
As imagens nos fazem pensar em, pelo menos, três “atmosferas”. A primeira delas é exatamente a do momento em que tais obras foram edificadas. A segunda é a que evoca a existência dos seres humanos que tomam (ou podem tomar) contato com elas, quer dizer, quem são, como vivem, quais as relações que mantêm com as edificações, e assim por diante. Há o quadro, que também pode nos sugerir essas análises. A terceira “atmosfera” é a da imponência das edificações, o modo como elas documentam um passado e, ao mesmo tempo, deixam as marcas no presente, no agora. Além disso, notamos o seu entorno e percebemos se elas estão mais envolvidas por outras edificações, assim ajudando a compor um “todo”, ou se estão mais isoladas, sendo, dessa maneira, o “todo”.

O que chama a atenção na série de “fotogramas”, dispostos de modo seqüencial, é a referência ao tempo, à sua passagem e aos eventuais registros que devem ter a ver com o produto das atividades humanas, seus negócios. Percebemos pastas que servem para arquivar notas (?), o relógio e o calendário... Fazendo parte da seleção de imagens, os


Fazer referência ao momento em que foram edificadas, é pensar na relação que os homens e mulheres mantinham com o seu tempo, como o dividiam, contavam, enfim, como se apropriavam dele. A imagem do relógio nos remete a um momento em que os fenômenos naturais contavam muito para a divisão do tempo. A marcação de passagem do tempo, ali, é natural. A leitura dos textos leva-nos a concluir que “o tempo ficou mais curto” para aqueles que têm interesses na produção em maiores quantidades na mais curta duração de tempo possíveis (se bem que a lógica do capitalismo atual não é mais essa, já que os lucros das grandes empresas crescem a cada dia independentemente do total produzido). É o chamado “time is money”. E os senhores do capital acabam se tornando, também, senhores do tempo, já que são eles que impõem os ritmos de produção e, por conseguinte, os ritmos de vida. As sociedades já foram rurais. A Revolução Industrial transformou essa situação. São Paulo não nasceu aquilo que é representado na fotografia noturna. A edificação que oficialmente marca o nascimento da cidade é bem simples e certamente a “lentidão” do tempo está ali, ainda que em seu entorno os arranha céus, o movimento do tráfego e o ensurdecedor barulho insistam em sufocá-la.

É quase o que ocorre em relação à cidade em que vivo, apenas existo e nela me locomovo, acesso a determinadas paragens e faço uso de seu sistema de transportes, tudo isso de modo “natural”, assim vou também fazendo parte daquilo que a cidade é.
Um abraço,
Prof.Gilberto