quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Considerações sobre As lutas do povo brasileiro - continuação - de J.J.Chiavenato

Antes da leitura de hoje, talvez seja interessante você acessar:

http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/11/as-lutas-do-povo-brasileiro-fragmentos.html

Será que você notou no texto anterior o modo como Chiavenato questiona a chamada História Oficial? Veja, é muito comum mesmo as pessoas relacionarem a História aos “grandiosos fatos” e “heróis”... Caberia perguntar, pelo menos, “aos olhos de quem” aqueles são grandiosos fatos e heróis...

É como se o povo não participasse, ou não interessasse, ou não tivesse História e nem dela fizesse parte... A frase “morre um liberal, mas não morre a liberdade” (página 5) teria sido proferida (?) por Líbero Badaró, o jornalista crítico do Primeiro Reinado, ao ser assassinado em fins de 1830. Note como ela é carregada de idealismo, quase que de uma "santidade martirizada"...

Continuação a discussão anterior, vamos tratar deste caráter. E mais: Vamos refletir sobre como a figura do herói depende daqueles que estão no poder... Esse é o caso de Tiradentes... É, porque quando foi condenado à morte em 1792 era considerado um “maldito” pelos que governavam representando a Coroa portuguesa... Só muitos anos depois, após a mudança de “donos do poder”, com a Proclamação da República (praticamente cem anos depois daqueles acontecimentos), é que Tiradentes é “elevado” à condição de herói, e até representado como se fosse o Cristo (pelo menos como ele é muitas vezes representado no imaginário de muitos cristãos). Nada disso é por acaso!

Ao final do texto temos a indignação de Chiavenato ao refletir sobre como o “povo brasileiro” é interpretado pelas elites. Com todo sofrimento a que é submetido ainda é chamado de preguiçoso...

Ao mesmo tempo em que o povo é difamado, os que possuem poder econômico são "deificados". O autor segue mostrando que os "heróis" dos livros revelaram-se muitas vezes vacilantes e com ética e atitudes comprometedoras. Pedro I, José Bonifácio e Caxias são citados. Notadamente este último, como um "terrível exterminador de rebeldes, a ferro e fogo". Cabem alguns esclarecimentos, já que várias revoltas ocorridas durante o período regencial foram sufocadas por este militar... Além disso, durante as negociações de paz no Rio Grande do Sul à época da Guerra dos Farrapos, Caxias teria acertado com Davi Canabarro - liderança farroupilha - um ataque a lanceiros negros desarmados, para que fossem massacrados e não formassem grupos rebeldes no futuro. Houve o massacre. Mais tarde ocorreu um processo, com muita discussão, chegando-se a afirmar que tudo não havia passado de “armação” para desmoralizar o republicano.



A imagem é reprodução de tela de José W. Rodrigues (prefeitura de São Paulo)





A questão que se coloca ao final é "Que país é este?"

A resposta nos remete à constatação de que tudo aqui é propriedade de alguém, de alguns... A propriedade é sagrada... As virtudes são propriedades dos que têm poder e História... Já os vícios são percebidos entre os que fazem parte do povo... Esses são "os preguiçosos, os que não produzem riqueza para a nação, os que precisam ser conduzidos pelas lideranças".

Mas não é bem isso o que os noticiários apresentam diariamente... O povo simples desafia a morte em seu trajeto cotidiano para o trabalho em lotações, ônibus e trens para jornadas de trabalho estafantes e mal remuneradas.

Um abraço,

Prof.Gilberto

Leia: As lutas do povo brasileiro: do descobrimento a Canudos. Editora Moderna.

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