terça-feira, 26 de dezembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – interrogatório conduzido pelo pretor; agitações em meio ao público de fariseus e funcionários do templo; humildade e dignidade do Rabi ante os insultos; o que é a verdade?; burburinho e fanatismos; Sareias inflama os que querem a punição; Gade esperançoso


Boas festas a todos...

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_25.html antes de ler esta postagem:

A intervenção de Gade, com seu grito que partiu de um ponto obscuro no meio da concentração de pessoas, pareceu algo isolado... Mesmo assim Sareias interrompeu sua falação furiosa, aquietou-se, permanecendo de pé e na mesma posição em que estava quando finalizou seu ataque ao Rabi.
O escriba romano também estava de pé e com os punhos sobre a mesa... O assessor sorria, mas mostrava-se atento ao que ocorria. Todos sabiam que havia chegado o momento de o pretor dar início aos questionamentos que julgasse pertinentes.
Logo um soldado empurrou Jesus para que se adiantasse em relação aos outros dois réus. Pilatos inclinou-se com as mãos abertas e O fitou... Na sequência quis que Ele respondesse se era mesmo o “rei dos judeus”. Emendou que seus compatriotas O trouxeram àquele tribunal, então queria saber o que Ele fizera de errado, onde afinal ficava o reino que Ele comandava.
O interprete repetiu em hebraico a fala do pretor para que todos os presentes entendessem... Como Jesus permaneceu em silêncio, o tradutor repetiu as palavras na “fala caldaica” que era usada na Galileia... Depois disso, o Réu adiantou-se um pouco e pronunciou com voz “clara e segura” que seu reino não era “daqui”.
Como que a formatar um raciocínio lógico, Jesus prosseguiu dizendo que, se por vontade de seu pai, Ele fosse o Rei de Israel, jamais O levariam àquele tribunal com as mãos amarradas... Então, evidentemente, Seu reino não era desse mundo.
No meio dos que se aglomeravam, alguém gritou que (já que assim era) Ele devia ser retirado desse mundo... Isso foi como que faísca a acender um rastilho, pois na sequência os fariseus e os funcionários do templo passaram a vociferar que o Réu devia ser crucificado.
A gritaria prosseguiu... O interprete disse em grego ao pretor o que exigiam em “língua siríaca” (falada por todo povo da Judeia).
Pilatos reagiu batendo o mármore do piso com suas botas militares... Os dois lictores ergueram o estandarte que trazia a figura da águia... O nome do imperador Caio Tibério foi gritado pelo escriba... Depois disso os que estavam agitados baixaram os braços e cessaram a gritaria.
Lentamente, Pilatos retomou o seu interrogatório... Deu a entender que precisava saber mais a respeito do Rabi... Ele se dizia rei, então o que viera fazer em Jerusalém?
Jesus respondeu que viera a este mundo para “testemunhar a verdade” e que todo aquele que a desejasse (que quisesse pertencer à verdade) teria de escutá-Lo.
(...)
O Teodoricus (do sonho interminável de Teodorico) que acompanhava o episódio desde a galeria entendeu que o Réu havia sido brilhante em suas palavras... Talvez se perguntasse como uma figura de aspecto tão humilde podia encarar com tanta dignidade aquela dramática situação.
(...)
Pilatos mostrou-se pensativo... Depois de breve instante voltou a inquirir... Então quis saber do Homem da Galileia “o que é a verdade?”
Jesus não respondeu... Os que ocupavam as dependências do Pretório permaneceram em silêncio... O questionamento parecia ter suscitado incertezas em todos.
A atmosfera marcou a retirada do pretor...
Pilatos recolheu sua grande toga e depois desceu os degraus de bronze... Os lictores se prepararam para abrir o caminho que o conduzia ao interior do palácio. O assessor romano o seguiu e logo a comitiva desapareceu dos olhares dos que estavam no pátio.
(...)
Enquanto os legionários saudavam a autoridade batendo suas lanças nos escudos, iniciava-se a repercussão no meio da multidão... Isso provocou um sussurro “áspero e ardente” como o de “abelhas irritadas”.
Os cochichos ocorriam aqui e ali... Sareias procurava atrair a atenção dos fariseus enquanto agitava o báculo e defendia suas ideias num discurso improvisado.
A um canto, um velho de manto negro percorreu o pátio chegando aos locais onde vendedores anunciavam o pão ázimo e alguns tipos dormiam experimentando o calor do sol... O homem anunciava que Israel estava perdido. Talvez em reação àquelas palavras, alguns levitas fanáticos mostraram-se irritados e puxaram as franjas de suas túnicas...
Gade podia ser visto sentenciando que o pretor era justo e que certamente libertaria o Rabi. O essênio mostrava-se confiante e cheio de esperança... Dizia que depois de libertado, o Rabi deixaria aquela cidade de homens embrutecidos.
Gade partiria para Betânia, onde estavam seus companheiros armados... À noite seguiriam para o oásis de Engada. Jesus poderia acompanhá-los, pois os essênios eram seus irmãos... Assim como eles, “o Rabi pregava o desprezo dos bens terrestres, a ternura pelos que são pobres, a incomparável beleza do reino de Deus”...
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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