos não faltavam para protestos de reivindicações.
Interessante observar como os imigrantes europeus constituíram as duas classes que se formaram com a industrialização. Desde meados do século XIX, por diversos motivos, eles chegavam aos milhares ao porto de Santos, de onde eram encaminhados à Estalagem (o Memorial do Imigrante) e de lá para as fazendas cafeeiras do interior. Muitos imigrantes empreendedores organizaram fábricas, tornaram-se patrões (Matarazzo, Crespi, Gamba, Hoffman etc). Nas fábricas, os operários de maior qualificação também eram os advindos do velho continente, onde exerciam atividades industriais.
Como sabemos, a exploração nas fábricas era extremada e o custo de vida era altíssimo. Jornalistas anarquistas conclamavam os trabalhadores aos protestos também contra a exploração do trabalho feminino e infantil. Manifestações ocorriam em várias partes, principalmente no bairro operário do Brás. O dia 9 de julho foi marcado por um ataque da cavalaria da Força Pública, que resultou na morte do anarquista José Martinez, de origem espanhola. A imagem colada na postagem de ontem é de seu funeral no Cemitério do Araçá. Como podemos perceber, uma multidão acorreu ao evento, que tomou vulto... Tornou-se gigantesco e contagiou as várias fábricas na cidade.

Por aquele tempo o prefeito da cidade era Washington Luís, também citado na postagem de ontem. Com a greve, a cidade sofreu o desabastecimento. O governo ficou acuado, então prefeito ordenava a repressão policial... Muitos líderes foram feitos prisioneiros pelas forças de repressão, e logo sua libertação também passou a fazer parte da pauta de reivindicações dos grevistas. Eles criaram um Comitê de Defesa Proletária que cuidava da assistência às famílias grevistas e realizava as negociações.
Os fragmentos de O Estado de São Paulo de 11 de julho de 1917 apresentam o boletim/manifesto distribuído por mulheres aos soldados. Notamos que há um apelo sincero (emocional mesmo) aos soldados que realizavam a repressão. Os grevistas tentam mostrar a eles que fazem parte da mesma parcela da sociedade (se hoje vestis a farda, voltareis a ser amanhã os camponeses que cultivam a terra, ou os operários explorados das fábricas e oficinas; A fome reina em nossos lares, e os nossos filhos pedem pão; Essas armas eles vo-las deram para garantir o seu direito de esfomear o povo.)... A única diferença é que os soldados estão armados pelos patrões, que são os exploradores e causadores de tanta miséria. O apelo também é para a consciência da memória do soldado brasileiro, que sempre esteve do lado das causas populares (Lembrai-vos que o soldado do Brasil sempre se opôs à tirania e ao assassinato das liberdades; O soldado brasileiro recusou-se no Rio, em 81 (1881), a atirar sobre o povo, quando protestava contra o imposto do vintém, e, até o dia 13 de maio de 1888, recusou-se a ir contra os escravos que se rebelavam fugindo ao cativeiro).



Um abraço,
Prof.Gilberto

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