quinta-feira, 11 de julho de 2019

“Os Direitos Humanos”, de Ari Herculano de Souza – fragmentos do recorte de reportagem da Revista “Isto É”, de 20 de março de 1985 sobre a arriscada perseguição aos caminhões de dejetos da Companhia Siderúrgica de Volta Redonda; perigosa e desumana caça aos restos industriais; trechos de depoimento do bispo Waldir Calheiros a respeito do cotidiano dos “borreiros”

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/07/os-direitos-humanos-de-ari-herculano-de_9.html antes de ler esta postagem:

O décimo Direito Básico do Ser Humano é o “Direito ao Trabalho e Remuneração Dignos”...
Para a problematização e reflexão dessa temática o autor selecionou um fragmento de reportagem da Revista “Isto É”, de 20 de março de 1985.
Na seção “Sociedade”, a revista trazia a matéria “Homens na escória – dezenas de desempregados vivem em Volta Redonda do lixo da Companhia Siderúrgica”. Uma fotografia ilustrativa mostra um grupo de jovens correndo atrás de um enorme caminhão... Vê-se que os moços pretendiam acessar sua grande caçamba.
(...)
A reportagem explica que os caminhões carregavam dejetos e que, ao passarem pelo trecho de divisa entre os municípios de Volta Redonda e Barra do Piraí, na Rodovia BR-393 (que liga Barra Mansa-RJ a Três Rios-MG), eram perseguidos pelos mais jovens. A tarefa a que se submetiam logo no começo do dia era das mais arriscadas, pois o tráfego de ônibus, caminhões e automóveis mantinha-se intenso na estrada.
No trecho de divisa há a ponte que atravessa o Ribeirão do Inferno. A partir desse ponto os motoristas dos caminhões costumavam acelerar... Talvez porque soubessem que mais à frente se escondiam “dezenas de vultos negros, como renitentes fantasmas da noite, estranhos à manhã ensolarada” dispostos a arriscarem a vida...
De fato, as criaturas saíam das moitas e se lançavam na direção dos pesados veículos.
Segundo o texto jornalístico:

                   “Os vultos – jovens entre 15 e 25 anos -, com as roupas sujas de lama preta, sem se importar com os carros que se aproximam em altas velocidades, avançam em direção ao caminhão basculante. Correndo e berrando lançam suas enxadas na carroceria e escalam os quase 3 metros de altura da caçamba e tomam de assalto sua carga”.

(...)
Essa cena se repetia diariamente há muitos anos, desde as 7h30 até às 16h30, inclusive aos domingos e feriados!
Os caminhões deixavam a usina com os resíduos industriais e seguiam para os lixões e aterros. Muitos dos rapazes que se arriscavam eram ex-funcionários da própria usina... Entre eles havia também os que sequer tinham idade para se empregarem, mas sabiam da “precisa carga” através de seus pais ou outros parentes trabalhadores da siderúrgica e de empresas prestadoras de serviço.
Uma vez que chegassem à caçamba, tratavam de cavar...

                   “a lama negra dos rejeitos do ferro, procurando os melhores pedaços de ‘borra’ – resíduo de ferro misturado com impurezas – ou algum pedaço esquecido de ferro, antes que o caminhão despeje seu carregamento no aterro sanitário”.

No aterro ou no “lixão” sempre havia centenas de outras pessoas que não tinham condições de escalar o caminhão em movimento... Esses eram principalmente mulheres, crianças e homens mais velhos... Todos eles também cobertos de lama escura e sempre a investigar os dejetos em busca de pedaços de ferro menos valiosos.
Na época, o bispo de Volta Redonda era Waldir Calheiros, que contava 62 anos. De acordo com a revista, ele era dos poucos que se mostravam preocupados com as condições da gente pobre que vivia daquelas impurezas e era costumeiramente chamada de “borreiros”.
À reportagem, o religioso sentenciou:

                   “Parece que a escória da indústria é jogada junto com a escória da cidade”.
                   “Eles são os verdadeiros garimpeiros do lixo” (...) “São gente honesta, que procura sobreviver sem roubar”.

Leia: Os Direitos Humanos. Editora Do Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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