Jovens músicos sopravam trompas triunfais.
Os peregrinos galileus continuaram a avançar em meio ao povaréu acampado... Vinham com a cabeça coberta por peças pontiagudas... Os homens tinham longas barbas trançadas e vários deles traziam ferramentas cortantes.
Depois apareceram respeitosos levitas com seus cajados. Eles abraçavam “rolos da lei”...
De repente as atenções de todos se voltaram para um velho que estava à beira da estrada... O homem dançava de modo empolgado... Agitava as pernas como se ainda tivesse a energia dos mais jovens e, como não trazia um turbante à cabeça, seus cabelos esvoaçavam.
Atrás desse velho estavam umas moças que também dançavam enquanto tocavam arpas e tamborins... A maioria dos que acompanhavam a movimentação entoaram “o velho canto das jornadas rituais e os salmos de peregrinação”: “Meus passos vão todos para ti, ó Jerusalém! Tu és perfeita! Quem te ama conhece a abundância!”.
Teodorico emocionou-se e também proferiu umas palavras em honra à Jerusalém santa, o “palácio do Senhor”.
(...)
A caravana
prosseguiu...
Muitos peregrinos
traziam cordeiros brancos que seriam entregues para sacrifício... Havia entre
eles vários doentes que buscavam a cura na cidade santa. Enfraquecidos
fisicamente, contavam com o auxílio dos mais fortes, que os carregavam às
costas.
As mulheres levitas com
suas vestes sóbrias sacudiam sobre burricos... As mais pobres caminhavam.
Via-se que levavam frutos e grãos de aveia nas dobras de seus mantos.
Todos os que chegavam
foram saudados e inquiridos a respeito dos parentes que permaneceram em suas
searas... Um velho atirou-se contra o solo logo que recebeu a notícia sobre o
roubo da pedra de seu moinho.
Depois passaram muitas mulas que transportavam toras de madeira e
azeite. O chacoalhar dos guizos presos a esses animais produzia estardalhaço
que chamava a atenção dos que se posicionavam à beira do caminho.
Por fim vinha um bando de fanáticos... Esses se juntaram à grande
caravana em Netfagé e Refraim... Caminhavam enquanto se livravam de cabaças que
atiravam para todos os lados. Tendo esgotado o vinho pelo caminho, os tipos
estavam visivelmente embriagados, exibiam pontiagudas adagas e gritavam
palavras de ordem contra os samaritanos.
(...)
Topsius voltou ao alto do monte onde reinavam os
cedros. Instalou-se novamente sob o maior deles e preferido das pombas...
Teodorico chegou logo depois a tempo de observar o momento em que a multidão pôde
avistar a formosa Jerusalém.
Na sequência, o
delírio...
Os
cânticos elevaram-se... Orações e gritos de êxtase puderam ser ouvidos à
distância. A maioria atirava-se ao chão enquanto os instrumentos de sopro e de
percussão enchiam os ares de sons.
Mulheres erguiam os filhos pequenos como se estivessem ofertando-os ao
Senhor. Em contraste com a agitação da maioria, alguns permaneceram
imobilizados... Certamente estavam cheios de admiração com tanto esplendor.
Os
mais velhos e experientes apontavam para os terraços do grande templo e também
indicavam os locais sagrados que todos ali conheciam de sua tradição
religiosa... E havia muito a mostrar aos mais novos: a porta de Efraim, a torre
das Fornalhas, o túmulo de Raquel...
A euforia era das
mais intensas... Mesmo assim não podiam deixar de cambiar as moedas que traziam
pelo cordeiro que ofertariam ao sacrifício em honra do Onipotente.
Aos
poucos, os dois estrangeiros perceberam que as fumaças que ladeavam o altar
engrossavam significativamente enquanto braços magros eram erguidos em louvor.
(...)
Teodorico abandonou a
visão espetacular da entrada da massa em Jerusalém assim que, bem perto dele,
surgindo detrás de uma oliveira, um tipo que vestia túnica amarelada posicionou-se
sobre uma pedra e gritou aos peregrinos da Galileia e de Neftali remanescentes.
Não foram poucos os
que se posicionaram à sua volta erguendo bastões... Mulheres também saíram das
tendas para conferir o que estava acontecendo...
O
homem agitava sua espada ao mesmo tempo em que alertava a todos que Rabi
Jeschoua havia sido preso e fora conduzido à casa de Hanão.
(...)
Topsius
agitou-se ao ouvir as últimas palavras do recém-chegado... Puxou Teodorico a um
canto e disse que “o Homem foi preso, e compareceu já diante do Sanedrim!”
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto