quarta-feira, 16 de setembro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – primeiro ato – o governador, “rei da imobilidade”, gostou de ver que o povo mantinha sua rotina; os alcaides mostraram que não é correto à gente do povo usar de ironia; os bêbados, em seu permanente estado etílico, não tinham como contemplar “paisagem imobilizada”; para uma localidade “sem história”, para que haveria de ocorrer mudanças?; um dos comediantes cai vitimado pela peste; o cura ordena que todos entrem na igreja e se arrependam

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/09/estado-de-sitio-de-albert-camus.html antes de ler esta postagem:

O Governador chegou à praça do mercado e encontrou os cidadãos na mais absoluta normalidade... Alegrou-se ao saber que tudo estava exatamente como se nada de anormal tivesse ocorrido... É verdade que um “homem do povo” dirigiu-lhe palavras irônicas, mas ele não se importou...
Pelo contrário! Emendou que, saber que para o povo tudo continuava “na mesma”, o deixava realizado... E sintetizou: “nada é bom quando é novo”.
(...)
Os alcaides que o acompanhavam certamente estavam encarregados de “vários afazeres administrativos”... Possuidores de “vasta experiência e sabedoria”, eles não deixaram de observar que o Governador não apreciava as ironias, sobretudo as que os mais pobres ousavam fazer (é claro que isso foi um recado não velado ao “homem do povo”)...  E concluíram: A ironia é “virtude destrutiva” e o Governador achava preferível que se cultivassem os “vícios que constroem”.
É claro... O Governador não queria nenhum tipo de mobilização no meio do povo... Ele mesmo garantiu que era o “rei da imobilidade”.
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Também os bêbados ouviram aquele festival de besteiras... À porta da taberna disseram que o Governador tinha razão. Mas eles lamentavam por só enxergarem “movimentação” em tudo... Também eles queriam a imobilidade, mas o seu estado de embriaguez impedia a quietude. Gritaram que tudo devia ser suprimido... “Menos o vinho e a loucura”.
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O coro cantou a felicidade do “nada ocorrer”... Tudo está em ordem! As estações não se atropelarão... Os astros seguem seu prudente curso... Aqueles de cabeleira em chamas e de perturbador uivar, que provocam conturbações celestes, estão condenados... O verão segue em sua plenitude, então o que importa mais? Todos devem se orgulhar por se sentirem felizes.
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Os alcaides procuraram granjear a simpatia de todos ao Governador... Disseram que também ele possui hábitos e não gosta das “cabeleiras loucas”... É por isso que todo o seu território “é bem penteado”.
O coro voltou a cantar sua mensagem... As vozes manifestaram que todos deviam permanecer prudentes... Todos têm certeza de que nada ocorrerá; nada mudará... Que vantagem haveria em se avistar qualquer tipo de fenômeno?
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Ninguém precisaria responder. Mesmo assim os bêbados que estavam juntos ao Nada disseram que o movimento deveria mesmo ser suprimido... Ninguém deveria sequer se mover... Para quê? E que bom se as estações também se tornassem imóveis! As horas passariam naquele país sem história e o “calor permanente” continuaria a “nos levar a beber”.
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Mas o que ninguém esperava era o retorno do zumbido que anunciava o cometa... O som agudo tornou-se quase que ensurdecedor...
Duas fortes pancadas são ouvidas ao fundo. Todos em cena adotam fisionomia de espanto... Do tablado, onde os artistas encenavam o seu “ato sacro do imortal Pedro de La Lariba: Os Espíritos”, um dos comediantes desceu cambaleante em direção à aglomeração... O jovem caiu e todos silenciaram e se tornaram imóveis... Mas logo disparam e cercam o tipo.
Diogo se apressou na direção do ocorrido... Aos poucos o local onde o sinistro ocorreu fica à vista de todos os que assistem a Estado de Sítio. Dois médicos analisam o rapaz e discutem... Um dos rapazes da trupe quis saber o que estava acontecendo e insistiu para que os doutores esclarecessem a todos.
Este tipo sacolejou um dos médicos no afã de obter a explicação... Foi a custo que o de avental branco soltou o diagnóstico: “A Peste”.
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As pessoas se ajoelharam... Elas repetiam a palavra (peste)... No início sussurravam... Aos poucos aumentavam a intensidade até que passaram a gritar.
De repente ergueram-se e principiaram a circular cada vez mais rápido, inclusive em torno do Governador... Perambulavam e gritavam o nome da epidemia.
(...)
Uma potente voz fez com que todos se imobilizassem novamente... Era o velho padre que ordenava a todos que se dirigissem para a igreja... Disse que o castigo havia chegado... O Céu o enviara, e isso sempre ocorria “às cidades corrompidas”... A morte seria a sentença para os pecadores... As bocas mentirosas não teriam socorro, pois seriam esmagadas... Só o Deus da Justiça poderia perdoá-los... Então ninguém podia vacilar nem mais um minuto.
O cura ordenou que todos entrassem na igreja. Muitos, de fato, atenderam à recomendação... Outros, porém, permaneceram na praça a olhar para um e outro lado...
O “sino dos mortos” começou a badalar.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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