quarta-feira, 3 de julho de 2019

“Os Direitos Humanos”, de Ari Herculano de Souza – conteúdo de fragmento da reportagem de “O Globo”, de 6 de fevereiro de 1987, “uma noite na fila; muita frustração pela manhã”; pais e mães na luta por vagas para os filhos em escolas públicas do Rio de Janeiro

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/07/os-direitos-humanos-de-ari-herculano-de.html antes de ler esta postagem:

Para as reflexões sobre o sexto direito básico das pessoas, o autor selecionou um recorte de “O Globo”, de 6 de fevereiro de 1987. A matéria jornalística “Uma noite na fila; muita frustração pela manhã” é a respeito da tentativa de mães e líderes comunitários de conseguirem vagas em escolas públicas para as crianças em idade de ingresso e de continuidade no chamado Ensino Fundamental.
A fotografia que estampa o início da reportagem dá conta de uma realidade que se repetia a cada início de ano nas escolas públicas: uma alta demanda não atendida pelo pequeno número de vagas no sistema público de ensino. Vemos muitos pais e crianças numa fila para acesso à secretaria da Escola Municipal Gomes Carneiro, localizada na Avenida Cesário de Melo. Na legenda lemos que “A maioria não conseguiu vagas para os filhos”.
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O texto de “O Globo” cita o endereço da escola, que na época atendia crianças de 1ª à 4ª série (período escolar que correspondia ao Ensino Primário), e destaca que o clima entre as mães era de “revolta e insatisfação”. Vemos que o prédio escolar foi rodeado por umas 150 pessoas. A maioria teve de retornar para casa sem conseguir matricular os filhos... Pelo cronograma divulgado, o dia 5 de fevereiro havia sido reservado para a matrícula de “irmãos de alunos, para as crianças isentas de obrigatoriedade escolar em 1986 e os beneficiados pelas prioridades legais”.
A senhora E. de B. da Silva, por exemplo, havia chegado à escola no dia anterior por volta das 18h... Ela e a filha deixavam o local às 10h30 sem obterem o registro. Aos prantos, a mulher disse à reportagem que não sabia o que fazer porque as vagas para a 1ª série já haviam sido preenchidas. Outra senhora, V. M. Farias, chegou à escola com duas crianças e permaneceram por doze horas na fila. A empregada doméstica manifestou à reportagem que não teria como pagar escola para os filhos se não conseguisse vagas em outra escola pública.
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As pessoas haviam recebido senhas... Mas obviamente esse expediente não garantiu vagas para todos os interessados e parece que tampouco trouxe ordem e lisura ao atendimento.
Na dianteira da fila, várias mães demonstraram irritação e até xingaram a diretora da unidade escolar (o nome da gestora é citado pelo fragmento). A senhora R. da Costa mostrou a senha 31 e disse que a mesma lhe havia sido entregue durante a noite. Ela não escondeu sua indignação ao saber que as vagas tinham sido esgotadas pouco antes de chegar a sua vez. Desabafou que a diretora havia favorecido seus conhecidos, que tiveram a permissão de “furar a fila”. Costa vociferou contra as injustiças sofridas pelas demais mulheres que também haviam passado a noite toda sem dormir.
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A reportagem ouviu ainda uma professora que não quis se identificar. Ela esclareceu que anteriormente trabalhara em uma escola de tempo integral (CIEP – Centro Integrado de Educação Pública*) e disse que o processo para “selecionar as crianças” era revoltante, já que “as mais carentes acabam não conseguindo estudar”.
O senhor Hélio Cardoso, que na época presidia a Associação de Moradores do Cesarão (um conjunto residencial) explicou que as dificuldades das crianças em relação ao estudo já começavam pela carência de escolas.
Bem perto da associação havia um CIEP (na mesma Cesário de Mello), onde foram abertas apenas cinquenta inscrições para a 5ª série e outras sete para a 7ª série. O presidente da Associação de Moradores do Conjunto São Fernando, Manoel Monteiro disse à reportagem que buscava vagas para as duas filhas e outras nove crianças da comunidade.
O líder comunitário explicou que seu bairro se localizava há dez quilômetros dali, mas a única escola destinada às crianças do nível do Segundo Grau (5ª à 8ª série) estava depredada, então restava tentar obter vagas em escolas mais afastadas.

                   * projeto desenvolvido pelo célebre antropólogo Darcy Ribeiro e colocado em prática durante os governos de Leonel Brizola, que havia sido eleito governador do estado do Rio de Janeiro nas eleições de 1982.

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Mais à frente, na mesma Avenida Cesário de Melo, a reportagem chegou ao CIEP Três Pontas e constatou a presença de duas mulheres com seis crianças sob o forte sol das 11h... Disseram que pretendiam “matricular os garotos”... à equipe de “O Globo”, o segurança da unidade informou que “as matrículas tinham sido encerradas no dia 24 passado”.
Leia: Os Direitos Humanos. Editora Do Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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