O décimo Direito Básico do Ser Humano é o “Direito ao Trabalho e Remuneração Dignos”...
Para a problematização e reflexão dessa temática o autor selecionou um fragmento de reportagem da Revista “Isto É”, de 20 de março de 1985.
Na seção “Sociedade”, a revista trazia a matéria “Homens na escória – dezenas de desempregados vivem em Volta Redonda do lixo da Companhia Siderúrgica”. Uma fotografia ilustrativa mostra um grupo de jovens correndo atrás de um enorme caminhão... Vê-se que os moços pretendiam acessar sua grande caçamba.
(...)
A reportagem explica que os caminhões carregavam dejetos e
que, ao passarem pelo trecho de divisa entre os municípios de Volta Redonda e
Barra do Piraí, na Rodovia BR-393 (que liga Barra Mansa-RJ a Três Rios-MG), eram
perseguidos pelos mais jovens. A tarefa a que se submetiam logo no começo do
dia era das mais arriscadas, pois o tráfego de ônibus, caminhões e automóveis
mantinha-se intenso na estrada.
No trecho de divisa há a ponte que atravessa o Ribeirão
do Inferno. A partir desse ponto os motoristas dos caminhões costumavam
acelerar... Talvez porque soubessem que mais à frente se escondiam “dezenas de
vultos negros, como renitentes fantasmas da noite, estranhos à manhã ensolarada”
dispostos a arriscarem a vida...
De
fato, as criaturas saíam das moitas e se lançavam na direção dos pesados
veículos.
Segundo o texto jornalístico:
“Os
vultos – jovens entre 15 e 25 anos -, com as roupas sujas de lama preta, sem se
importar com os carros que se aproximam em altas velocidades, avançam em
direção ao caminhão basculante. Correndo e berrando lançam suas enxadas na
carroceria e escalam os quase 3 metros de altura da caçamba e tomam de assalto sua
carga”.
(...)
Essa
cena se repetia diariamente há muitos anos, desde as 7h30 até às 16h30,
inclusive aos domingos e feriados!
Os
caminhões deixavam a usina com os resíduos industriais e seguiam para os lixões
e aterros. Muitos dos rapazes que se arriscavam eram ex-funcionários da própria
usina... Entre eles havia também os que sequer tinham idade para se empregarem,
mas sabiam da “precisa carga” através de seus pais ou outros parentes trabalhadores
da siderúrgica e de empresas prestadoras de serviço.
Uma vez que chegassem à caçamba, tratavam de cavar...
“a lama negra dos rejeitos do ferro,
procurando os melhores pedaços de ‘borra’ – resíduo de ferro misturado com
impurezas – ou algum pedaço esquecido de ferro, antes que o caminhão despeje
seu carregamento no aterro sanitário”.
No aterro ou no “lixão” sempre havia centenas de outras pessoas
que não tinham condições de escalar o caminhão em movimento... Esses eram
principalmente mulheres, crianças e homens mais velhos... Todos eles também
cobertos de lama escura e sempre a investigar os dejetos em busca de pedaços de
ferro menos valiosos.
Na
época, o bispo de Volta Redonda era Waldir Calheiros, que contava 62 anos. De
acordo com a revista, ele era dos poucos que se mostravam preocupados com as
condições da gente pobre que vivia daquelas impurezas e era costumeiramente
chamada de “borreiros”.
À reportagem, o religioso sentenciou:
“Parece
que a escória da indústria é jogada junto com a escória da cidade”.
“Eles
são os verdadeiros garimpeiros do lixo” (...) “São gente honesta, que procura sobreviver
sem roubar”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/07/os-direitos-humanos-de-ari-herculano-de_19.html
Leia: Os
Direitos Humanos. Editora Do Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto