O recorte de “Isto É” de 20 de fevereiro de 1985 selecionado para “Os Direitos Humanos” traz uma reportagem sobre atentado a um líder camponês do interior do estado de São Paulo, mais precisamente da cidade de Guariba, localizada há 360 quilômetros da capital e que naquela época contava 30 mil habitantes.
A liderança em questão era J. de F. Soares, então um jovem de 28 anos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas de Guariba e filiado à Central única dos Trabalhadores e ao Partido dos Trabalhadores.
(...)
Soares se destacara na condução das greves de bóias-frias que
agitaram a região e foram notícias nos principais jornais do país. A matéria
registra que na tarde da semana anterior à publicação da revista, ele foi
procurado no terreiro ao fundo do casebre onde vivia por dois tipos que se
identificaram como policiais...
Evidentemente a situação provocou desconfiança e o
rapaz tratou de exigir que os desconhecidos apresentassem suas credenciais.
Como resposta, ouviu que o que os haviam enviado não exigiu documentos. Para
mais intimidá-lo, sacaram revólveres que traziam escondidos por baixo das
camisas.
O
líder sindical acompanhou-os por alguns metros, mas depois tentou fugir...
Enquanto corria tornou-se alvo de balaços disparados pelos tipos. Soares caiu
atingido de raspão no pescoço. Os agressores trataram de fugir enquanto
familiares e companheiros se mobilizaram em seu socorro. Os médicos do Hospital
Regional da cidade constataram aliviados que o líder do movimento camponês não
corria risco de morte.
(...)
A partir do texto selecionado, o autor destaca que:
“Todo cidadão ou
todo grupo social tem direito de formar e participar de associações de classe,
de bairro, de defesa de seus interesses, bem como de reuniões livres dessas
associações.
Assim, por exemplo,
os trabalhadores têm o direito de criar e de participar de sindicatos livres;
os moradores de um bairro têm o direito de fundar uma associação para discutir
e reivindicar melhorias; os estudantes têm o direito de se associar em grêmios
estudantis, a nível da escola, e em órgãos estudantis a nível nacional”.
(...)
Como
se vê, também em relação a este direito básico podemos notar o desrespeito e a
afronta dos segmentos mais poderosos da sociedade contra a organização dos
menos favorecidos na luta por melhores condições de vida. O autor destaca que
governos ditatoriais impedem a organização do povo em associações e,
eventualmente quando permitem, atuam de modo a dominá-las e manipulá-las.
Assim, o povo não tem a menor chance de se manifestar com autonomia.
Há o direito de associação que pressupõe ainda os direitos
de manifestações, greves, protestos e reivindicações diversas. Pelo menos assim
deve ocorrer nas democracias.
(...)
Infelizmente constata-se cada vez mais que também este “direito
básico” vem sendo afrontado e anulado em nosso país tão marcado pelas desigualdades.
Semanalmente ocorrem atentados contra integrantes de associações de
trabalhadores (notadamente rurais) e suas manifestações. Muitos dos ataques resultam
em assassinatos. Nota-se que muitos formadores de opinião passaram a demonizar
os movimentos sociais e a grande imprensa os ignora ou os classifica como
criminosos.
A título de registro, o site jornalistaslivres.org
noticiou que no dia de ontem (18/julho/2019) ocorreu um “atropelamento
proposital” numa manifestação pacífica de trabalhadores “sem-terra” em
Valinhos. Um veículo em alta velocidade foi lançado pelo seu condutor contra os
manifestantes e atingiu L. F. da Costa, de 72 anos, que faleceu logo após ser socorrido.
Um jornalista da Rádio Noroeste que cobria o evento também foi atingido pelo
veículo, “também foi ferido e encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento da região”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/07/os-direitos-humanos-de-ari-herculano-de_88.html
Leia: Os
Direitos Humanos. Editora Do Brasil.
Um abraço,
Prof.Gilberto