quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – liderados por Sareias, o indignado grupo de judeus correu para Rabi Robã; Pilatos aprece para a improvisada audiência e dá a entender que não tinha motivos para punir o “visionário” da Galileia

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_26.html antes de ler esta postagem:

Houve certo tumulto na galeria...
Grande quantidade de fariseus intolerantes se dirigiu ao banco onde o Rabi Robã havia se instalado... Topsius e Teodoricus resolveram se juntar à turba e encontraram o velho conversando com Manassés enquanto acariciava a cabeleira loura da criança que o acompanhava.
(...)
Sareias era o porta-voz do grande grupo. Com determinação, dirigiu-se ao Rabi dizendo que era necessário falar com o pretor... Este papel cabia a ele! Os demais repetiram que Rabi Robã tinha de conversar com Pilatos para “salvar a lei” e “salvar Israel”.
Aos poucos o velho se levantou... Todos silenciaram... Sua figura lembrava a de “um grande Moisés”. Um dos levitas o adulou dizendo que ele era “justo, sábio, perfeito e forte diante do Senhor”.
Rabi Robã abriu as mãos e as levantou. Em sinal de respeito, o grupo se curvou... Foi como se aqueles homens entendessem que o espírito de Deus “tivesse descido para encher aquele coração justo”.
Não houve pronunciamento. Os fariseus viraram-se e caminharam na direção da porta de cedro... O Rabi Robã seguiu-os de mãos dadas com a criança.
(...)
O pretoriano guardava disciplinarmente a porta... Conforme as pessoas se aproximaram, cruzou a lança diante do peito. Depois acionou as argolas de prata que pendiam da grossa madeira... Gonzos rangeram e logo um tribuno palaciano apareceu para conferir o que estava acontecendo.
A porta abriu-se e revelou a sala do interior. Ela era pouco iluminada e tinha as paredes cobertas por estuques escuros. No centro estava a estátua do imperador... Nos cantos havia dois tocheiros em bronze, e era deles que provinha a parca luminosidade.
Os judeus não entraram... Todos os presentes sabiam bem que em época pascal não se pisava em solo pagão. Foi Sareias quem tomou a frente e comunicou ao tribuno que “alguns da nação de Israel” aguardavam que o pretor viesse até eles.
O tribuno se retirou e o ambiente foi tomado de silêncio... Depois de pouco tempo, os dois lictores surgiram e logo atrás estava Pilatos com sua formosa toga. Todos se curvaram brevemente. O pretor parou junto à estátua e “estendeu a mão que segurava um pergaminho enrolado”.
Pilatos os saudou com o costumeiro “que a paz seja convosco e com as vossas palavras”... Sareias, o vogal do Sanedrim, deu uns passos à frente e pôs-se a falar garantindo que os corações de todos os que vinham até ele estavam repletos de paz.
Sareias foi direto ao assunto... Disse que o pretor havia deixado o julgamento sem uma confirmação ou anulação da sentença de condenação do Sanedrim ao Réu Jesus-bem-José... Depois usou de metáfora para explicar a ansiedade que os dominava... Disse que se sentiam como aquele que “vê a uva na vinha, suspensa, sem secar e sem amadurecer”.
(...)
Para o Teodorico que registra as memórias, Pilatos tinha o aspecto dos que se esforçam para se mostrarem justos... Se pretendia mostrar-se sensato, ao mesmo tempo parecia faltar-lhe lucidez.
Ele disse que havia interrogado o preso e que não encontrou nenhuma culpa que o levasse, como procurador da Judeia, a puni-lo... Emendou que Herodes Antipas, “rei da Galileia”, prudente, forte e praticante da lei (e que além do mais orava no templo de Jerusalém), também o interrogara e não viu dolo algum.
Pilatos explicou que o Réu dizia coisas incoerentes... Tratava-se de um sonhador... Ele não era um criminoso sanguinolento... Nenhuma acusação de roubo à propriedade alheia pesava contra Ele. Não havia como puni-lo a partir da lei imperial romana!
O homem era apenas um “visionário”! Foi isso o que o pretor quis dizer.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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