Para as reflexões sobre o sexto direito básico das pessoas, o autor selecionou um recorte de “O Globo”, de 6 de fevereiro de 1987. A matéria jornalística “Uma noite na fila; muita frustração pela manhã” é a respeito da tentativa de mães e líderes comunitários de conseguirem vagas em escolas públicas para as crianças em idade de ingresso e de continuidade no chamado Ensino Fundamental.
A fotografia que estampa o início da reportagem dá conta de uma realidade que se repetia a cada início de ano nas escolas públicas: uma alta demanda não atendida pelo pequeno número de vagas no sistema público de ensino. Vemos muitos pais e crianças numa fila para acesso à secretaria da Escola Municipal Gomes Carneiro, localizada na Avenida Cesário de Melo. Na legenda lemos que “A maioria não conseguiu vagas para os filhos”.
(...)
O texto de “O Globo” cita o endereço da escola, que na
época atendia crianças de 1ª à 4ª série (período escolar que correspondia ao
Ensino Primário), e destaca que o clima entre as mães era de “revolta e
insatisfação”. Vemos que o prédio escolar foi rodeado por umas 150 pessoas. A
maioria teve de retornar para casa sem conseguir matricular os filhos... Pelo
cronograma divulgado, o dia 5 de fevereiro havia sido reservado para a
matrícula de “irmãos de alunos, para as crianças isentas de obrigatoriedade
escolar em 1986 e os beneficiados pelas prioridades legais”.
A senhora E. de B. da Silva, por exemplo, havia
chegado à escola no dia anterior por volta das 18h... Ela e a filha deixavam o local
às 10h30 sem obterem o registro. Aos prantos, a mulher disse à reportagem que
não sabia o que fazer porque as vagas para a 1ª série já haviam sido
preenchidas. Outra senhora, V. M. Farias, chegou à escola com duas crianças e
permaneceram por doze horas na fila. A empregada doméstica manifestou à
reportagem que não teria como pagar escola para os filhos se não conseguisse
vagas em outra escola pública.
(...)
As
pessoas haviam recebido senhas... Mas obviamente esse expediente não garantiu
vagas para todos os interessados e parece que tampouco trouxe ordem e lisura ao
atendimento.
Na dianteira da fila, várias mães demonstraram
irritação e até xingaram a diretora da unidade escolar (o nome da gestora é
citado pelo fragmento). A senhora R. da Costa mostrou a senha 31 e disse que a
mesma lhe havia sido entregue durante a noite. Ela não escondeu sua indignação
ao saber que as vagas tinham sido esgotadas pouco antes de chegar a sua vez.
Desabafou que a diretora havia favorecido seus conhecidos, que tiveram a
permissão de “furar a fila”. Costa vociferou contra as injustiças sofridas
pelas demais mulheres que também haviam passado a noite toda sem dormir.
(...)
A
reportagem ouviu ainda uma professora que não quis se identificar. Ela
esclareceu que anteriormente trabalhara em uma escola de tempo integral (CIEP –
Centro Integrado de Educação Pública*) e disse que o processo para “selecionar
as crianças” era revoltante, já que “as mais carentes acabam não conseguindo
estudar”.
O
senhor Hélio Cardoso, que na época presidia a Associação de Moradores do
Cesarão (um conjunto residencial) explicou que as dificuldades das crianças em
relação ao estudo já começavam pela carência de escolas.
Bem perto da associação havia um CIEP (na mesma Cesário de
Mello), onde foram abertas apenas cinquenta inscrições para a 5ª série e outras
sete para a 7ª série. O presidente da Associação de Moradores do Conjunto São
Fernando, Manoel Monteiro disse à reportagem que buscava vagas para as duas
filhas e outras nove crianças da comunidade.
O líder comunitário explicou que seu bairro se localizava
há dez quilômetros dali, mas a única escola destinada às crianças do nível do
Segundo Grau (5ª à 8ª série) estava depredada, então restava tentar obter vagas
em escolas mais afastadas.
* projeto
desenvolvido pelo célebre antropólogo Darcy Ribeiro e colocado em prática
durante os governos de Leonel Brizola, que havia sido eleito governador do
estado do Rio de Janeiro nas eleições de 1982.
(...)
Mais à frente, na mesma Avenida Cesário de Melo, a reportagem
chegou ao CIEP Três Pontas e constatou a presença de duas mulheres com seis
crianças sob o forte sol das 11h... Disseram que pretendiam “matricular os
garotos”... à equipe de “O Globo”, o segurança da unidade informou que “as
matrículas tinham sido encerradas no dia 24 passado”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/07/os-direitos-humanos-de-ari-herculano-de_4.html
Leia: Os
Direitos Humanos. Editora Do Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto