sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"U2 e a Filosofia", Coletânea de Mark A. Wrathall

Quando comecei a leitura deste livro, alguns colegas, professores de Filosofia, “torceram o nariz”, não sei se para os autores, ou para a Editora, sei lá...


Bom, eu li e gostei. Conheci um pouco mais da banda e de suas opções... Confesso que sou fã do U2, mas é aquela coisa... A maioria de nós pouco sabe o que dizem as letras de suas músicas... Mas o que mais interessava numa leitura desse tipo era mesmo o suposto conteúdo filosófico.

Posso dizer que não me arrependi... Aqui estou publicando um pouco de minhas impressões sobre a primeira parte... O primeiro capítulo é o mais enfocado nessas linhas que seguem.

Trata-se de uma coletânea. Vários autores escrevem sobre as letras das músicas do U2 e suas relações com os temas filosóficos... Claro que essa abordagem não pode deixar de contextualizar as personalidades de cada membro da banda e suas opções políticas e religiosas. Você pode dizer que esse pessoal que escreveu o livro “forçou a barra” para encaixar filosofia nas letras de uma banda de sucesso e de engajamentos políticos...

Em minha modesta e limitada opinião, os autores conseguem desenvolver o objetivo mais ou menos exposto acima. As reflexões vão girando em torno de certos (previsíveis) temas: amor, existência de Deus, conflitos humanos em realizar-se espiritualmente em uma realidade repleta de elementos materiais (muitas vezes supérfluos) oferecidos cotidianamente... As origens irlandesas da banda mereceram especial atenção... As críticas e os incentivos às posturas dos integrantes do U2 vêm à tona, sobretudo os relatos do vocalista Bono, resgatados de entrevistas e outros livros sobre os moços.
Canções como New Year’s Day (abaixo segue uma antiga apresentação da banda) e With Or Without You são analisadas levando-se em consideração O Banquete, de Platão. Marina B. McCoy escreve o capítulo “Nós podemos ser um: Amor e transcendência platônica no U2”. Pode parecer pretensioso, mas tem a ver... A autora cita Platão para mostrar que as letras da banda em sua fase inicial têm alguma inspiração nos diálogos e discursos percebidos em O Banquete. É claro que o texto do filósofo é muito mais do que é apresentado por McCoy, mas o recorte que ela fez é, no mínimo, pertinente. Os trechos que fazem referências aos discursos de Aristófanes e de Sócrates são destacados pela autora. Há muitos anos li este texto... Vou retomá-lo inclusive por conta deste U2 e a filosofia...

Aqui é importante esclarecer alguns detalhes:

* Em O Banquete vários discursos são proferidos em honra do Deus Amor;
* O discurso de Aristófanes é carregado de humor (devemos levar em conta que era um autor de comédias), mas nos faz refletir sobre o modo como as pessoas estão em busca de sua “outra metade”;
* Aristófanes explica que num remoto tempo havia criaturas humanas que possuem membros duplicados, como se fossem “dois em um”, e que em determinado momento decidiram rebelar-se contra os deuses... A punição determinada por Zeus foi cortá-los ao meio, de modo que passaram a viver em busca de sua “outra metade” (em New Year’s Day Bono canta I... will be with you again – Eu... estarei com você de novo). “Mas seria um engano interpretá-la como uma canção apenas de amor romântico” (página 21), já que na composição há referências sobre a prisão de Lech Walesa e o domínio da ex-União Soviética na Polônia.
* Sócrates relata que os segredos do Amor lhe foram ensinados pela profetiza Diotima. Ela o ensinou que existe uma “escada do amor”... Isso é um pouco confuso. Então, de modo bem simples, podemos entender essa escada num sentido figurado, quer dizer, a escada permite alcançar lugares mais elevados... Num primeiro patamar está o amor que é produto da atração física, os agradáveis aspectos do ser amado (sua aparência, porte físico, postura...) satisfazem essa primeira escala... Diotima mostra que ansiamos por transcendência... No próximo patamar está o amor que percebe a beleza do “ser interior” daquele que é amado; assim, o que está apenas no nível do sensitivo já não satisfaz... E mais elevado ainda é o amor que leva ao interesse pela boa organização da sociedade da qual participamos... O amor, em seu mais elevado patamar, leva-nos a nos preocupar com a polis (a cidade)... Aquele que verdadeiramente ama, anseia por uma melhor condição a todos a sua volta.
Em “Nós podemos ser um: Amor e transcendência platônica no U2”, Marina B. McCoy relata a busca da banda por essa realização... A canção I still haven’t found what I’m looking for nos remete a isso… Mas eu ainda não encontrei o que estou procurando.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Leia: U2 e a Filosofia. Editora Madras.

Trecho de show do U2:



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