terça-feira, 15 de setembro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – primeiro ato – o astrólogo e suas previsões para a preocupada mulher; grupo de atores anima a praça do mercado; ciganos e outros negociantes; o vendedor de fitas; o governador aparece e ouve palavras irônicas de gente do povo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/09/estado-de-sitio-de-albert-camus-inicio.html antes de ler esta postagem:

Também na praça do mercado é possível notar uma tenda onde um astrólogo atende o pessoal que pretende conhecer o futuro, seus atropelos e realizações...
Vemos que ele está dando conselhos e fazendo revelações a uma mulher. O tipo parece dominar o zodíaco, pois fala com propriedade a respeito do signo de Balança e, levando em consideração o horário de nascimento de uma cliente, esclarece que o seu ascendente é Touro... Garante que ela se trata de pessoa “emotiva, afetuosa e agradável”... Adverte que Touro pode impedir que suas “preciosas qualidades” sejam bem aproveitadas, pois o signo predispõe a pessoa ao celibato... A “conjunção Vênus –Saturno”  tornaria indisposta ao casamento e aos filhos... Males poderiam afetar o seu ventre...
O astrólogo sugeriu que ela procurasse o sol e fizesse amizade com os tipos de Touro... Depois cobrou os seis francos da consulta... A mulher acertou sua dívida, mas insistiu em saber se tudo o que ouviu era verdadeiro... Ele respondeu que sempre confiava no que afirmava, todavia advertiu que “nada havia ocorrido pela manhã”, e que “o que não se passou” poderia perturbar seu horóscopo... De modo algum se responsabilizava “por aquilo que não aconteceu”.
A mulher se despediu e ele prosseguiu anunciando os seus serviços. Para si mesmo dizia que, se os cometas se intrometessem, restar-lhe-ia tornar-se governador.
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A um canto também podem ser notados ciganos que ditam suas adivinhações.
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O mercado continua agitado...
Sobre um tablado há um grupo de comediantes... Um deles anuncia o espetáculo aos que desejam entretenimento e podem pagar por diversão... Garante que os atores ali reunidos foram convencidos a deixar a corte para se apresentar naquela praça... Todos se divertiriam com o “ato sacro do imortal Pedro de La Lariba: Os Espíritos”, verdadeira “obra-prima universal”. A propaganda garantia que o próprio rei de Espanha exigia que representassem a peça duas vezes por dia! Estava claro que a gente de Cádiz não podia perder aquela oportunidade, então todos deviam se aproximar para o início do espetáculo!
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O evento teatral teve início, mas os que assistem a Estado de Sítio ouvem apenas os negociantes que anunciam seus serviços e mercadorias... Aqui um dentista, ali um vendedor de verduras, acolá um tipo quer exibir aberrações do tipo a “mulher-crustáceo; metade mulher metade peixe”!
Nada surge da taberna... Está completamente bêbado e provoca a todos... Proclama que tudo deve ser esmagado, inclusive os tomates... Pedro, o dentista, deve ter os dentes quebrados... A “mulher-crustáceo” deve ser devorada, e tudo o mais suprimido... Menos a bebida.
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Um mascate começou a gritar que tinha “fitas do cometa” para vender... As pessoas se agitaram porque sabiam da proibição de se falar de cometa ou de qualquer coisa que “valha a pena, cause alarme ou desordem”... Alertado a respeito, o homem começou a anunciar a “fita sideral”... Longa fila se organizou porque o interesse do público pela fita era grande.
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De repente todos iniciam uma gritaria... O som de música anunciou a chegada do Governador e sua comitiva ao mercado.
O homem saudou as pessoas... E manifestou sua alegria por ver que todos estavam em seus afazeres do cotidiano... Aquelas ocupações, sem dúvida, faziam a riqueza de Cádiz... O que havia de melhor era a certeza de que nada ocorrera... Mudanças o irritavam.
Alguém no meio do povo ousou dizer ao Governador que ele tinha razão, já que era certo que os finais de meses continuavam duros demais... As pessoas tinham apenas pão, cebola e azeitonas à mesa. A galinha ensopada era comida por outros aos domingos, e isso tinha de ser motivo para tornar a gente do povo contente.
Evidentemente há muita ironia nessas palavras...
O mesmo tipo prosseguiu afirmando que todos tinham sentido medo... Mas o seu pavor fora dissipado porque o Governador havia ordenado que “nada havia se passado”.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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