quinta-feira, 26 de outubro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – Paulo Pote, competente guia para a sequência da viagem até Jerusalém; caminho de belas paisagens; na tenda de um patriarca local; duas estrelas por referências

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/10/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_43.html antes de ler esta postagem:

Topsius contratou um guia...
Paulo Pote... Um tipo jovem de pele morena que conservava um longo bigode, vestia jaqueta e calçava botas brancas para montaria. Via-se que carregava duas pistolas e que protegia a cabeça com um lenço amarelo de seda.
Sobre este Paulo Pote, Teodorico registrou que se tratava de um camarada montenegrino alegre... Havia alegria em todos os seus gestos. Ele conhecia todas as paragens que interessavam aos romeiros. Desde Áscalon a Damasco, do Carmelo à Engada, na costa oeste do Mar Morto... O rapaz era conhecido como o Alegre Pote.
O primeiro contato foi de muito boa impressão. Pote ofereceu tabaco perfumado e o Raposo aprovou... Topsius logo se encantou com o conhecimento bíblico manifestado pelo guia. Assim, os recém-chegados sentiram-se  muito bem na companhia do competente rapaz. Ele os conduziu ao Hotel Josafate.
Enquanto preencheram os registros, se fartaram da cerveja local.
(...)
Pote organizou a saída para Jerusalém...
Seguiram em belas montarias. Uma delas foi destinada ao transporte das bagagens. Teodorico cuidou do pacote de papel pardo, escondendo-o num alforje...
Além do guia, um velho beduíno acompanhou-os servindo de escolta. Ele carregava uma lança antiga e tinha um albarnoz (manto de lã com capuz). A indumentária do velho árabe era de lã de camelo..
Logo que Topsius se acomodou em sua sela, Pote estalou o chicote e gritou “Avante, a Jerusalém; Deus o quer!” lembrando o antigo grito dos cruzados “e de Ricardo Coração-de-Leão. Saíram de Jafa no momento em que o “Hospício” dos Padres Latinos tocava o sino para as vésperas. Passaram pela porta do mercado e rumaram para a “Cidade do Senhor”.
Eça de Queiroz descreveu o trajeto com tantos detalhes que quase conseguimos “visualizar as paisagens”.
(...)
A estrada os conduziu por “jardins, hortas, pomares, laranjais, palmeirais, terra de promissão resplandecente e amável”... A atmosfera era de um encanto maravilhoso. O perfume das flores, o canto dos pássaros e o “cantar das águas” levaram Teodorico a pensar que Deus havia sido generoso com o povo escolhido.
A tarde avançou... Então a caravana parou junto a uma fonte. No local protegido por um sicômoro (uma figueira), havia uma estrutura de mármore. Entraram numa tenda ocupada por um árabe que os saudou em nome de Alá. O homem tinha a dignidade de um patriarca... Sobre um tapete estavam dispostos cachos de uvas e recipientes (malgas) com leite.
Beberam da cerveja. Teodorico achou-a amarga e sentiu sede. Uma jovem apareceu com um cântaro e serviu de sua água aos visitantes. O português não pôde deixar de notar a nudez da moça, que trazia os seios nus e argolas de ouro nas orelhas. Um cordeirinho branco que estava amarrado à ponta de sua túnica a seguia para toda parte.
(...)
Para o Raposo, a cena parecia remontar aos tempos bíblicos mais remotos... Essa sua sensação cresceu conforme avançaram pela planície de Sáron. Ele esclareceu em seus registros que a região é reconhecida pelos entendidos nos livros do Antigo Testamento (“Cântico dos Cânticos”)... Nos tempos do rei Salomão, o vale era fértil e florido.
Um pastor de cabras de pelagem preta arrebanhava seus animais conforme a tarde se tornava mais escura. Os chocalhos e a nudez do árabe (que lembrava um “São João” do deserto) chamaram a atenção dos estrangeiros.
O mais eram os distantes os montes da Judeia, o Mar de Tiro e a noite que se aproximava.
Prosseguiram durante a escuridão... Permaneceram firmes na direção de Jerusalém...
No céu, duas estrelas de brilho diferenciado pareciam guiá-los.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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