quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – Gamaliel recebe os viajantes; aspecto geral de sua residência; Osânias e mais dois encontravam-se na sala do anfitrião

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_7.html antes de ler esta postagem:

Os animais trotaram sobre as lajes de uma viela deprimente... Tanto barulho fizeram que mendigos escondidos em nichos escuros vociferaram impropérios... Seus cães também latiram com ferocidade contra os estrangeiros.
Topsius e Teodorico prosseguiram até a velha muralha de Ezequiá... Num trecho em que ela encontrava-se mais deteriorada saltaram e, conforme avançaram, passaram por uma antiga cisterna seca. Do alto de suas montarias avistaram apenas lagartos adormecidos.
Uma rua de considerável extensão os levou a passar por muros tingidos a cal... Das portas exalava o alcatrão. Na parte mais alta havia uma entrada em arco... Via-se “uma grande baixa de arame que a defendia dos escorpiões”.
Teodorico logo entendeu que aquela era a “entrada nobre” da casa de Gamaliel...
(...)
Os dois chegaram a um grande pátio revestido de ladrilhos... No centro havia um limoeiro que fazia sombra num tanque de águas claras. A construção ao redor era avarandada e estava silenciosa. Via-se que o teto era de um azul brilhante. De alguns pontos da área coberta pendiam tapetes assírios com bordados floridos.
Havia um moinho doméstico num dos cantos. Um negro marcado por cicatrizes diversas fazia girar a grande pedra. Este tipo calçava ferraduras e puxava as cordas da barra do mecanismo tal como os animais utilizados em tais funções.
Numa das portas apareceu outro tipo que segurava uma vara de marfim. Este se destacava pela obesidade e pelo rosto escanhoado... Vestia uma túnica amarelada que até se confundia com sua pele... Tinha as pálpebras caídas que pouco permitiam que se notassem seus olhos.
Topsius foi logo desmontando... No mesmo momento perguntou ao criado sobre o amo da casa... O tipo disse que eles podiam entrar... Teodorico notou que sua fina voz lembrava o silvo de uma cobra.
Subiram uma rica escadaria com patamares de granito escuro... Chegaram a um recinto onde dois candelabros em bronze lembravam troncos desfolhados. Diante dessas peças estava Gamaliel.
(...)
A respeito desse conhecido de Topsius, pode-se dizer que era bem alto e magro... Tinha uma barba solta que descia ao peito, mas bem tratada e perfumada.
Gamaliel estava com um turbante branco ornamentado de fios de pérolas. Ele tinha um pergaminho que parecia enfaixar a testa. A tira continha textos sagrados e logo se via que ele era um religioso sério e convicto.
Sua túnica azul era longa e chegava mesmo a cobrir-lhe as sandálias. Outros fragmentos de pergaminho contento textos sagrados estavam costurados na altura de sua manga.
Topsius o saudou à moda egípcia, fazendo descer a mão à altura dos joelhos... Gamaliel abriu os braços e respondeu que deviam entrar, pois eram bem-vindos. Disse-lhes que podiam se alimentar e regozijar.
(...)
Os dois estrangeiros seguiram o dono da casa até uma sala onde havia outros três homens.
Um deles estava à janela e virou-se para recebê-los. Teodorico afirma que o tipo era de uma beleza singular... Tinha cabeleira castanha bem cuidada que envolvia o “pescoço forte, macio e branco como um mármore coríntio”. Na altura da cintura, sua túnica era ornamentada por uma faixa com pedrarias. Ela sustentava uma bela espada com empunhadura em ouro.
Outro era um que estava acomodado no divã. Ele era claro, calvo e gordo... Prendia duas almofadas debaixo dos braços... Nem se pode dizer que tivesse feito algum gesto de acolhida aos recém-chegados.
Todavia Topsius sabia bem quem era aquele... Não foi por acaso que só faltou beijar-lhe os sapatos de couro amarelo e amarrados com fios de ouro. Tratava-se do venerando Osânias, “da família pontifical de Beotos, ainda do sangue real de Aristóbolo”.
O terceiro era um que nem chegou a notar a entrada dos viajantes. O tipo estava acomodado num canto onde, agachado, fechava o próprio rosto no capuz de sua túnica de linho claro... Parecia compenetrado e em profunda oração. Em raros momentos ele se movimentava para limpar as mãos numa toalha branca e de fino pano. A grossa corda que trazia amarrada à cintura fez Teodorico o comparar aos monges ascetas.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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