Carlos Alberto Lima Coelho (ver http://limacoelho.jor.br/index.php/O-medo-o-maior-gigante-da-alma/) apresenta O medo: o maior gigante da alma, outro belo texto de Fernando Teixeira de Andrade. Em seu último parágrafo podemos notar o “tempo de travessia”:
“O medo: o maior
gigante da alma”
Fernando Teixeira Andrade
Para quem tem medo, e a nada se atreve, tudo é ousado e perigoso. É o
medo que esteriliza nossos abraços e cancela nossos afetos; que proíbe nossos
beijos e nos coloca sempre do lado de cá do muro. Esse medo que se enraíza no
coração do homem impede-o de ver o mundo que se descortina para além do muro,
como se o novo fosse sempre uma cilada, e o desconhecido tivesse sempre uma
armadilha a ameaçar nossa ilusão de segurança e certeza.
O
medo, já dizia Mira Y Lopes, é o grande gigante da alma, é a mais forte e mais
atávica das nossas emoções. Somos educados para o medo, para o não-ousar e, no
entanto, os grandes saltos que demos, no tempo e no espaço, na ciência e na
arte, na vida e no amor, foram transgressões, e somente a coragem lúdica pode
trazer o novo, e a paisagem vasta que se descortina além dos muros que erguemos
dentro e fora de nós mesmos.
E se Cristo não
tivesse ousado saber-se o Messias Prometido? E se Galileu Galilei tivesse se
acovardado, diante das evidências que hoje aceitamos naturalmente? E se Freud
tivesse se acovardado diante das profundezas do inconsciente? E se Picasso não
tivesse se atrevido a distorcer as formas e a olhar como quem tivesse mil olhos?
"A mente apavora o que não é mesmo velho", canta o poeta, expressando
o choque do novo, o estranhamento do desconhecido.
Há
um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do
corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos.
Um abraço,
Prof.Gilberto